sábado, 28 de março de 2015

Crítica: "O AMOR É ESTRANHO" (2014) - ★★★


Engraçado, interessante, maduro, intenso, triste. O Amor é Estranho é uma das mais inusuais comédias românticas filmadas de uns tempos pra cá. Fazia um tempão que não via um filme tão questionador e ao mesmo tempo tão limitado, restrito, optativo. George e Ben são um casal de idosos gays vivendo na atual Nova York, se casando depois de longos trinta anos de relacionamento, no entanto, o tão polêmico casamento gera intrigas em suas vidas e faz com que George, professor de música numa escola religiosa, seja demitido por infringir regras, e em consequência, seja despejado de seu atual apartamento, fazendo com que os dois passem a viver com amigos e familiares próximos, até arranjarem um novo lugar. 

Não sei. Não me decepcionei, mas também não saí do cinema cem por cento completo... Achava que, por se tratar de uma trama ligada a um assunto tão exclusivo nos dias de hoje: a homossexualidade, ou talvez, por se tratar de uma história pesada - pela sinopse -, O Amor é Estranho seria algo mais heavy, algo bem mais do que no filme é mostrado: um drama de cotidiano, como dito, restrito, calmo, afável, limiar. Eu esperava um pouquinho mais de "peso", algo a ilustrar mais a situação vivida pelos dois personagens, que parece ser aceita à quase todos no seu círculo social, o que de fato, não é verdade. Homossexualismo infelizmente ainda hoje, por mais pessoas que simpatizem ou não tenham nenhum preconceito, é um limítrofe tabu. Tanto quanto pessoas que respeitam, existem outras tantas homofóbicas. Por sua vez, imaginei algo do tipo Brockeback Mountain, ou, por que não, o atual O Jogo da Imitação, que lá no fundo, discute bem seriamente sobre esse preconceito, já existente lá na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, onde o homossexualismo atravessava o que hoje chamamos de polêmica; era uma espécie de proibição, crime. Enfim, resumindo: eu esperava sangue, por exemplo; esperava sair tremendo de choque e pânico da sessão. Não foi o que aconteceu. No entanto, eu saí da sessão gratificado, sem palavras, impactado. O Amor é Estranho tem um instinto natural para o drama, mesmo ao exceder tantas características que ainda sim o aprimorariam. É um drama sensato, de um clima excêntrico e belo, apaixonante, "de chorar". 

Não é clichê, por sinal. Senti a ausência de clichê, numa obra tão vulnerável a repetições [risos]. Ira Sachs revelou-se dono de um estilo de boa aparência, sem muitos luxos, um talento bem requerível dependendo da história. Alfred Molina, a quem vi bem raramente nos últimos tempos atuando, e John Lithgow tão excelentes, supremos, talentosos. Duas performances que realmente merecem um sério destaque. Estressa ao pensar o quão difícil atuar em personagens tão singulares como os quais eles atuaram. Marisa Tomei não brilha muito aqui; acho que ela tentou soltar, mas ficou preso, não conseguiu. Não posso dizer que ela não teve a chance de roubar a cena. Uma trilha sonora bem articulada, refinada, pura, que acompanha o clímax das cenas, é algo de se elogiar; A fotografia, uma beleza só (ainda mais quando o sujeito assistiu aos noventa e quatro minutos do filme em uma projeção HD divina). Este filme, sinceramente, uma beleza só. Astuto e legível, competente e livre. Um filme agradável, longe da atual realidade, mas mesmo assim agradável e responsável.

O Amor é Estranho (Love is Strange)
dir. Ira Sachs - ★★★

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