quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

VIVA – A VIDA É UMA FESTA (2017)


Creio que não restam dúvidas de que a Pixar é a produtora de animações de maior renome dos últimos tempos (pelo menos mundialmente falando, eu acho) superando até mesmo a própria produtora da Walt Disney, ainda que as duas sejam detentoras de algumas das obras de animação mais famosas, aclamadas e vistas dessa década. Viva – A Vida é uma Festa é, primeiro de tudo, uma grata surpresa. Talvez porque represente que a Pixar ainda está em ótima forma, talvez porque é ele próprio um trabalho um pouco distinto do body of work da produtora ainda que respeite muito as tendências cinematográficas do pessoal, mas até na questão de uma certa ousadia em envolver temáticas mais adultas em um universo mais infantilizado, embora eu ache que o filme mesmo vá ter uma impressão maior nos adultos do que nas crianças.

Acho que existe pelo menos dois pontos do filme que merecem uma relevação: a construção narrativa (o que inclui a estruturação dos dois universos pelo qual o filme transita, literalmente falando, a conceitualização do mundo dos mortos e dos vivos, envolvendo questões como memória, afeto, representatividade, hierarquia familiar, divisão de classes, o papel e a influência da arte dentro de uma cultura e suas raízes étnicas – e todo o histórico que reside aí – entre outros aspectos que estão fabulosamente trabalhados nessa alegoria meio musicalizada e repleta de cores que encontra justamente na cultura mexicana uma fonte interminável de inspiração para o que essa história – por mais americana que a sua narrativa possa soar, até mesmo nas perceptíveis concepções quase estereotipadas de uma realidade cultural distinta, tão cabíveis quando gringo decide filmar uma historinha sobre outro gringo – retrata e captura. 

Digam o que quiser, mas eu fiquei muito emocionado. De verdade. Foi minha primeira sessão do ano e já é a mais marcante, por uma série de fatores, incluindo que o filme me emocionou de tal forma que eu estava parecendo uma criança, encantado com todo aquele arsenal de cores e os personagens, como se eu nunca tivesse visto aquilo antes. Então, sim, Viva mexeu profundamente comigo, e em certos momentos não pude conter as lágrimas (e olha que pra mim chorar no cinema, em público, é uma coisa muito rara de acontecer).

O meu veredito é: pra quem quiser (ou souber) embarcar na viagem, o filme será maravilhoso. E pra quem quiser se apegar aos "blá-blá-blás" da manipulação sentimental e dos clichês, o filme terá problemas bem evidentes. Mas não deixa de ser um ótimo exemplar dos filmes da Pixar, e que tem uma força afetiva enorme mesmo. É de chorar, inclusive. A canção "Remember Me", que deve ir para o Oscar, é encantadora e dá calafrios.

Trata-se do conto de um menino que sonha com a música e cuja família é, na verdade, totalmente aversa à isso (por conta de um membro da família que, no passado, largou uma antecessora para se dedicar à música e nunca mais voltou). Disposto a seguir seu sonho, ele parte em uma jornada de redescoberta familiar no mundo dos mortos. E a premissa, em sua concepção, é bem mais fabulosa do que pode soar à primeira vista. Pode me chamar de emotivo, mas eu achei isso aqui muito bonito. E ver no cinema é um deleite espetacular. Repleto de vários momentos bem musicais, no sentido mais rítmico da palavra, e uma mensagem linda. Te faz celebrar o cinema e a arte com a alegria mais infantil.

Viva – A Vida é uma Festa (Coco)
dir. Lee Unkrich & Adrian Molina (co-diretor)
★★★★

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