"Bergman anseiava pela possibilidade de o filme se tornar um fenômeno religioso... Mas, no final, ele era um grande entretenimento. O Sétimo Selo prende a sua atenção. Não é como fazer uma lição de casa.", Woody Allen, 2007 ("1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer")
É tanto filme pra comentar que eu nem sei por onde começar. Mas, vamos lá. Vi ontem esse que é uma dos mais obrigatórios filmes do mestre Bergman, o admirado O Sétimo Selo. Que filmão! E ainda é pouco chamá-lo de clássico. É uma obra completa, sem igual, definitivamente um marco cinematográfico. Bergman firma-se, mais uma vez, como o eterno poeta, ilusionista, filósofo do cinema. Sua perspicácia é comovente.
Creio que não exista nem de longe um filme no mínimo comparável a O Sétimo Selo, inclusive dentro da filmografia do próprio Bergman, no que diz respeito a qualidade, profundidade e força fílmica. É único, não há nada igual. Talvez A Fonte da Donzela, que se passa no século XIV, possa remeter um pouco quanto à época, ainda que eu não tenha tido a chance de conferir ainda. E talvez tenham outros títulos, dos quais não me recordo agora, dada a vasta filmografia de Bergman e a temática religiosa tão propagada na mesma.
Trata-de se um filme extremamente delicado e poderoso. Bergman transforma cinema em monumento, contemplando a filosofia do tempo, do espírito e do espaço, nos maravilhando com imagens e sequências tão absolutas e remotas que chegam a ser oníricas, como a famosa cena do cavaleiro jogando xadrez contra a morte com sua vida como preço caso perca a partida, ou a cena final, da "dança macabra", extremamente inesquecível. Aliás, que ótima interpretação a de Bengt Ekerot no papel de Morte. A melhor do filme. Max von Sydow (o cavaleiro) e Nils Poppe (Jof, o ator) também estão excelentes.
A fotografia de Gunnar Fischer, que trabalhou com Bergman em muitos de seus primeiros filmes, como Juventude, o sensacional Monika e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão e Morangos Silvestres, combina bem contraste, realce e proporção. Algumas das melhores cenas do filme o são em virtude do magnífico trabalho de fotografia de Fischer, exímio a cada ângulo, acompanhando bem o clima distópico que o filme inspira, a profundeza dos detalhes, a riqueza técnica e a perspectiva filosófica da trama, bem como a intensidade das atuações. A câmera capta com perfeição as características da época, a escuridão e a atmosfera metafísica. É admirável.
O Sétimo Selo navega pela tenebrosidade e pela complexidade do questionamento, conferindo sagacidade e essência moral e estética à sua audaciosa proposta. O resultado é primoroso. Não há como negar que O Sétimo Selo é um filme incrível, espetacular. Isso é que é cinema de verdade. Bergman é um gênio. E O Sétimo Selo é um presentão.
O Sétimo Selo (The Seventh Seal)
dir. Ingmar Bergman - ★★★★★
O Sétimo Selo (The Seventh Seal)
dir. Ingmar Bergman - ★★★★★
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