quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Crítica: "A COLINA ESCARLATE" (2015) - ★★★★


Só um filme do Guillermo del Toro pra salvar 2015 da perdição quanto ao terror, já que o ano, até agora, só trouxe desgraça para o gênero com produções vazias e fraquíssimas, sequências pobres e refilmagens horrendas, no sentido de serem ruins mesmo. E que lindo filme é A Colina Escarlate, o melhor até o momento, obra deliciosa e excepcional de tão rara vinda do magistral Guillermo del Toro, aclamado mexicano que começou a carreira lá em meados de 90 com Cronos, e desde então conquistou uma legião de seguidores muito centralmente por duas importantes películas suas, A Espinha do Diabo e, sua maior e mais encantadora, O Labirinto do Fauno, e também a já trilogia Hellboy (há rumores de que um terceiro filme está em fase de negociações). A Colina Escarlate, embora esteja passos atrás de O Labirinto do Fauno, reproduz determinados aspectos lá presentes e por isso deixa no ar um clima familiar, que por um lado não é tão forçado a ponto de transparecer repetitivo, e favorece nossa compreensão, e segurança, em termos de força técnica. 

Com A Colina Escarlate, Guillermo del Toro confirma mais uma vez seu imprescindível talento para o roteiro (brilhante) e a direção, sua dedicação e um futuro de muitos sucessos dentro do gênero, do qual Del Toro é um fiel adepto e agora mestre. A Colina Escarlate bebe na fonte do clássico Nosferatu, assumido por Guillermo à revista britânica Sight & Sound como um de seus dez filmes favoritos, na presença de monstros nem apenas sobrenaturais e um núcleo romântico (aqui centrado no casal Edith e Thomas) que surge para confortar o espectador, ou maioria das vezes só funcionar como um intervalo às cenas de tensão. 

Em Nova York, Edith Cushing, filha de um rico proprietário de construções, aspirante à escritora, ainda é assombrada pelo fantasma da mãe, visto quando criança, logo após a morte dela, sendo esse episódio influência em seus trabalhos literários, em cujos se ausenta, segundo um leitor, romance. A chegada de Thomas Sharpe e irmã, Lucille, que veio da Inglaterra para tratar de negócios com o sr. Cushing, desperta na jovem o amor. O alvo dos terríveis irmãos Sharpe não é, porém, Carter, e sim a filha dele, Edith, cobiçada por Thomas e por quem ele também se apaixona. 

Descoberto os reais interesses dos dois irmãos, Carter Cushing lhes pede para voltar à Inglaterra, e que Thomas, indiretamente, machuque Edith com palavras espontâneas de despedida. É a partir daí que o filme, até então bem superficial quanto ao terror, ganha expansivas proporções com a chegada e profundeza de cenas de violência e crueldade infinitamente saciantes. É em Crimson Peak (Pico Escarlate) que a situação degringola de vez. Edith, acompanhada dos misteriosos irmãos, passa a desvendar, pouco a pouco, a verdade por trás de toda a mascarada armação na qual está envolvida. 

Ao contrário do que se especulava, A Colina Escarlate é mais terror do que drama em si, lembrando que o auge dramático de Guillermo foi em O Labirinto do Fauno, com a combinação perfeita de ambos os gêneros. Aqui há, só que num valor minimizado. A humanidade da trama está na elaboração de vilões que funcionam como as reais bestas, e não os fantasmas que assombram a Edith. Aparentemente portadora de algum distúrbio psíquico, Edith encontra na existência de fantasmas a graça de todo o mistério da vida. 

É tanto que, nas cenas onde há o envolvimento dos monstruosos mortos-vivos, ela só fica tensa na hora que se depara ou com o rosto e demais aspectos físicos da figura, sem precisar ficar toda histérica, o diabo a quatro, e etc. Coragem, digamos. Eu acho que a personagem de Edith é bem corajosa, quando muito marmanjo sujaria as calças diante de uma situação dessas. Isso faz parte até de uma metaforização femininista de A Colina Escarlate, que bem exemplifica a independência da mulher dentro dos mais evoluídos serviços trabalhistas, que ganhou amplitude do fim do século 19 até os dias atuais. 

A Colina Escarlate é um daqueles filmes cuja beleza é indiscutível. Não é apenas bela. Não é apenas grande. É, em todos os ângulos possíveis, indiscutível. Um estrondo visual. E não é de se estranhar vindo do cara que arquitetou O Labirinto do Fauno. O homem por trás dessa incrível fotografia é Dan Laustsen que, entre umas e outras, é diretor de fotografia de Terror em Silent Hill. Espetáculo. Isso por que eu ainda não falei da direção de arte. Que maravilha! Que maravilha! Desde o plano que abre a vinda de Edith à grande mansão de campo até os quarenta minutos finais a direção de arte mostra-se a mais potente aliada da magnificência desta obra. Cenários cinzentos e em ruínas, charme de um épico do terror que não poupa gastos quanto à construção deste monumento, passagens secretas, lareiras fervescentes, poltronas antiquadas. Impecável. 

A câmera de Guillermo del Toro consegue captar bem o obscuro espírito da história e suas malévolas segundas intenções, que proporcionam ao espectador um final cativante e certamente bem-montado. Interessante é nas sequências onde Edith encara as almas penadas do assombrado castelo, onde a imagem fica apoiada na personagem, de forma com que ela funcione como um escudo. Isso contribui tanto para o suspense quanto para a apreciação da nata trilha sonora de Fernando Velázquez. Nas ricas cenas de agressão, como na do banheiro do clube, pra mim a melhor, a trilha sonora é bem valorizada quando é mixada ao impacto dessas sequências (estou começando a desenvolver uma teoria de que Guillermo del Toro é fanático por fraturas, cortes, tiros e qualquer outro tipo de lesão relacionado à fase, lembrando o "sorriso" do Vidal em O Labirinto do Fauno e aqui em duas cenas, ou quatro, dependendo do ponto de vista).

Esses três últimos anos marcam uma ótima fase para "os três amigos", o trio dos maiores diretores mexicanos dessa geração, formado por Alfonso Cuarón (presenteou-nos com o especial Gravidade em 2013), Alejandro G. Iñárritu (arrecadou três estatuetas na última edição do Oscar dirigindo, produzindo e escrevendo Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de 2014) e agora Guillermo, que traz um terror maturo, de qualidade, charmoso, belíssimo e bizarramente macabro. 

O elenco é de primeira. Mia Wasikowska, mesmo aqui numa performance sombria e escurecida pela mal ao redor, permanece com o posto de beldade irreparável. Quem parece ter sofrido sérias mudanças com a inclusão da maquiagem foi a Jessica Chastein, que por sinal ficou bem gótica na melhor performance de A Colina Escarlate, a fatal megera Lucille, e o Tom Hiddleston, que finalmente parece ter encontrado uma utilidade neste mundo numa atuação digna de aplausos. A Colina Escarlate não seria absolutamente nada sem esse trio.

A Colina Escarlate (Crimson Peak)
dir. Guillermo del Toro - 

Um comentário:

  1. Não sou muito fã das historias de terror, mas este filme é realmente extraordinário. Acho que é um dos melhores filmes que ele fez.Charlie Hunnam se compromete muito com o personagem. Considero que madurou como ator. É o ator mais bonito e adorei vê-lo neste filme. Tambem vi no filme Rei Arthur. Ele sempre surpreende com os seus papéis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções.Seguramente o êxito de filme Rei Arthur de deve-se a participação de Charlie Hunnam porque tem muitos fãs que como eu se sentem atraídos por cada estréia cinematográfica que tem o seu nome exibição. Suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. É uma produção espetacular.

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