quinta-feira, 2 de junho de 2016

Crítica: "MAIS FORTE QUE BOMBAS" (2015) - ★★★★


Ainda que seja muito cedo para dizer (levando em conta os filmes que eu ainda não vi que estrearam no circuito e os que ainda vão estrear), creio que Mais Forte que Bombas já é um dos melhores filmes de 2016. E o que não falta é motivo para ele estar entre os primeiros da lista. Dirigido pelo norueguês Joachim Trier (diretor de Oslo, 31 de Agosto), o filme traz em seu elenco Isabelle Huppert, Jesse Eisenberg, Gabriel Byrne, Amy Ryan e a revelação juvenil da temporada, Devin Druid. Trata-se de um trabalho visionário, distinto e sobretudo poderoso, pela força de sua trama avassaladora e pelo elenco soberbo. Distante do melodrama e do sentimentalismo barato, Mais Forte que Bombas cativa justamente pelas emoções que transmite ao espectador, com criatividade, gosto e intensidade. É um drama nada fácil, único pela maneira que trata a história, com um olhar simples e tenro, longe de um um possível sentimentalismo clichê, apelativo, forçado. 

O filme explora o impacto da morte de uma renomada fotógrafa, Isabelle Reed (Isabelle Huppert), na vida de seus familiares: o marido (Gabriel Byrne), o filho mais novo (Devin Druid) e o mais velho (Jesse Eisenberg), e como cada um deles lidam com a perda e o luto. focalizando na relação irregular entre Gene, o pai, e Conrad, o filho adolescente, que está passando por uma fase turbulenta, que fica ainda mais complicada com o falecimento de Isabelle.

Não diria que é um filme que faz chorar ou coisas do tipo, mas é definitivamente muito emocionante, não num estilo de emoção comum, pitoresco, mas sim uma emoção própria, aquela da alma, de tocar bem fundo na gente, de nos deixar extasiados. É uma emoção bastante interessante, que interage com a nossa perspectiva em torno do filme. O que realmente importa está na forma como o filme enxerga e interpreta as coisas, e como ele consegue captar e transmitir suas emoções através de uma dinâmica bastante incomum, que chega a ser até rara. 

Um clima de tensão perdura no ar, a destreza da tragédia reforça o medo da consequência, um sentimento inesgotável de remorso pelos fracassos do passado como tônica recorrente. Mais Forte que Bombas é um drama contido sem medo de explorar a angústia e a dúvida por trás dos personagens que eventualmente revelam-se enigmáticos e curiosíssimos, cujos atos se explicam em volta de outros e cujos pensamentos se ligam aos artifícios dramáticos que costuram a trama. 

Em seu 3º longa-metragem, Joachim Trier esbanja maturidade e excelência cinematográfica tanto dirigindo quanto escrevendo este furiosamente belo monumento dramático. A construção dos personagens é minimalista e bem equilibrada. O interessante é que a proposta que ele sustenta mostra-se mais poderosa que a própria trama, certas vezes. É, no mínimo, admirável que um filme funcione tão bem assim sob diferentes espectros e possibilidades. Isso pra não esquecer do elenco, marcado pelas atuações exímias de Gabriel Byrne e Devid Druid, que fazem pai e filho, e, por acaso, são os melhores do elenco. Achei que a maravilhosa Isabelle Huppert apareceria mais, o que me desapontou um pouco, já que sou um grande fã da intérprete francesa, e confesso que vê-la tão rapidamente em curtos fragmentos e flashbacks ao longo do filme me frustrou. No entanto, a participação dela é notável e eu não consigo ver outra pessoa no papel em que ela está.

Bem, não faltam elogios a serem dirigidos a Mais Forte que Bombas, que é seguramente um filme brilhante, fenomenal, único, dotado de uma sensibilidade exótica. É quase inacreditável que tanta gente não tenha gostado desse que eu já considero um filme quase indispensável pra quem é cinéfilo. Pra fechar, não pensam que eu esqueci do visual deslumbrante que o filme carrega, um dos elementos que mais me emocionou e encantou em relação a este filme (a fotografia é da autoria de Jakob Ihre, o mesmo de Oslo, 31 de Agosto, O Fim da Turnê e Começar de Novo -- o 1º filme de Joachim Trier). 

Agora só faltam Dheepan, O Valor de um Homem, Nossa Irmã Mais NovaO Conto dos Contos (já lançados nos cinemas nacionais), Marguerite & Julien, Chronic, The Sea of Trees, Mountains May Depart e Meu Rei pra fechar a lista dos filmes que estrearam em competição em Cannes ano passado. 

Mais Forte que Bombas (Louder than Bombs)
dir. Joachim Trier - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário