quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

JACKIE (2016)


O primeiro filme em língua inglesa do cineasta chileno Pablo Larraín (diretor de No, aclamado drama político indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012) inicialmente teria sido imaginado como uma minissérie da HBO, à versão do roteiro de Noah Oppenheim, e depois reimaginado para as telonas, resultando nesta que é uma das cinebiografias inconvencionais mais bem construídas concebidas nos últimos anos. O retrato agoniante dos dias mais atordoantes da vida da primeira-dama americana Jacqueline Kennedy Onassis, após o assassinato de JFK, é costurado com delicadeza, postura irretocável e uma notória singularidade. Uma observação íntima e densa de uma mulher considerada um ícone do status político e da sociedade americana atravessando um dos momentos mais turbulentos de sua jornada.

Natalie Portman, recentemente indicada ao Oscar por sua performance estonteante em Jackie, encena a primeira dama com o devido olhar, respeitoso e honesto, que esculpe sua figura sem enaltece-la, retratando-a como quem ela era, deixando de lado a clássica imagem que é conferida a ela, e dar um tom mais complexo à sua abordagem perplexa e onírica. Há também a crítica política indireta que o filme lança sobre um dos momentos mais pesados da história americana e o impacto no universo político. Mas, lembrando que o foco do filme é a primeira-dama Jackie, seus sentimentos, seus questionamentos, suas confissões e suas revelações, e, dessa forma, a abordagem política fica em segundo plano.

A trilha sonora, composta pela genial Mica Levi (a mesma do surrealista Sob a Pele) instala um certo clima de suspense, sustentado pelos artifícios inconvencionais de Larraín, que torna Jackie muito bem dirigido. As sequências da entrevista são bastante interessantes, e a posição que Portman toma diante da personagem, com uma certa frieza, também é bastante notável.

Enfim, Jackie é um filme a ser estudado, tanto por retratar de maneira quase controversa fragmentos de um capítulo marcante da história dos EUA e, respectivamente, da vida de uma das mulheres mais influentes dentro do universo político, a lendária Jackie, nesta reconstrução tão autêntica. A fotografia (Stephane Fontaine, o mesmo de Elle e Capitão Fantástico) é maravilhosa, riquíssima. Gosto de pensar dos figurinos e da direção de arte desta maneira também. Aliás, tecnicamente falando, Jackie é impecável.

Jackie
dir. Pablo Larraín
★★★★

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