Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, o documentário italiano Fogo no Mar, o quinto do documentarista italiano Gianfranco Rosi, que também já ganhou o Leão de Ouro em Veneza há três anos por Sacro GRA, chegou nos cinemas nacionais bem antecipado. Pegou muita gente de surpresa, já que não é muito comum vermos tamanha consideração por parte de distribuidoras nacionais com produções independentes ou estrangeiras, o que já é um avanço. Há quem diga que a vitória de Fogo no Mar em Berlim esse ano tenha sido inesperada, mas compreensível.
Ao explorar questões políticas e sociais de repercussão internacional através de uma brilhante abordagem objetiva, bem como (centralmente) a migração dos africanos para o continente europeu, Fogo no Mar acumula pontos. Aliás, curiosamente, trata-se de um trabalho bastante imprevisível, de caráter anti-convencional, fugindo de padrões e de clichês "esperáveis" de um documentário sobre a crise dos migrantes na Europa (se bem que eu não vi nenhum outro filme do Gianfranco antes), o que é bastante arriscado até para um documentário, que corria riscos de cair na incoerência ou se perder na temática.
É um filme de sequências imponderáveis, de proporções inesperadas, o que intensifica e amplifica o impacto, a reação do espectador e, consequentemente, o interesse e a comoção pelo material mostrado. Gianfranco Rosi prova com Fogo no Mar o poder e a simplicidade de seu cinema documental.
Ele investiga cuidadosamente a migração na Ilha de Lampedusa, o "portal" de entrada dos migrantes para a Europa. Lá, os índices migratórios batem recordes. Não me lembro ao certo, mas há um número gigantesco de pessoas que migram rumo ao continente europeu por Lampedusa, e um número igualmente chocante de pessoas que morrem tentando migrar (no começo do filme, há uma pequena introdução-resumo sobre a migração em Lampedusa).
O documentário vai alternando entre cenas caóticas e angustiantes dos bastidores da migração e o cotidiano de um pré-adolescente italiano na ilha e seus moradores, com suas vidas pacatas e desaceleradas. A edição aleatória reforça a proposta de reinvenção documental. Carregado de uma importância tanto cinematográfica quanto política avassaladora, Fogo no Mar merece ser conferido por um bocado de motivos. Sua relevância e qualidade ímpares tornam-o um filme necessário, ainda mais em tempos turbulentos como esses.
É uma experiência eletrizante e ao mesmo tempo dolorosa para o espectador. A guerra, a falta de oportunidades, a miséria e a fome fazem com que vários arrisquem suas vidas buscando algo melhor. E poucos conseguem o que tanto sonham. É uma realidade dura e escassa, onde impera a injustiça. Algo tem que ser feito. Medidas devem ser tomadas. Será que ninguém vê o sofrimento dessas pessoas? Elas só estão tentando sobreviver. Elas não podem continuar se arriscando dessa forma. É simplesmente um absurdo.
Fogo no Mar (Fuocoammare)
dir. Gianfranco Rosi - ★★★★
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