sábado, 23 de fevereiro de 2019

GREEN BOOK: O GUIA (2018)


Green Book esteve mergulhado em várias polêmicas durante sua passagem pelos principais prêmios de cinema da temporada e o Oscar, e isso veio enfraquecendo suas oportunidades de ser um concorrente forte, ainda que ele permaneça comentadíssimo e favorito a Melhor Filme no Oscar 2019, que acontece amanhã. Não foram apenas as polêmicas exteriores que prejudicaram o longa. Também se falou muito que estaria se tentando entrar no radar dos prêmios com um filme apelativo sobre temáticas raciais, e que o filme é demais básico e inaprofundado quando toca em questões que deveriam ser levadas mais a sério.

Deméritos à parte, é inegável que, apesar de suas falhas, Green Book funciona mais como uma comédia leve, que é a especialidade do seu diretor, um cara que por toda a carreira trabalhou fazendo comédias escrachadas e sucessos comerciais, fracassos críticos. Na maior parte do tempo, o filme tenta falar dos seus problemas com um olhar de conciliação, o que com certeza foi interpretado de maneira mais séria do que ele próprio se enxerga, e realmente, não consegue ser tão expressivo quanto quer, embora produza resultados curiosos para um filme que está mais focado em êxitos mais redondos. Sendo assim, funciona melhor na sua despretensão (os irmãos Farrelly sempre tocaram nas questões das diferenças em suas comédias com um olhar sutil, não irrelevante). 

Falha quando tenta dar conta desse contexto racial com uma certa "seriedade", mas se localiza quando se lança em partes mais dramáticas. Além disso, consegue estabelecer uma conexão no mínimo interessante entre seus dois protagonistas e o clima político/social dos EUA diante das tensões segregacionistas dos anos 60 (Mortensen, como um motorista branco que trabalha para um músico negro fazendo uma turnê pelo Sul do país, interpretado pro Ali, que deve ganhar seu segundo Oscar, ambos estão excelentes, inspirados nas cenas em que contracenam).

Lançando cenas que são mais incisivas do que aparentam, o filme faz um comentário pertinente, mas está mais interessado em romantizar a amizade entre os dois personagens principais, em explorar a ternura dessa relação e seu filtro conciliativo, e que casa perfeitamente com a mensagem que ele quer passar: de que a mesma conciliação que era necessária nos tempos da segregação ainda permanece essencial nos dias de hoje. 

Green Book pode estar longe de ser o filme perfeito, mas consegue ser muito mais humano na sua premissa descompromissada, seguro em sua leveza, inesperadamente simpático apesar das falhas. E, por justamente não adquirir essa ambição de ser o filme completo, ele explora bem o que tem à sua volta, e extrai uma dinâmica deliciosa das suas simplicidades. Concorre ao Oscar em filme, ator principal e coadjuvante, roteiro original e edição. 

Green Book: O Guia
Green Book
dir. Peter Farrelly
★★★

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