Apesar de se tratar de uma obra repleta de sentimentalismo envolta de um manto universal, a história não surpreende tanto. Na Praia do Futuro, em Fortaleza, Donato (interpretado por Wagner Moura) é um salva-vidas que após salvar um motociclista alemão de um afogamento, se apaixona por ele e se muda para Berlim, deixando tudo para trás.
O resultado é efusivamente relutante. Através de diálogos misturados entre o português e o alemão, o filme se desenrola de maneira confusa e extremamente abstrata. Mas não deixa que o filme trate-se de uma reflexão altruísta e original. O filme pode dar essa imagem, mas de fato, o principal ponto do filme não é a homossexualidade, mas a intensa desconstrução da sociedade opressiva. Nossos dois personagens estão reprimidos pela raiva, pelo poder, pelo desejo e pelo amor, mas não conseguem organizar seus sentimentos num único lugar. O filme de Ainouz é classificado como um filme materialista, que na realidade, apenas inventa o contraste entre a homossexualidade e a realidade. O roteiro também ocasiona a fantasia da vida, mas de uma forma exclusivamente temporária, a ponto de que seja imperceptível. Esse é o adjetivo que designa autoritariamente Praia do Futuro: imperceptível. Uma película que nem todos irão concordar, ou "simpatizar", mas é uma obra precisa e onipotente.
Neste ano, dois filmes consideravelmente gays se destacaram no mercado cinematográfico: o elusivo e artístico Praia do Futuro, e o inventivo e inteligente Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. A principal diferença entre os dois é a maneira de como as histórias são contadas. Em Praia do Futuro, a trama é indiretamente relacionada á homossexualidade, enquanto no outro, a trama se dirige ao preconceito diante da homossexualidade. São duas formas bem distintas de se narrar sobre o assunto, no entanto, não muda o conteúdo do filme. Em Praia do Futuro, há um certo teor explícito, mas não há nada de polêmico. Não sei bem por que, mas me lembrei, ao final dos poucos 100 minutos, de um filme de Almodóvar, que especificamente, trata da homossexualidade de maneira dramática e genial. Má Educação não é um dos melhores dirigidos por Almodóvar, mas traz bem resolvido esse tema. E como não há nenhuma relação existente entre os dois filmes, não vi o por que de lembrar, mas foi bem lembrado. Uma das polêmicas, no entanto, envolvendo Praia do Futuro aconteceu na rede de cinemas Cinépolis, que frequentemente, passou a notificar previamente os espectadores que entravam nas salas de exibições, carimbando nos tíquetes a seguinte mensagem: "AVISADO", cuja foi errôneamente (ou não) relacionada ás (um tanto exageradas e predatórias) cenas de sexo homossexual entre o personagem de Wagner Moura e o alemão Clemens Schick. E a minha conclusão não deixa de ser positiva. A lentidão do filme e suas passagens calmas e silenciosas me deram uma relatividade enorme, e com isso, pude observar o enorme retrato que Karim Ainouz, novamente fez, apesar de estar reusando uma técnica utilizada previamente em outros filmes, mas que não deixa de ser interessante e cautelosamente visionária.
Praia do Futuro
dir. Karim Ainouz - ★★★
O resultado é efusivamente relutante. Através de diálogos misturados entre o português e o alemão, o filme se desenrola de maneira confusa e extremamente abstrata. Mas não deixa que o filme trate-se de uma reflexão altruísta e original. O filme pode dar essa imagem, mas de fato, o principal ponto do filme não é a homossexualidade, mas a intensa desconstrução da sociedade opressiva. Nossos dois personagens estão reprimidos pela raiva, pelo poder, pelo desejo e pelo amor, mas não conseguem organizar seus sentimentos num único lugar. O filme de Ainouz é classificado como um filme materialista, que na realidade, apenas inventa o contraste entre a homossexualidade e a realidade. O roteiro também ocasiona a fantasia da vida, mas de uma forma exclusivamente temporária, a ponto de que seja imperceptível. Esse é o adjetivo que designa autoritariamente Praia do Futuro: imperceptível. Uma película que nem todos irão concordar, ou "simpatizar", mas é uma obra precisa e onipotente.
Praia do Futuro
dir. Karim Ainouz - ★★★
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