Os últimos dias foram um pouco turbulentos, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo na nossa vida acaba fazendo com que a gente passe a dar mais atenção aos pequenos momentos de desfrute e prazeres simples entre outros sentimentos que na maioria das vezes nos fazem sentir muito mal em relação a nós mesmos, ainda mais quando estamos enfrentando uma situação delicada e que costuma exigir bastante da gente (sentimentalmente falando). É nessas horas que percebemos o quão importante é o cinema a ponto de, no mínimo, nos sentirmos gratificados por termos na arte um refúgio das agitações do dia-a-dia.
Eis que me surge este belo exemplar do cinema britânico, Lady Macbeth, de um cineasta de quem eu nunca tinha ouvido falar antes, William Oldroyd, e que já é um dos maiores destaques do ano. Muitas coisas me impressionaram em relação a este filme. A começar pela atuação de Florence Pugh, que está aí para ganhar muitos prêmios na awards season (bem próxima), que interpreta uma bela e jovem moça que se casa, a contragosto, com um homem bem-sucedido apenas por conta de seu renome, quando ele é, na verdade, vil e insolente. Os dois quase não se comunicam e não interagem entre si, o que acaba criando um inevitável distanciamento, até por conta das viagens frequentes dele. Numa dessas viagens, a moça acaba se relacionando com um capataz do marido, que acaba se tornando seu amante. Mas a história toma rumos inesperados, e várias pessoas acabam sendo afetadas pela relação da moça com o empregado, o que sucederá em mortes e intrigas.
É muito interessante observar esse trabalho com a influência de uma ótica Shakesperiana, é claro, de Macbeth, onde o personagem-título tem de matar várias pessoas influentes da nobreza para chegar ao trono e alcançar o poder, com a ajuda de sua infame esposa, a inescrupulosa Lady Macbeth, que o "encoraja" psicologicamente a cometer os assassinatos e até se infiltra em seus negócios para manipular o poder. Lady Macbeth apoia-se nesta mesma premissa, só que a personagem, ao invés de matar por poder, comete as mortes pelo amor entre ela e o empregado (isso pode soar romântico de primeira mão, mas a realidade é a mais anti-romântica e trágica que se pode imaginar).
É, sem dúvidas, um filme muito bem articulado e construído, destaque para o elenco estelar, com grandes performances de todos os lados (também é destaque Naomi Ackie, a empregada que acaba sofrendo pelos atos cometidos pela sua senhora) e uma narrativa extremamente meticulosa que parece ter o controle sobre cada pedacinho desta trama macabra. A fotografia também tem muitos momentos de ouro. Tecnicamente falando, é irreparável.
Oldroyd conduz seu filme com o mesmo tom trágico do começo ao fim, culminando todos os personagens a um destino trépido e insosso, costurando as tragédias pessoais de cada um ao nível quase coletivo, em que o deslize de um reflete na miséria do outro, e como cada ação acaba tendo uma reação, às vezes, bem mais forte e impactante no outro, como é o caso da relação entre quem está no poder e quem é comandando por este, a reação sempre recai ao último (e o desfecho deixa isso muito claro).
Execução primordial, com diversas sequências espetaculares e muito bem filmadas, Lady Macbeth não é filme para se perder.
Lady Macbeth
dir. William Oldroyd
★★★½
Eis que me surge este belo exemplar do cinema britânico, Lady Macbeth, de um cineasta de quem eu nunca tinha ouvido falar antes, William Oldroyd, e que já é um dos maiores destaques do ano. Muitas coisas me impressionaram em relação a este filme. A começar pela atuação de Florence Pugh, que está aí para ganhar muitos prêmios na awards season (bem próxima), que interpreta uma bela e jovem moça que se casa, a contragosto, com um homem bem-sucedido apenas por conta de seu renome, quando ele é, na verdade, vil e insolente. Os dois quase não se comunicam e não interagem entre si, o que acaba criando um inevitável distanciamento, até por conta das viagens frequentes dele. Numa dessas viagens, a moça acaba se relacionando com um capataz do marido, que acaba se tornando seu amante. Mas a história toma rumos inesperados, e várias pessoas acabam sendo afetadas pela relação da moça com o empregado, o que sucederá em mortes e intrigas.
É muito interessante observar esse trabalho com a influência de uma ótica Shakesperiana, é claro, de Macbeth, onde o personagem-título tem de matar várias pessoas influentes da nobreza para chegar ao trono e alcançar o poder, com a ajuda de sua infame esposa, a inescrupulosa Lady Macbeth, que o "encoraja" psicologicamente a cometer os assassinatos e até se infiltra em seus negócios para manipular o poder. Lady Macbeth apoia-se nesta mesma premissa, só que a personagem, ao invés de matar por poder, comete as mortes pelo amor entre ela e o empregado (isso pode soar romântico de primeira mão, mas a realidade é a mais anti-romântica e trágica que se pode imaginar).
É, sem dúvidas, um filme muito bem articulado e construído, destaque para o elenco estelar, com grandes performances de todos os lados (também é destaque Naomi Ackie, a empregada que acaba sofrendo pelos atos cometidos pela sua senhora) e uma narrativa extremamente meticulosa que parece ter o controle sobre cada pedacinho desta trama macabra. A fotografia também tem muitos momentos de ouro. Tecnicamente falando, é irreparável.
Oldroyd conduz seu filme com o mesmo tom trágico do começo ao fim, culminando todos os personagens a um destino trépido e insosso, costurando as tragédias pessoais de cada um ao nível quase coletivo, em que o deslize de um reflete na miséria do outro, e como cada ação acaba tendo uma reação, às vezes, bem mais forte e impactante no outro, como é o caso da relação entre quem está no poder e quem é comandando por este, a reação sempre recai ao último (e o desfecho deixa isso muito claro).
Execução primordial, com diversas sequências espetaculares e muito bem filmadas, Lady Macbeth não é filme para se perder.
Lady Macbeth
dir. William Oldroyd
★★★½
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