sábado, 26 de março de 2016

Crítica: "NOITES DE CABÍRIA" (1957) - ★★★★★


Fellini é mais que um mestre. O homem é dono de alguns dos maiores e mais importantes filmes de todos os tempos. Sua filmografia de ouro resume-se a obras-primas escandalosamente excepcionais do cinema italiano, exemplares originais de sua autenticidade e genialidade inesgotáveis. Federico Fellini revolucionou a 7ª arte e a enfeitou com películas primorosas e inesquecíveis. É só ver um filme dele para confirmar. Não houve ninguém como ele. Fellini é único. E é em vezes em que a gente vai ver um filme seu e acaba se deliciando inesperadamente, como foi o caso de Noites de Cabíria, um dos melhores filmes dele e que o internacionalizou, levando seu nome à fama mundo afora como um dos ícones eternos do cinema, fama que vive até hoje pelas mentes cinéfilas da Itália ao resto do planeta. 

Enfim, falemos de Noites de Cabíria, essa delícia de filme que me encantou pra caramba. E muito se deve à Giulietta Masina, a Cabíria do título, uma prostituta italiana iludida pelos fracassos amorosos que vaga sensualizando pelos becos de Roma e arredores à procura do grande amor entre seus clientes, com um alto percentual de insucessos. A sequência inicial já é uma pérola: Cabíria, passeando com o "namorado", um tal de Giorgio, é trapaceada pelo rapaz, que rouba a sua bolsa e a joga num rio. Cabíria quase morre afogada, mas, após acordar do desmaio, sai toda desvairada atrás do amado ladrão. 

Esse prólogo tragicômico já diz muito sobre a nossa protagonista: uma prostituta escandalosa e iludida, sem rumo e sem expectativas, à espera do grande amor que irá tirá-la da vida de miséria que leva. Apesar de quase sempre aparecer como uma "donzela" rude, mal-humorada e barraqueira, Cabíria esconde sua personalidade ingênua, tenra e doce por trás do olhar de doida que carrega e o jeitão todo desajeitado e boçal. 

O clássico de Fellini combina romance e drama delicadamente. O desfecho é de partir o coração. Fellini decora sua fábula com sensibilidade. A jornada de Cabíria, por mais sofrida que seja, não deixa de ter seus encantos afáveis. O filme é mais drama do que comédia, mas o diretor sabe combinar as duas linguagens com uma organização tentadora. 

A performance da Giulietta Masina, uma das melhores da atriz, é uma das provas mais satisfatórias e certeiras do talento e da competência dessa intérprete magistral, num desempenho fascinante e devidamente memorável. Ela na pele de Cabíria é simplesmente delicioso, um espetáculo inexplicavelmente adorável. 

Assim é Noites de Cabíria. Fellini brinda o cinema com uma obra especial, perspicaz e muito bela. Difícil não ficar comovido, arrasado e presenteado com essa história amável, pra lá de emocionante, capaz de nos mover no demorar de um toque e no intervalo entre uma lágrima e um sorriso. 

Com estilo, Fellini apimenta com um humor próprio e elegância esse trabalho primoroso. Segmentos icônicos, personagens bem construídos... Não tem do que reclamar. Noites de Cabíria é extraordinário e ponto. Assim como é impactante, também é engraçado, verdadeiro e clemente. Noites de Cabíria é simplesmente sublime. Sublime em todos os sentidos. É uma obra inegável, plausível e prazerosa, fantástica e magicamente apaixonante. Um conto sobre amor e ilusão refrescante e intenso, um item valioso dentro da filmografia de um dos maiores cineastas da história.

Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria)
dir. Federico Fellini - 

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