Em virtude da vitória do filme Spotlight - Segredos Revelados em Melhor Filme na mais recente edição do Oscar, decidi rever O Visitante, dirigido e escrito pelo mesmo de diretor/roteirista do longa, Tom McCarthy. Aliás, O Visitante foi o primeiro filme do cineasta que vi. Quando vi pela primeira vez, estávamos em plena Copa do Mundo (2014) e lembro da minha tia cozinhando alguma coisa, agora não me vem à cabeça o quê, enquanto eu assistia ao filme. Era dia de jogo do Brasil, e estava a maior balbúrdia, é tanto que eu nem lembro de ter terminado o filme. O Visitante, vibrante drama de McCarthy (seu segundo longa-metragem), rendeu a Richard Jenkins, o protagonista, uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator, que foi, por sinal, uma baita de uma merecida indicação.
Jenkins encarna um professor universitário viúvo que leva uma vida vazia e sem emoções. É quando ele vai presenciar uma conferência em Nova York que sua vida muda bruscamente: o professor encontra um casal de imigrantes morando no apartamento dele. O homem fica surpreso, mas não demora muito para se solidarizar com os estrangeiros, e passa a dividir o local com eles. Inclusive, o professor faz amizade com o rapaz, que até o dá aulas de tambor, muito embora seja quase sempre visto antipaticamente pela namorada do rapaz.
O filme prossegue num ritmo calmo mas constante, sempre vigilante. É tanto que são duas, eu creio, as cenas realmente tensas que podem ser notadas durante o filme inteiro. A primeira é a cena onde o professor encontra a moça senegalesa na banheira de seu apartamento, e a outra é a cena do surto, perto do final, onde o professor, geralmente pacato, expulsa sua raiva e seu desapontamento diante de uma notícia ruim. Não por acaso, essas duas cenas são duas das melhores do filme inteiro. O drama de Tom McCarthy dá corda a uma tonelada de conflitos em torno de uma história mundana e simples, profundamente tocante e poderosa.
Discretamente, Tom põe o dedo na ferida de uma temática atual e que ainda provoca polêmica, mas sem ser necessariamente escandaloso ou impessoal. É a história sobre o encontro de dois mundos diferentes, duas culturas diferentes, hábitos diferentes, histórias diferentes, numa só. O Visitante opta por um retrato afável de uma realidade cruel. Também é sobre a esperança em um mundo perdido e desgovernado, aprender a lidar com a derrota e seguir em frente, acreditar no poder da união.
O elenco dá um show de competência bem-sucedido e certeiro. Richard Jenkins, o protagonista sessentão do longa, é dono de uma performance irreparável, absolutamente plausível e emocionante. Além dele, também vale mencionar as atuações ainda mais inesquecíveis e bonitas de Haaz Sleiman (o imigrante sírio Tarek), Danai Gurira (a namorada senegalesa de Tarek e vendedora artesanal, Zainab) e Hiam Abbass (como Mouna, mãe de Tarek que rouba a cena nos atos finais de O Visitante com um desempenho pra lá de versátil).
Além de ser um verdadeiro gênio na área roteirística, Tom McCarthy mostra que sabe trabalhar bem com o gênero dramático e executa em O Visitante uma aquarela de emoções, diálogos e planos sensacionais que tanto contribuem para a atmosfera dramática da trama quanto à estruturação da lista de personagens. Controle e maturidade sustentam a história. É brilhante.
Bem perto do final, o filme logo se metamorfoseia de drama em filme-denúncia, quando logo se propõe sua crítica ao sistema de imigração americano e às pertinências e absurdos do governo da "maior nação do mundo". Direta e indiretamente, a dura alfinetada de Tom. É claro, no quesito filme-denúncia, Spotlight fica na frente, mas é bom observar que o diretor desde então já cultiva essa característica fílmica tão benévola e precisa. Ainda sim, O Visitante é mais drama do que filme-denúncia, enquanto Spotlight perece como mais um filme-denúncia do que um drama propriamente dito. Entretanto, ambos os trabalhos dão conta do recado e funcionam astutamente de ambas as maneiras.
O Visitante é um filme, acima de tudo, sobre a humanidade, sobre abraçar as diferenças, celebrar a união e preservar a boa vontade... É um filme espetacularmente belo e que merece uma conferida. Poderoso e sensível, O Visitante é maravilhoso, tocante, de deixar qualquer um estonteado. Por favor, vejam!
O Visitante (The Visitor)
dir. Tom McCarthy - ★★★★
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