terça-feira, 15 de março de 2016

Crítica: "CLOSER - PERTO DEMAIS" (2004) - ★★★★


Já vai fazer dois anos que o inigualável gênio do cinema Mike Nichols nos deixou. Inacreditável. O mestre, em um período que corresponde a um longevo meio século de atividade, presenteou-nos com alguns dos maiores e mais importantes filmes já feitos (A Primeira Noite de um Homem e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, por exemplo) e que raramente consegue decepcionar, mesmo sob projetos considerados menores, como aconteceu com Jogos de Poder (seu último filme) e A Difícil Arte de Amar (quase comprei a cópia em DVD uma vez, mas pisei na bola e agora o único jeito parece ser apelar pro torrent). Closer, o antepenúltimo filme realizado por ele, e talvez o mais popular (pelo público), é um filme intenso e voraz, poderoso a todo custo. Mike assume a direção de um trabalho thought-provoking eletrizante. O elenco talentosíssimo e inspirado é a atração principal de Closer - Perto Demais.

Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman encarnam quatro personagens (uma fotógrafa, um jornalista, um médico e uma stripper, respectivamente) culminados a uma trama romântica repleta de desencontros e reviravoltas inusitadas. Traição, passado, intriga, verdade, mentira, obsessão, ilusão, Closer explora os limites das relações humanas e seus detalhismos e a natureza do estranho. O roteiro genial de Patrick Marber, adaptação da própria peça dele (conheci Marber no excepcional e inesquecível Notas sobre um Escândalo) capricha nos diálogos afiados, inteligentes e formalmente observadores. É difícil não se maravilhar com tamanho trabalho. A escolha de Nichols está bem clara, uma vez que Marber filosofa sobre a traição, tema recorrente na filmografia do cineasta, com sensibilidade e complexidade fenomenais. 

Falando em teatro, o filme bem que se parece mesmo com uma peça, viu? As cenas duradouras, os diálogos bem estruturados, a fotografia pálida e discreta, a valorização do elenco, a câmera, entre outros recursos que transformam Closer em um filme-teatro. Não me estranha o filme ter sido tão finamente elogiado pelo elenco. Clive Owen e Natalie Portman arrecadaram duas indicações ao Oscar. E eles estão certamente brilhantes. Ainda sim, os quatro estão igualmente dispostos e ótimos. Quem se destaca mesmo é a Natalie Portman, aqui estonteante e simplesmente gloriosa em todos os sentidos. Se tem alguém aqui que merece ser chamado de "o melhor" é ela. O Clive Owen também está formidável, mas quem realmente merecia a indicação, e possivelmente a vitória, era o Jude Law, também excelente. Isso pra não esquecer a Julia Roberts, numa das melhores atuações da carreira dela. 

Não acho mesmo que Closer seja um filme esquecível, como muitos proclamaram, mas creio que se trata justamente do contrário. Closer é memorável. Não é o melhor do Mike Nichols, mas é um trabalho notável e que merece respeito. E por último mas não menos importante, a trilha musical é primorosa. De Beethoven a Bebel Gilberto, a seleção é íntegra e combina perfeitamente com o clima do filme. A canção-tema, que abre e encerra Closer, "The Blower's Daughter", de Damien Rice, é melancolicamente belíssima (Ana Carolina e São Jorge produziram a versão nacional da canção, "É Isso Aí", tão emocionante quanto). 

Closer - Perto Demais (Closer)
dir. Mike Nichols - 

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