domingo, 31 de julho de 2016

Crítica: "MEU REI" (2015) - ★★★★


Hoje é meu último dia de férias. Agora é definitivo. Amanhã é dia de voltar à mesma rotina de sempre, os mesmos horários, as mesmas tarefas... Mas não posso reclamar de nada. Até porque, como sempre foi, tenho uma porrada de filmes pra ver. E quando a gente termina de ver essa porrada de filmes, chega mais outra porrada de filmes, lançamentos, clássicos, recomendações, inéditos que a gente vai descobrindo na internet, e por aí vai. O número cresce a cada dia. Bem, vamos lá. Estou aqui para falar de Meu Rei, o mais novo filme da cineasta francesa Maïwenn (diretora de Políssia), que estreou ano passado em Cannes e lá levou o prêmio de Melhor Atriz, entregue a Emmanuelle Bercot, a protagonista do longa, que por sinal está impecável. 

Em Meu Rei, Bercot interpreta uma advogada chamada Tony, que se apaixona por Georgio, um charmoso e engraçado que logo se revela um completo cafajeste. O filme se divide em dois planos: o acidente de esqui sofrido por Tony e sua estadia num spa fisioterapêutico, e as lembranças de sua relação tempestuosa cheia de altos e baixos com Georgio. A forma com a qual o filme trata desse relacionamento, explorando-o minuciosamente e expondo as fraquezas e os desafios do casal, focando no ponto de vista da personagem Tony, abalada e sufocada pelos problemas conjugais e pela instabilidade da relação, é potente e interessantíssima.

As performances de Emmanuelle Bercot e Vincent Cassel (ambos estão excelentes, em especial a Bercot) intensificam a consistência do retrato que o filme se dispõe a mostrar do desgaste da relação de seus personagens com o passar do tempo, isso levando em conta que os dois estão primorosos. Não é exagero dizer que são dois dos atores mais competentes e talentosos do cinema francês na atualidade. Aliás, o Vincent Cassel, reconhecido internacionalmente, muita gente já sabe que é um ator fenomenal. A surpresa foi com a Emmanuelle Bercot, atriz pouco conhecida e que também é uma diretora excepcional (ela é quem dirigiu o magistral De Cabeça Erguida, que abriu o Festival de Cannes ano passado). A interpretação dela é, sem sombra de dúvidas, a melhor coisa de Meu Rei. Ela está absolutamente fantástica, uma das melhores atuações dos últimos anos. 

Emmanuelle transmite com perfeição ao espectador os anseios e as angústias de Tony, que passa por maus bocados nas mãos de Georgio, seu amor incondicional. Enquanto ela está sendo sufocada, pressionada, destruída emocionalmente e dolorosamente estraçalhada psicologicamente pelo seu relacionamento com o homem, ela também se sente confusa, perdida, descontrolada, porque ainda sente amor por aquele cara imprestável e que só a maltrata amorosamente. São sentimentos profundos, que ela não consegue esconder e que vai aos poucos a consumindo e desolando. 

O amor é uma coisa extremamente frágil, difícil de ser compreendida, capaz de nos botar nas situações mais inesperadas, de dor, de loucura, de prazer, de satisfação, de perdição. É algo incontrolável, insuperável. No mesmo nível que nos torna mais alegres e contentes, é capaz de nos derrubar e aniquilar. E o filme de Maïwenn exibe isso com uma perspicácia notável e habilidade. O amor é cego, bipolar, cruel, irresistível, um cafajeste. E fazer o quê quando a gente é surpreendido por esse sentimento tão indescritível e fatal? O amor prega peças, é capaz de fazer muitas coisas com o coração e a cabeça da gente.

Os momentos mais engraçados do filme são protagonizados pelo Vincent Cassel, que é ótimo com humor. Na companhia dele, a personagem da Bercot não para de rir por um minuto. E isso ajuda a gente a compreender o lado da Tony, o amor dela pelo cara, já que a gente se simpatiza com o homem e suas atitudes bobas e carinhosas de amor que tanto atraem a Tony. Ela carrega a relação nas costas, passa por poucas e boas, até que a certo ponto não consegue suportar mais os abusos do marido e decide largar tudo, mas depois se redime e retorna aos braços dele. Ele é o único que a faz feliz. E que também a magoa e entristece.

Em seu quarto longa-metragem como diretora, Maïwenn, também atriz, é caprichosa e talentosa, deixa a sua marca e exibe seu talento. Dirigido por ela, é o primeiro filme que vejo, se bem que ela também é bastante conhecida por Políssia, que também conta com a Bercot, e que ganhou o prestigiado Prêmio do Júri em Cannes em 2011. Eu lembro que vi o DVD desse filme faz uns dois anos no mercado e quase levei, mas bobeei e decidi não comprar. Enfim, Meu Rei é um dos melhores filmes do ano. É bem-feito, esmerado, profundo e maravilhosamente brilhante, um filme certamente bastante difícil de se esquecer. Destaque para o desempenho versátil de Emmanuelle Bercot e a direção firme e original de Maïwenn.

Meu Rei (Mon roi)
dir. Maïwenn - 

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Crítica: "FOGO NO MAR" (2016) - ★★★★


Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, o documentário italiano Fogo no Mar, o quinto do documentarista italiano Gianfranco Rosi, que também já ganhou o Leão de Ouro em Veneza há três anos por Sacro GRA, chegou nos cinemas nacionais bem antecipado. Pegou muita gente de surpresa, já que não é muito comum vermos tamanha consideração por parte de distribuidoras nacionais com produções independentes ou estrangeiras, o que já é um avanço. Há quem diga que a vitória de Fogo no Mar em Berlim esse ano tenha sido inesperada, mas compreensível. 

Ao explorar questões políticas e sociais de repercussão internacional através de uma brilhante abordagem objetiva, bem como (centralmente) a migração dos africanos para o continente europeu, Fogo no Mar acumula pontos. Aliás, curiosamente, trata-se de um trabalho bastante imprevisível, de caráter anti-convencional, fugindo de padrões e de clichês "esperáveis" de um documentário sobre a crise dos migrantes na Europa (se bem que eu não vi nenhum outro filme do Gianfranco antes), o que é bastante arriscado até para um documentário, que corria riscos de cair na incoerência ou se perder na temática. 

É um filme de sequências imponderáveis, de proporções inesperadas, o que intensifica e amplifica o impacto, a reação do espectador e, consequentemente, o interesse e a comoção pelo material mostrado. Gianfranco Rosi prova com Fogo no Mar o poder e a simplicidade de seu cinema documental. 

Ele investiga cuidadosamente a migração na Ilha de Lampedusa, o "portal" de entrada dos migrantes para a Europa. Lá, os índices migratórios batem recordes. Não me lembro ao certo, mas há um número gigantesco de pessoas que migram rumo ao continente europeu por Lampedusa, e um número igualmente chocante de pessoas que morrem tentando migrar (no começo do filme, há uma pequena introdução-resumo sobre a migração em Lampedusa).

O documentário vai alternando entre cenas caóticas e angustiantes dos bastidores da migração e o cotidiano de um pré-adolescente italiano na ilha e seus moradores, com suas vidas pacatas e desaceleradas. A edição aleatória reforça a proposta de reinvenção documental. Carregado de uma importância tanto cinematográfica quanto política avassaladora, Fogo no Mar merece ser conferido por um bocado de motivos. Sua relevância e qualidade ímpares tornam-o um filme necessário, ainda mais em tempos turbulentos como esses.

É uma experiência eletrizante e ao mesmo tempo dolorosa para o espectador. A guerra, a falta de oportunidades, a miséria e a fome fazem com que vários arrisquem suas vidas buscando algo melhor. E poucos conseguem o que tanto sonham. É uma realidade dura e escassa, onde impera a injustiça. Algo tem que ser feito. Medidas devem ser tomadas. Será que ninguém vê o sofrimento dessas pessoas? Elas só estão tentando sobreviver. Elas não podem continuar se arriscando dessa forma. É simplesmente um absurdo.

Fogo no Mar (Fuocoammare)
dir. Gianfranco Rosi - 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Crítica: "DREAMGIRLS: EM BUSCA DE UM SONHO" (2006) - ★★


Dreamgirls esbanja glamour e brilho, não economiza no luxo e nem na ambição. É um filme de proporções gigantescas e tecnicamente irretocável, mais ambicioso ainda. O 5º filme de Bill Condon como diretor, Dreamgirls, é um show de luzes, cores, vozes, gritos, danças, jazz e, é claro, ambição. Muita ambição. É tanta ambição que isso acaba virando seu pior problema. Dreamgirls está bem longe de ser um grande filme. Não se pode negar que é tecnicamente excepcional, mas nem se formos considerar todo o glamour e a perfeição técnica do filme ele consegue ficar minimamente bom. 

A primeira parte de Dreamgirls até consegue enganar e encantar, mas o sucesso dura pouco. Passam-se os minutos e o filme azeda, fica chato, insuportável. Assistir vira uma tortura. Chega a ser estranho o filme ter recebido tantos prêmios e tanta aclamação, sendo tão escabroso e de difícil digestão. Os pontos altos de Dreamgirls limitam-se a certas preciosidades como a performance louca, exagerada e ainda sim extremamente marcante e excelente da talentosíssima Jennifer Hudson, e os mimos técnicos quase irresistíveis, ainda que percam o valor com o passar do filme, tornam a sessão minimamente interessante de se ver.

Em outros momentos, é lastimável. Dreamgirls é uma decepção. E olha que estamos falando de um musical dirigido pelo roteirista de Chicago, um autêntico exemplar do gênero pra lá de fenomenal e bom. Chances Dreamgirls tinha. Mas é muito, muito chato, desgastante, confuso, apelativo e exacerbado.

Beyoncé não sabe atuar. Nada justifica os elogios e os prêmios (inclusive 1 indicação ao Globo de Ouro, prêmio que competiu ao lado de grandes atrizes do naipe de Meryl Streep e Annette Bening) que a cantora pop recebeu pela performance meia-boca em Dreamgirls. De longe, é a mais fraquinha do elenco. A revelação Jennifer Hudson está potente. Aliás, eu nunca mais vi ela nos filmes. Sumiu. Eddie Murphy, que chegou bem perto de ganhar o Oscar (bem perto mesmo -- o ator até conquistou Globo de Ouro, SAG e Critics Choice, os "passaportes" para o Oscar), que perdeu para Alan Arkin. O Eddie está numa atuação boa, mas já esteve em melhores. Como o filme é muito chato, a esforçada performance dele fica sem brilho, retida, eclipsada pela má qualidade da produção.

Ficção (dizem que é vagamente baseado na carreira da Diana Ross), Dreamgirls relata a trajetória de um grupo de cantoras (as Dreamettes) a chegada da fama e os conflitos que surgem entre as cantoras. Francamente, o roteiro é uma bela duma porcaria, a direção é mediana, as canções são melosas e desagradáveis. E essa duração? Olha, não deu pra engolir. Obrigado pela fotografia charmosa, pelas coreografias chamativas e pela Jennifer Hudson. Fora isso, é difícil encontrar algum atrativo em Dreamgirls. É um fiasco!

Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (Dreamgirls)
dir. Bill Condon - 

sábado, 23 de julho de 2016

Crítica: "É O AMOR" (2015) - ★★★★


Minhas férias esse ano passaram voando. Só tenho a semana que vem para aproveitar e descansar e depois voltarei à ativa. Não sei se conseguirei assistir tudo o que eu estava planejando ver em uma semana, mas, enfim, o bom é que ainda tenho um tempinho para relaxar antes de retornar à rotina. Sinto que não fiz absolutamente nada de novo nessas férias. Tive um tempo pra descansar e ver alguns filmes que queria, mas eu sinto que passou muito rápido. Não queria que fosse desse jeito, tão passageiro e fugaz. Mas, como sempre, a vida continua, e lamentar o tempo perdido não adianta em nada. Bem, foi ontem à noite que me deparei com esse trabalho peculiar, embora fascinante, do pouco conhecido cineasta francês Paul Vecchiali. Aliás, É O Amor é o 1º filme de Paul que vejo. Confesso que achei um filme interessantíssimo e com uma trama fértil e deliciosamente sensacional. 

O filme trata de sentimentos, de personagens com problemas amorosos bem como o medo, a insatisfação, o desejo e a peculiaridade que habita em cada um deles. É um filme intrigante, de percepção aguçada, olhar próprio e distinto. O cinema de Paul Vecchiali é sui generis, inédito, e ao mesmo tempo estratégico e complexo. Uma coisa é certa: Vecchiali merece atenção e respeito. É O Amor é repleto de cenas absurdamente marcantes e originais. O elenco é talentosíssimo, cada performance digna de nota. É O Amor é um filme basicamente essencial à sua maneira. Esquecê-lo ou simplesmente ignorá-lo seria quase um crime. 

O filme começa com uma sequência aparentemente trivial, um diálogo entre um homem e sua esposa que estão em crise. A discussão que os dois mantém logo vai se intensificando mas não de maneira agressiva ou espalhafatosa, e sim num diálogo de ritmo constante, invariável. Quase não se nota alteração na voz dos atores, mesmo quando a mulher diz ao marido que desconfia que ele a esteja traindo, como se ambos já tivessem passado por aquele momento, repetidamente e várias vezes. Ela diz que começará a trai-lo com outro homem, e sua reação é imutável. Um diálogo bastante esquisito e inerente, pra ser franco.

Comédia romântica? Comédia dramática? É difícil encaixar É O Amor em um gênero. O que por si só já explica o motivo deste ser um filme tão exótico, inusual, único. Por mais incrível que pareça, é um filme bastante cativante e por vezes engraçado. Tem até um segmento musical, vejam só, que acaba sendo uma das melhores cenas do filme (a mãe boêmia de Odile relembrando os velhos tempos como cantora de cabaré e suas aventuras amorosas). 

O título do filme já diz tudo. O amor nos consome, nos alegra e nos entristece, nos machuca e nos salva, brinca com o nosso coração, mexe com a nossa cabeça, bagunça os sentimentos e a nossa vida. É o amor. O amor faz tudo isso com a gente e muito mais. É O Amor explora esse lado selvagem e incontrolável do amor, de bagunçar com a nossa vida e abalar as nossas certezas. Não chega a ser romântico. É sobre amor, afeto, sentimento, o quem nem sempre chega a ser romântico. 

Uma experiência única é assistir a É O Amor. Um filme diferente, notório, peculiar, e que transmite um estranho misto de curiosidade e surpresa em quem vê. Inesperado, digamos, mas agradável e fantástico. Um exemplar autêntico de cinema de qualidade. Paul Vecchiali também dirigiu Noites Brancas no Píer, que chegou aos cinemas ano passado no Brasil. Ainda não vi, mas pelo que disseram na época do lançamento parece ser um filmaço.

É O Amor (C'est l'amour)
dir. Paul Vecchiali - 

Adeus, GARRY MARSHALL (1934 - 2016)


Faleceu na última terça-feira (19) aos 81 anos o cineasta Garry Marshall, diretor de filmes como Uma Linda Melhor, O Diário da Princesa, Um Salto para a Felicidade e outros, além de ter sido bastante aclamado e celebrado na TV, área em que começou a sua carreira como roteirista há mais de meio século. Garry tinha sido internado por conta de uma pneumonia e seu estado agravou-se. 

Antes de se estabelecer como diretor de cinema na década de 90, Garry tinha trabalhado como roteirista, ator e diretor de diversos programas na televisão americana. Estão entre seus créditos de roteirista os títulos Fuzileiro das Arábias, The Lucy Show, The Dick Van Dyke Show, O Jogo Perigoso do Amor, The Odd Couple, Angie, Mork & Mindy (estrelando Robin Williams, quando o ator ainda não trabalhava com cinema), Happy Days entre outros seriados de sucesso. Não é por acaso que foi indicado por cinco vezes ao prestigiado Emmy, considerada a honraria maior da TV norte-americana. 

Sua estreia no cinema deu-se em 1982, com o filme Médicos Loucos e Apaixonados (com Sean Young e Michael McKean). Veio a dirigir, anos depois, Amigas para Sempre, considerada uma das produções mais populares e queridas pelo público americano dos anos 80, e que inclusive recebeu 1 indicação ao Oscar na categoria Direção de Arte. Em 1990, veio o sucesso com Uma Linda Mulher, considerada sua obra-prima por muitos. O filme rendeu a Julia Roberts reconhecimento internacional e a primeira indicação da atriz ao Oscar, e uma vitória no Globo de Ouro. 

E não foi só Julia Roberts que teve o privilégio de ser revelada por ele. Em 2000, Garry deu fama à Anne Hathaway em O Diário da Princesa, o 1º longa-metragem da cultuada intérprete, e sucesso de bilheteria. O último filme de Garry foi O Maior Amor do Mundo, lançado em maio desse ano. Descanse em paz, Garry Marshall!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

3 COMÉDIAS + 1 DOCUMENTÁRIO + 1 FILME SOBRE CULINÁRIA


Roman Polanski: A Vida em Filmes (Roman Polanski: A Film Memoir)
dir. Laurent Bouzereau - 

Já havia sido feito, e recentemente, um documentário sobre o querido cineasta polonês Roman Polanski (Roman Polanski: Procurado e Desejado, de Marina Zenovich, ano: 2008). Este Roman Polanski: A Vida em Filmes, lançado um tempinho mais tarde, em 2011, se baseia numa premissa um pouco diferente da versão de 2008. Andrew Braunsberg, produtor (Muito Além do Jardim, O Inquilino) e grande amigo de Polanski, é recebido na casa do cineasta na Suíça, onde ele cumpriu pena depois de ter sido preso em 2009, e o documentário se instala numa conversa entre Polanski e Braunsberg sobre a trajetória e a carreira do diretor. Trata-se de um dos documentários mais interessantes que eu vi de uns tempos pra cá, se bem que eu não ando vendo muitos documentários ultimamente. Enfim, é certamente um filme fascinante e interessantíssimo. E, para fãs do Polanski como eu, Roman Polanski: A Vida em Filmes é obrigatório. Achei muito curioso quando o Andrew perguntou qual era o filme que o Polanski considerava ser o melhor dele e ele disse que era O Pianista, que, de fato, é um dos melhores trabalhos dele. Aliás, O Pianista, apesar de ser a biografia de Władysław Szpilman, tem um toque autobiográfico por parte do Polanski, que experienciou de perto o terror e a agonia durante a guerra. Durante o documentário, ele fica emocionando inúmeras vezes, ao lembrar da família, do pai, que foi para um campo de concentração quando ele ainda era criança e quem ele milagrosamente reencontrou anos depois (Polanski chega a relatar que, depois que o pai foi levado pelos nazistas, vivia confundindo outros homens com ele, na esperança de ele continuar vivo), da ex-esposa Sharon Tate, que foi brutalmente assassinada às vésperas de dar à luz pela "família Manson" em 1969. Polanski teve uma vida muito difícil. Surpreendentemente, a carreira dele começou no rádio, beirou o teatro, até que ele se firmou no cinema, como um figurante, depois fazendo curtas, até se tornar o grande diretor que é, dono de alguns dos melhores filmes já feitos, como Chinatown, A Faca na Água, O Pianista, Tess, O Bebê de Rosemary, Repulsa ao Sexo, entre outros. Visto na Netflix (17/07).


Julie & Julia
dir. Nora Ephron - 

Há quem diga que Nora Ephron era a versão feminina do Woody Allen. Aclamada pelo trabalho de roteirista (indicada 3 vezes ao Oscar de Melhor Roteiro Original por Silkwood, Harry & Sally e Sintonia de Amor, não tendo vencido nenhuma vez, injustamente e infelizmente), e mais tarde celebrada como diretora (Sintonia de AmorMens@gem pra Você e Bilhete Premiado estão entre os filmes que Nora assina como diretora/roteirista), Nora nos deixou cedo demais, há quatro anos. Muito triste. Julie & Julia foi o último trabalho da talentosa Nora tanto como diretora e roteirista. Não é a obra-prima dela, mas é um filme encantador. Eu diria que é quase como um feel-good, daqueles de adoçar o nosso imaginário e dançar valsa com nossas emoções. A irretocável Meryl Streep entrega uma performance deliciosa, apaixonante, brilhante, no ponto, tudo o que se espera de uma atuação dela: um espetáculo. Amy Adams, que de talentosa tem de sobra, também não está nada mal na pele de uma blogueira, Julie, que escreve sobre culinária e que idolatra a cozinheira Julia Child, sua musa e inspiração. O filme se equilibra em dois planos, o da Julie e o da Julia, duas mulheres se aventurando no mundo da culinária e compartilhando diversas coincidências e acasos, embora sejam separadas pelo tempo. O roteiro é fenomenal. Stanley Tucci e Chris Messina ganham espaço como coadjuvantes. Não dá pra reclamar de Julie & Julia. Visto em DVD (dia 24/06).


Para Maiores (Movie 43)
dir. vários - 

Ô filmezinho ruim da bexiga! Quer dizer, ruim é pouco. Para Maiores é uma porcaria de filmes. Simplesmente um lixo. Entraria fácil numa lista de "piores filmes já feitos". É aquele tipo de filme que só os idiotas gostam. Aliás, é uma ofensa ao paladar fílmico das pessoas idiotas dizer que esse é o tipo de filme que lhes agrada. Para Maiores é um filme baixo, muito baixo. Quase odiável. A reunião de um elenco realmente invejável (Naomi Watts, Kate Winslet, Hugh Jackman, Emma Stone, Halle Barry, Liev Schreiber, Anna Faris, Chris Pratt, Richard Gere, Jack McBrayer, Uma Thurman, Katrina Bowden, Bobby Cannavale, Chloë Grace Moretz, Gerard Butler, Terrence Howard, Elizabeth Banks, e por aí vai). Na verdade, o filme é uma reunião de curtas (taí o porquê do elenco gigantesco) de diferentes diretores que os filmaram ao longo de um certo tempo para esse projeto. E, mesmo assim, isso não justifica a escolha dos atores, já que cada sequência é mais ridícula e menosprezível que a outra. Seria dinheiro? Pouco crível, já que o financiamento foi relativamente baixo (tá na cara porque ninguém quis produzir isso). Seria por entretenimento? Improvável, já que de divertido Para Maiores não tem é nada. Seria pela arte? Impossível. É vergonhoso e inútil. Dá vergonha de assistir a uma porcaria dessas. Repugnante, na mais franca das hipóteses. Visto na Netflix (16/07).


O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty)
dir. Joel Coen, Ethan Coen - ★★★

Os irmãos Coen são gênios. Apesar de estar longe de estar entre os melhores filmes da dupla, Amor a Todo Custo é um exemplar veemente de competência e vigor dessa incansável dupla que de filmes bons tem a filmografia lotada. George Clooney vive um advogado que come na mão de uma mulher manipuladora caçando o marido "ideal". É um de seus trabalhos mais divertidos e tenazes. Os desempenhos de Catherine Zeta-Jones e George Clooney são imperdíveis. Mesmo sendo um filme mais incomum , não deixa de ser caprichadíssimo, em especial a fotografia de Roger Deakins, sempre pulsante. O Amor Custa Caro fascina pela originalidade. Cativante, sem deixar de ser profundo. Leve, sem deixar de ser preciso. Engraçado, sem ser imaturo. Irônico, sem ser desrespeitoso. Mais uma vez, os Coen mostram que dominam o gênero comédia e são bons no que fazem. Não há razão para ser tão subestimado e ignorado. A crítica pisoteou e desperdiçou o filme. Uma pena, pois é excelente, e merecia ter um reconhecimento à altura. Visto na internet (24/06).


Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World)
dir. Lorene Scafaria - ★★

Este eu estava devendo ver há um tempão. Na época em que o descobri, ano passado, fiquei extasiado quando soube que nele Steve Carell, um comediante que eu considero um cara fenomenal, e Keira Knightley, uma das atrizes mais bonitas e talentosas dos últimos anos, estavam contracenando. A história também é bastante curiosa. Um homem (Carell) é abandonado pela namorada, e pra completar o fim do mundo se aproxima. Ele e a vizinha (Knightley) decidem resolver alguns assuntos pendentes juntos, e partem em uma viagem bastante excêntrica enquanto um meteoro se aproxima da Terra. É um filme que tem seus pontos positivos mas que é extremamente maçante. A dupla Keira e Steve é sensacional. Inconvencional e ocioso, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo tem seus momentos, mas é, na maior parte do tempo, desgastante e supérfluo. Visto na Netflix (11/06).

Crítica: "VISITA OU MEMÓRIAS E CONFISSÕES" (2015) - ★★★★★


"É um filme meu sobre mim próprio. Talvez não se devia fazer um filme assim mas, enfim, está feito." - Manoel de Oliveira sobre Visita ou Memórias e Confissões

Filmado em 1982 (quando Manoel tinha 74 anos) e lançado ano passado, pouco tempo após a morte do diretor em abril, Visita ou Memórias e Confissões, o filme-testamento do mestre do cinema português Manoel de Oliveira é, primeiro de tudo, um presente cinematográfico inestimável. A proposta é mirabolante. sensível, cativante. Sua grandeza é maravilhosa. Seu significado vem acompanhado de uma riqueza absolutamente tenra. Sua beleza é transcendental. Manoel de Oliveira foi um gênio, um "homem de cinema", como ele mesmo se descreve em Visita ou Memórias e Confissões, um de seus trabalhos mais carinhosos e versáteis. 

Com pouco mais de 60 minutos de duração, Visita ou Memórias e Confissões é o registro pessoal de Manoel sobre a sua casa e sua família, seu casamento dentre outras mais experiências que teve durante a sua vida, como sua prisão durante o regime fascista em Portugal na década de 70. "É um filme de Manoel de Oliveira sobre Manoel de Oliveira", enfim. Um casal (vozes de Diogo Dória e Teresa Madruga) encontra uma casa aparentemente sem ninguém, casa essa a de Manoel de Oliveira, e passam a caminhar pelos cômodos e examinar o espaço ao redor. Algum tempo depois, surge Manoel de Oliveira, e nos explica que a sua casa foi vendida, para que ele pudesse pagar algumas dívidas pendentes, e nos concede o privilégio de explorar um pouquinho de seu acervo fílmico particular, onde vemos rápidas filmagens antigas e algumas fotos. 

Nos resta o prazer em assistir a um filme tão comovente e particular como este. Manoel de Oliveira e suas perspectivas e filosofias de vida intensificam a emoção e o deleite de quem vê. É raro encontrar um material cinematográfico à altura de Visita ou Memórias e Confissões, tão tocante e profundo que chega a ser um fenômeno. 

O que dizer da sequência em que o diretor nos transporta para um set de filmagens? Ou então ao depoimento de sua esposa, Maria Isabel? Visita ou Memórias e Confissões é cheio de momentos triunfais e memoráveis, e isso faz dele um autêntico monumento cinematográfico e um filme essencial para quem aprecia o diretor. 

Visita ou Memórias e Confissões
dir. Manoel de Oliveira - 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Crítica: "À BEIRA MAR" (2015) - ★★


Vão por mim: a única coisa que faz o novo filme de Angelina Jolie digno de ser visto é, sem dúvida, a fotografia charmosa e deslumbrante de Christian Berger. À exceção disso, é praticamente impossível fazer elogios a À Beira Mar. E pensar que muita gente, inclusive eu mesmo, mal podia segurar a ansiedade pelo novo projeto da atriz, que muitos especulavam ser a "grande obra" dela. Alguns atores-diretores (vá lá, Warren Beatty, Woody Allen, Mel Gibson, George Clooney, entre outros nomes) foram bem-sucedidos. As coisas saíram errado para Angelina Jolie. À Beira Mar, seu 3º longa na direção, é um filme com uma premissa interessante e que tinha tudo para ser um grande filme. É um desastre, infelizmente.

Aliás, um filme no mínimo bom é o que a Jolie nos devia depois do fiasco que foi Invencível, seu detestável longa anterior que foi tão superestimado a ponto de ser indicado a 3 Oscars ano passado (o que os votantes tinham na cabeça, hein?). Não cheguei a ver o primeiro, Na Terra do Amor e Ódio, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 2012. Soube que ela já está preparando um novo filme que deverá ser lançado pela Netflix ainda neste ano (First They Killed My Father: A Daughter of Cambodia Remembers). Rithy Panh produziu o filme, que está em fase de pós-produção. Será que finalmente teremos algo bom com a Angelina Jolie dirigindo?

Não vou negar: no começo, até que estava gostando um pouco de À Beira Mar, afinal, a gente nunca pode adivinhar se um filme é realmente ruim antes de vê-lo inteiro. Passou um tempo, e a ficha caiu. O filme começou a azedar, e eu comecei a ficar enjoado. A linda fotografia de Berger, que comandou a fotografia magistral de A Fita Branca, começa a perder a intensidade. Rapidamente, o filme perde a graça, e o contracenamento do casal Jolie e Pitt começa a ficar absurdamente chato. Não me levem a mal, as performances não estão ruins, mas o problema é que está fora do ritmo, fora de sintonia.

Não demora muito e o meu único desejo era de que o filme acabasse logo ali, mesmo faltando mais de uma hora para seu término. Jolie assume uma direção fraquíssima, uma performance desequilibrada, a ponto de tornarem seu filme um desperdício de tempo. Volta e meia me questionava o porque dela ter feito aquele filme. "Será que ela está em crise com o Brad?", "O que será que ela quer metaforizar?", "Será que ela só queria gastar dinheiro?", "O que diabos ela quer passar?". Eu terminei o filme sem descobrir esse mistério. Porque a Angelina fez esse filme enjoado e sem pé nem cabeça?

De qualquer maneira, quaisquer foram os motivos para que Jolie se dedicasse a À Beira Mar, o resultado é desastroso. Aos primeiros minutos, não há quem negue que há um pouco de charme e sofisticação, mas o encanto perde-se com o decorrer dos tediosos 120 minutos de filme. Como eu disse no começo do post, À Beira Mar promete agradar a quem procura uma fotografia esbanjando beleza a cada frame, mas no fundo é um filme vazio e parado.

À Beira Mar (By the Sea)
dir. Angelina Jolie Pitt - 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crítica: "A LULA E A BALEIA" (2005) - ★★★★


E aos poucos Noah Baumbach vai me conquistando. O primeiro filme dele que vi foi o razoável Enquanto Somos Jovens, que pra mim é perfeitamente definido pela frase "é o que tem pra hoje", e que não me surpreendeu quase em nada, se formos levar em conta as expectativas. Já a segunda vez foi com Mistress America, um bocado melhor e mais divertido que o anterior. A Lula e a Baleia é o terceiro filme dirigido por Baumbach que vejo. E o melhor dos três. Confesso que não achava que ficaria tão maravilhado. Meu gosto por Noah Baumbach finalmente se elevou e agora estou mais interessado na filmografia do diretor. É intenso e suave, simples e completo, um filme de qualidade rara e magnífica.

Baumbach fascina no lugar do diretor e no lugar do roteirista. Antes um cineasta por quem eu nutria pouquíssima admiração, ele me fisgou com esse filmão. Seu cinema está no auge em A Lula e a Baleia. Despertou em mim uma imensa curiosidade em descobrir e degustar seus outros filmes, como Margot no Casamento e O Solteirão. A Lula e a Baleia é garantia de entretenimento e deleite. Mais que isso, é um singelo convite a acompanhar e conhecer Noah e seu cinema mais de perto e com (devida) atenção. E, a cada filme dele a mais que assisto, expõe-se seu talento inegável e sua marca de autor. Seu estilo é aconchegante e visionário, e faz dele um dos cineastas mais importantes do cinema contemporâneo.

A Lula e a Baleia é uma combinação autêntica de competência e riqueza fílmica. É uma oportunidade única de testemunhar as artimanhas do estilo cinematográfico de Noah Baumbach e suas pequenas, algumas quase imperceptíveis, obsessões narrativas geniais. Não me estranha o filme ter recebido logo uma (justa) indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2006. O roteiro é extraordinário. É unanimidade entre esses três filmes do Noah que vi: os roteiros sempre são fenomenais, caprichadíssimos. É quase como Woody Allen ou o Wes Anderson, camarada do Noah (e produtor do filme).

A Lula e a Baleia foca na crise familiar que se instala entre pais e filhos durante um período de divórcio. Laura Linney e Jeff Daniels estão sensacionais na pele do excêntrico casal Bernard e Joan, duas das melhores performances de suas carreiras. Não sou muito fã do Jesse Eisenberg, mas ele está excelente. A revelação do filme é Owen Kline. Embora eu admire bastante o Jeff Daniels, e ele esteja excepcional aqui, sinto um tantinho de curiosidade em saber como o Bill Murray, que foi cotado para o personagem na época, se sairia. 

Pela brilhanteza de Noah Baumbach, pelo elenco impecável, pelo humor, pela singularidade, pela fotografia exótica em 16mm de Robert Yeoman, pelas referências ao cinema francês e à Nouvelle Vague, pela atmosfera equilibrada e pelo ritmo vibrante, vale a pena ver A Lula e a Baleia. A compreensão do título não é de graça, e é aí é que está a graça dele. A Lula e a Baleia tem o visual de uma crônica culta e o espírito de um filme soberbo. Se um dia por acaso eu topasse com o Noah, lhe diria: "Obrigado por A Lula e a Baleia, cara!".

A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale)
dir. Noah Baumbach - ★★★★

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Adeus, HECTOR BABENCO (1946 - 2016)


Lamentável. Hector Babenco foi um cineasta de um legado gigantesco, uma lenda do cinema, de primeira grandeza. Aos 70 anos, vítima de uma parada cardíaca, Hector faleceu na noite desta quarta-feira, uma notícia mais que triste para quem é cinéfilo, e ainda mais pra quem é cinéfilo brasileiro, e que acompanhou de perto a trajetória do cineasta argentino que dirigiu vários filmes nacionais, alguns deles sendo considerados os melhores do nosso cinema - e com razão -, como o clássico O Beijo da Mulher-Aranha, indicado a 4 Óscares em 1986, incluindo filme e Direção para Babenco, e vencedor de 1 (Melhor Ator, William Hurt), e os aclamados Carandiru e Pixote, enaltecidos como pérolas do cinema nacional. Mas também já trabalhou e fez sucesso no exterior. Nos E.U.A., dirigiu Ironweed, com Meryl Streep e Jack Nicholson, e Brincando nos Campos do Senhor. Seu último filme, o autobiográfico Meu Amigo Hindu, com Willem Dafoe, abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ano passado e foi lançado esse ano no Brasil. Babenco foi mais que um cineasta, um poeta, um mestre. Obrigado, Hector. Vá em paz, meu amigo! 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Crítica: "SONHOS ERÓTICOS DE UMA NOITE DE VERÃO" (1982) - ★★


Fiquei sem internet por 5 dias. Sobrevivi, mas o blog ficou bem parado, e fui acumulando filmes sem escrever sobre eles. Bem, vou tentar compensar o tempo perdido nos próximos dias. Isso é, se a internet não dar pane, já que os caras agora em vez de cortarem a internet de uma vez estão reduzindo a velocidade, o que é ainda mais enervante. Será que eles fazem isso de propósito só pra estressar mais a gente? Enfim, vamos comentar o filme. Da semana passada pra cá, vi 4 filmes do Woody Allen, entre eles Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão (visto dia 8), que é um dos títulos menos conhecidos da filmografia dele. Apesar disso, mantinha altas expectativas quanto ao filme que, infelizmente, não é lá essas coisas, o que eu jamais esperaria de um filme dirigido por alguém como o Woody. À exceção de Scoop - O Grande Furo (texto 1; texto 2), que não tinha gostado muito da primeira vez, mas quando revi adorei, não me lembro de ter desaprovado dessa maneira um filme dele. Se bem que não vi todos. 

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão é o filme mais fraco da filmografia do Woody. Aliás, é fraquíssimo. Quase insuportável. Começa bem, mas se perde depois dos momentos iniciais. Acho que o Woody nunca fez um filme tão confuso como esse. É sobre três casais que vão passar o fim de semana numa bela casa no campo e acabam tendo aventuras amorosas entre eles fora das relações.

É o primeiro filme do Woody contando com a Mia Farrow, sua ex-mulher, que viria a estar presente em seus próximos 12 filmes (um total de 13, contando com esse). O papel de Ariel Weymouth, interpretada por Mia, inicialmente tinha sido designado a Diane Keaton, que o recusou por envolvimento em outros projetos. Também estão no elenco José Ferrer, Tony Roberts, Julie Hagerty e Mary Steenburger. Apesar de ser um ótimo elenco, em nada livram o filme do fracasso.

Chega a ser até irônico, já que tanto o filme que antecede e o que sucede este da filmografia do Woody são grandes filmes (Memórias e Zelig, respectivamente). São poucos os momentos engraçados (para uma comédia, digo). A fotografia de Gordon Willis até é um pouco mais inspirada, ainda que deixe a desejar em certos momentos. O título e a história referenciam a adorável clássica peça de Shakespeare, apesar de quase não serem feitas referências à obra durante a trama. Na verdade, faz tanto tempo que li a peça que algumas devem ter passado em branco, embora, talvez, o desenrolar da trama seja a referência mais notável, ainda que irregular.

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão é maçante, confuso, entediante, deselegante... Adjetivos que eu nunca pensei que usaria para definir um filme do Woody Allen. Tem certos momentos bons, mas, como eu disse são poucos. É um filme de menos de uma hora e meia que parece que tem quatro. A premissa é bem interessante, mas o filme deixa a desejar. Como um fã do Woody, é uma grande decepção ver um filme assim.

Enfim, baixei Poderosa Afrodite faz um tempo e acho que vou ver hoje. A internet ainda está um pouco fraca, e quase não dá pra carregar vídeos online ou baixar. Mas, assim que eu tiver a chance, pretendo ver Celebridade e Simplesmente Alice, e, se possível, rever Tiros na Broadway ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão (A Midsummer Night's Sex Comedy)
dir. Woody Allen - 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Crítica: "MARIA" (2005) - ★★★★★


Abel Ferrara é um diretor subestimado. Se tem algo de que estou certo neste mundo é de que Abel Ferrara é um cineasta rejeitado, embora seja dono de grandes pérolas do cinema, como este Maria, o perspicaz Pasolini, visto ano passado, o subestimadíssimo Bem-Vindo a Nova York, com Gerard Depardieu, Go Go Tales, O Rei de Nova York, Vício Frenético e outros mais. É um nome que deveria ser tratado com mais carinho e atenção. Maria, que é seu melhor filme (dentre os que eu vi até o momento) prova que ele tem todas as qualidades e o talento de um verdadeiro mestre do cinema. Posso estar exagerando, mas eu não arriscaria dizer que estou exagerando. Afinal, há de se concordar: Abel Ferrara é um diretor fenomenal. Maria é um exemplo disso, e ainda vai além.

Abel também prova que é capaz de mexer com a gente de maneira tão singular que é quase inexplicável. É dele também a maestria em dirigir espetacularmente um elenco estelar, que traz dos intérpretes mais talentosos e competentes do nosso tempo, como a inegavelmente triunfal Juliette Binoche, brilhando no papel de uma atriz que decide deixar a profissão de lado e conhecer mais de perto o universo religioso; Forrest Whitaker, numa performance excepcional, como um apresentador de TV arrependido pelos seus erros e tentando buscar a redenção; Matthew Modine como um diretor de cinema que só pensa em auto-promoção; sem falar nas participações das lindas Marion Cotillard e Heather Graham. 

Maria é sobre nossas dúvidas, nossos questionamentos, o vazio que nos consome, a falta de esperança no mundo e a salvação através da crença, o poder da fé em transformar e reestruturar a nossa esperança num amanhã melhor, a transformação, a incerteza diante da mudança e da tentação. Por outro lado, é (indiretamente) sobre a força e o poder da sétima arte (pensem nisso!). Maria nos faz redescobrir e refletir sobre o mundo que nos cerca, os medos que nos prendem, o desejo que nos engrandece e engana. Achei interessante a proposta do diretor em "globalizar" o nome Maria em diversos sentidos, sendo o título do filme em inglês "Mary", o nome da personagem da Juliette "Marie Palesi", e a tradução para o título nacional "Maria", e por aí vai. Seria esta uma proposta subliminar, ou ele apenas quis metaforizar a globalização, como acontece em outros certos momentos do filme?

Pretendo rever o filme em breve. Aliás, acreditem ou não, demorei 3 dias para assistir esse filme inteiro, que tem uma duração de mais ou menos 1 hora e 20 minutos. E a questão não é nem impaciência. Como eu sou uma pessoa muito sonolenta e preguiçosa (até demais da conta), ficar deitado é sempre um convite ao sono. E, nos dias em que o sono me pega de jeito, se bobear até sentado eu durmo. Por isso, quando fui ver sexta, passados os 20 minutos do filme, não resisti a tentação e acabei dormindo. Mas, fiquem calmos, não é porque o filme dá sono ou coisa do tipo que eu acabei dormindo, mas é que isso acontece comigo com qualquer coisa mesmo. Se eu estiver vendo um filme do 007 (quem me conhece sabe que sou fã das aventuras do agente um bocado e que não paro pra nada quando eu estou assistindo um filme da saga), à noite e debaixo dos cobertores é bem provável que eu vá dormir. Sábado vi só um pedacinho, até porque fiquei o dia inteiro fora e também fui conferir outro filme no cinema. A sessão só foi terminar domingo -- à noite -- já que eu passei também o dia inteiro fora no apartamento do meu irmão. Maria não é o tipo de filme que dá sono, e sim o exato contrário disso. Maria é interessantíssimo. Provoca, ousa, instiga, questiona, maravilha e fascina.

Depois de Maria, eu fiquei até mais curioso em conhecer os outros longas da filmografia de Ferrara, já que são poucos os filmes que vi dele. Talvez alguns não sejam tão tocantes ou profundos como Maria, mas sempre há um tesouro perdido tão tocantes ou profundos da mesma forma de Maria, mas é muito provável que o sr. Ferrara tenha mais acertos e tesouros escondidos em sua gigantesca filmografia. Só sei que Maria foi uma experiência magnífica. Já baixei meu próximo filme do cineasta, Go Go Tales, com Willem Dafoe e Asia Argento, que verei muito em breve.

Maria (Mary)
dir. Abel Ferrara - 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Adeus, ABBAS KIAROSTAMI (1940 - 2016)


Triste, triste demais. Partiu nesta segunda-feira o amado cineasta iraniano Abbas Kiarostami, que estava lutando contra um câncer descoberto em março deste ano. Considerado um dos maiores e mais influentes cineastas iranianos, Kiarostami foi um diretor idolatrado e adorado por muitos. Seu talento e seu legado cinematográfico permaneceram vivos por muito tempo na memória dos cinéfilos. É impossível não ficar tremendamente chateado e triste com uma notícia arrasadora dessas. Abbas Kiarostami foi um gênio do cinema, sua filmografia é de ouro. Jamais esqueceremos de suas obras e de sua maestria. Entre seus grandes trabalhos, estão a brilhante comédia romântica Cópia Fiel, filme que eu considero o seu melhor, estrelado por Juliette Binoche e William Shimell, o imortalizado Gosto de Cereja, que venceu a Palma de Ouro em 1997 e Close-Up, filme que é considerado um marco do cinema do Irã, e que conquistou diversos prêmios e plateias. Vá em paz, querido Kiarostami!  

domingo, 3 de julho de 2016

Crítica: "PROCURANDO DORY" (2016) - ★★★


Revi em maio Procurando Nemo, que é uma das minhas animações prediletas do estúdio Pixar, e fiquei de escrever aqui no blog mas dei sopa e acabei deixando tal tarefa de lado. Bem, cá estou eu, dois meses depois, escrevendo sobre Procurando Dory, a sequência da já mencionada famosa animação sucesso de bilheteria/crítica que está beirando a mesma aclamação do 1º tanto nas bilheterias quanto entre os críticos. Eu não diria que Procurando Dory é melhor ou se nivela a Procurando Nemo, mas até que é bem bacana. Até porque eu, pelo menos, me diverti bastante. A Pixar capricha em mais uma produção bonita, sofisticada e doce, como era de se esperar de uma equipe tão talentosa e dedicada como eles, que fazem animação como ninguém.

Não sei se acontece só comigo, mas fico tão envergonhado quando, antes da sessão começar, passam uns trailers tão idiotas de filmes que a gente de cara já decifra que são bombas. É uma sensação de vergonha tão grande que, olha, vou te contar... E não é a primeira vez. Os trailers exibidos foram os de Carrossel 2, A Vida Secreta dos Bichos e outro filme do qual não me lembro, todos desprezíveis (aliás, que mania mais petulante a de passarem só trailers de filmes infantis antes de uma animação). Passados os três trailers, me animei para o começo do filme, e fui surpreendido pelo ótimo curtinha Piper (que eles geralmente exibem antes de um filme da Pixar ou até mesmo da Disney, e que são facilmente encontrados nos extras dos DVDs originais). 

Enfim, o filme. Não diria que é muito engraçado não, viu? Quer dizer, muita gente riu (certas vezes em momentos e cenas inconvenientes), mas foi pouco. E não nem a questão das piadas serem ruins, porque não tem muita piada, por isso que o filme é tão fraquinho no quesito humor. Dory, aquela peixinha coadjuvante do 1º filme que ajudou o pai de Nemo a encontrá-lo, é a principal desta continuação. Dory sofre de memória anterógrada (perda de memória recente) e, aos poucos, começa a se lembrar de seus pais, e decide ir atrás deles para reencontrá-los. Da Austrália, Dory, Marlin e Nemo vão até a Califórnia, num certo Instituto de Vida Marinha, o lugar de onde Dory havia se lembrado. Lá, eles acabam, acidentalmente, se separando. Dory parte para uma longa jornada ao lado de um polvo "fujão" que tem medo do oceano ao encontro de seus familiares e Marlin e Nemo tentam achá-la. 

Algumas coisas em relação a esse novo filme são bem divertidinhas. Como eu não tinha muitas expectativas acerca Procurando Dory (lembrando que estamos falando da sequência de um grande filme), então algumas coisas em parte foram surpresas e outras foram indiferentes. Achei peculiar a participação especial da Marília Gabriela como a porta-voz do santuário aquático, até porque eu achei bem estranho terem posto ela. Como era de se pensar, a Marília Gabriela participou apenas da dublagem nacional. A dubladora da versão original foi a Sigourney Weaver. Não sei se a escolha foi equivalente, mas confesso que foi estranho, até porque quase não dá pra reconhecer a voz da Marília Gabriela. Será que foi a dublagem? 

Os dubladores do primeiro, na versão nacional (vi dublado) continuam os mesmos, pela voz, e os dubladores da versão original também (Ellen DeGeneres como Dory, Albert Brooks como Marlin, menos o Nemo, que foi dublado por outra criança dessa vez). 

Procurando Dory explora metaforicamente as relações e os conflitos familiares de maneira até mais complexa do que a abordagem de Procurando Nemo, embora mantenha-se a mesma seriedade e estética. É mais provável que os adultos compreendam mais e se identifiquem com os elementos mais minuciosos da história, afinal, são as crianças dentro deles que esperaram treze anos pelo retorno triunfal de Dory, Nemo & cia.. Mas, é claro, isso não impossibilita de jeito algum o entretenimento e interação da criançada, que certamente ficará fascinada com as cores, o ritmo e os personagens desta aventura infantil de mão cheia. 

Procurando Dory (Finding Dory)
dir. Andrew Stanton & Angus MacLane - 

sábado, 2 de julho de 2016

Adeus, MICHAEL CIMINO (1939 - 2016)


Difícil de acreditar. Faleceu neste sábado, dia 2, o querido Michael Cimino, diretor de clássicos do cinema como O Franco-Atirador, com Robert De Niro e Christopher Walken, vencedor de 5 Oscars (incluindo Melhor Filme e Direção, entregues a Cimino), e o subestimadíssimo épico O Portal do Paraíso, filme que é tido por muitos (injustamente) como o maior fracasso cinematográfico de todos os tempos, e que levou a United Artists à falência. Cimino cravou um legado inestimável na sétima arte e no coração fílmico de muitos cinéfilos mundo afora. Apesar da curta filmografia (7 filmes e meio como diretor em mais de 30 anos de carreira), Michael é considerado um dos diretores mais influentes e geniais do cinema americano. Afinal, não precisa de uma filmografia gigante pra ser um cineasta de primeira grandeza. Michael estava com 77 anos. Seu último filme foi Na Trilha do Sol, de 1996.