Comédia de fazer a gente rachar de rir, o politicamente incorreto Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à America ou simplesmente Borat é um daquelas comédias que quando você for ver vai estar dando gargalhadas naturalmente. Uma cena atrás da outra, é impossível não rir e se deliciar com as aventuras desse cara insano acompanhado do seu produtor mais maluco ainda. Aliás, insano é apelido para esse filme. Talvez nunca haverá outro filme como Borat na história do cinema. É sério, não falando da qualidade do filme, que é certamente uma comédia fantasticamente exímia, mas sim me referindo ao formato, ao estilo do humor, às sacadas do roteiro, às sequências brilhantíssimas... Borat é um tesouro genial, no mínimo.
Descobri o filme faz uns dois anos, e da primeira vez que vi era manhã de sábado e minha irmã também viu comigo. Rimos demais. Vendo hoje em dia, dou umas risadinhas e tal... Mas da primeira vez foi uma coisa incrivelmente louca. Eu ri pra caramba, de cena em cena, sem parar, ininterruptamente. Até posso estar exagerando, mas eu garanto que Borat irá te fazer rir, goste-se ou não do tom satírico assumido pelo longa ou pelas piadas de mau gosto que o personagem principal, um repórter vindo do Cazaquistão sem noção que apronta as maiores loucuras em uma visita aos Estados Unidos.
A loucura em Borat já está na premissa dos criadores: o filme foi inteiramente filmado como um pseudo-documentário, incluindo depoimentos e cenas gravadas ao lado de pessoas reais, que não sabiam que era tudo uma grande brincadeira, e que foram enganadas pela equipe de produção o tempo todo. É tanto que os produtores sofreram diversos processos após a estreia e o comediante Sacha Baron Cohen chegou até a ser investigado pelo FBI na época (Sacha revelou à imprensa que "o FBI recebeu denúncias de pessoas alegando ter visto um terrorista num carrinho de sorvete"). Os caras passaram dos limites... Mas e não é que o filme funcionou, rapaz? Funcionou de tal maneira que, como eu bem falei no começo do texto, muito provavelmente será irrepetível ou irreproduzível.
Sacha, também roteirista (o controverso humorista inglês recebeu o Globo de Ouro pelo personagem Borat e foi agraciado com uma indicação ao Oscar na categoria de Roteiro Adaptado), brinca com as mais variadas situações e mexe com temas sérios e os desconstrói na vértice de um humor afiadíssimo e vulgar, hilariante e irresistível. O comediante submete o espectador a uma experiência triunfal. A aposta é bem arriscada, mas felizmente a fórmula funciona e o filme é majestoso, dotado de um humor radiante e engraçadíssimo.
Apesar da descontração e do humor piadista, Borat aborda com um olhar fiel e sólido quesitos de vital importância e fundamenta uma sátira política repleta de simbolismos e críticas ao american way of life e à cultura do pós-9/11 e a posição da sociedade americana em relação a temas como homossexualismo. Interessante observar o filme também como um ataque à xenofobia e ao preconceito, sem cair no ridículo.
Algumas das sequências cômicas de Borat estarão marcadas pra sempre na minha vida cinéfila como as cenas mais engraçadas que eu já vi, como a cena do hotel, onde onde o Borat e seu produtor doidão começam a brigar pelados e acabam invadindo acidentalmente um salão de apresentações (a particularmente cena mais engraçada do filme inteiro), ou também a cena do jantar high society, onde Borat leva uma prostituta à casa de um grupo de burgueses hipócritas... Também há aquele segmento onde Borat e o produtor, antissemitas, passam uma noite na casa de um casal de idosos judeus. Perto do começo, também há a cena onde o Borat entra no metrô e começa a cumprimentar as pessoas, e depois solta uma galinha no vagão. A cena onde ele vai ao lançamento do livro da Pamela Anderson e a "propõe em casamento" também é demais. E várias outras, que não me vem à cabeça nesse momento. Ah, sim, também tem aquela cena onde o Borat vai a um encontro com um grupo de feministas, ou também a cena do rodeio, onde o Borat anima a plateia com comentários de apoio às tropas no Iraque e a Guerra ao Terror, do tipo "...que Bush beba o sangue de todas as mulheres e crianças do Afeganistão!" (a plateia começa a aplaudir incessantemente).
Em muitos aspectos, Borat trata-se de um trabalho louvável. Comédia exemplar, é bem-feito, genialmente engraçado, deliciosamente complexo na sua premissa satírica, e traz um dos comediantes mais talentosos e excelentes dos últimos tempos, Sacha Baron Cohen, no melhor e mais engraçado filme de sua carreira, isso sem falar no diretor, Larry Charles, da série Curb Your Enthusiasm, à frente de um projeto que exige audácia, firmeza, coragem, objetividade e sanidade, sem falar nos inúmeros perigos da produção... Borat é I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L.
Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América
(Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan)
dir. Larry Charles - ★★★★
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