François Ozon é um cineasta interessantíssimo. Dele, vi esse ano Uma Nova Amiga e mais outros dois ou três filmes, já que não sou bem familiarizado com a sua filmografia, mas estou aqui no computador com uma cópia de 8 Mulheres, considerado seu maior filme, e que estrela um elenco feminino esplêndido (que conta com a participação da co-protagonista deste aqui, a inesquecível Ludivine Sagnier) e a Isabelle Huppert, que pra mim já faz toda a diferença com a sua presença no filme, sem falar na Catherine Deneuve, e cujo pretendo ver muito proximamente. Tive um estranho sonho no meu último descanso. Envolvia o Oscar, e sonhei neste que era uma chuvosa tarde e eu acabara de receber uma lista contendo os indicados ao prêmio, com o Lars Von Trier e o François Ozon indicados. Bem estranho. O sonho não me saiu da cabeça por nada, o que é ainda mais estranho, e decidi ver Swimming Pool carregado pelos instintos da última noite em relação à Ozon. E eu gostei. Muito (o que eu não esperava).
O filme é um suspense cuja trama gira em torno de duas intensas personagens femininas, sendo a principal uma escritora de romances policiais inglesa, Sarah Morton (interpretada com força pela Charlotte Rampling, numa das melhores atuações da sua carreira), autora de uma sucessiva franquia, que por alguma razão não está conseguindo se concentrar em meio ao turbilhão londrino e à frenesi que a persegue, tipicamente sucessora do lançamento do novo livro estrelando sua grande criação. Seu editor, John, sabendo disso a envia para a sua casa de veraneio na França, onde a mulher tem um inusitado encontro com uma jovem chamada Julie, a filha de Paul que veio passar uns dias no local, e onde tem vários encontros com os mais diversos homens, o que destrói o sossego de Sarah, que no local começa a escrever dois livros, sendo um sequência da sua famosa série e o outro sobre a visitante com quem ela compartilha a casa. Não demora para que uma porrada de intrigas tomem conta do clima de À Beira da Piscina.
François Ozon dispõe muitos artifícios no intuito de fazer com que o espectador se conecte à história, que naturalmente carrega um ar meio estressado, que, com o passar dos tempo, nos leva à conclusão de que estamos vendo a um thriller, que no início até não pode soar como um. O início de Swimming Pool é bem monótono. Mas esse estado é crucial para a abertura e o desenrolar da história, e a análise minimalista dos detalhes faz com que essa entrada represente um "aquecimento", onde determinadas importantes informações devem ser absorvidas pelo espectador com muito cuidado. Um típico suspense. Sem falar na brilhante trilha sonora de Phillipe Rombi, que desde o começo já começa a aparelhar o filme com uma delicada aparência Hitchockiana. François Ozon, que outrora já tinha demonstrado ser um aprendiz incólume do Pedro Almodóvar, muito notório até mesmo na sua mais nova produção, agora aprofunda seus conhecimentos em torno de estilos cinematográficos e nos apresenta uma mistura contundente de Alfred Hitchcock e Brian De Palma, considerados os mestres do gênero aqui explorado com uma enorme sutileza e ao mesmo tempo grandeza pelo Ozon.
Se bem que seu filme anterior, de uma forma nem tão dramática, já tinha sinalizado toques conectados ao suspense, uma vez que 8 Mulheres relata um determinado número de mulheres reagindo a um assassinato, isoladas dentro de uma mansão enquanto tentam amenizar o perigo da situação. E, de fato, é uma trama meramente similar à Festim Diabólico (de Hitchcock). A presença da belíssima Ludivine Sagnier é motivo de alegria, de diferentes formas, em ambos os filmes, sendo aqui a alegria redobrada. A tímida proporção de femme fatale característica de sua personagem soma-se a sua desnorteante beleza, que ritmiza seu sexy caráter e estimula uma desenfreada sensualidade, que aproxima o público dos resultados finais desta.
O roteiro, assinado por François em parceria com Emmanuelle Bernheim, toma rumos que podem transparecer confusos para o espectador quando colocados em prática no final que certamente provoca dúvidas, mas é um deleite. [spoiler] Há varias teorias para Swimming Pool, sendo uma delas (levemente contestada pelo diretor) e a mais aceita de que a personagem de Julie estaria apenas na cabeça da escritora, fruto de sua imaginação, e seu isolamento só reforçaria isso, uma vez que o final recria a personagem de Julie como Julia, filha de Paul e britânica. Eu já sigo a versão de que a Julie seria a filha bastarda de Paul, já que ele tivera um caso com uma francesa e então a engravidado no pequeno vilarejo, que não foi reconhecida por ele. Como forma de silenciá-la, provocou um acidente de carro, citado pela moça perto do final. Mas sempre há controvérsias. Além disso, muitos contestam que a Julie seria uma espécie de invasora, que não era a filha de Paul mas se passava por ela como forma de retardar a profundidade das mágoas do assombroso passado envolvendo sua mãe. O que é certo é a inteligente construção da narrativa, forte deste suspense que mixa com perfeição Hitchcock e uma dose fatal de sensualidade que acaba por contagiar o espectador, em muitos aspectos, e então nos proporciona a fugir do superficial, com uma figuração complexa e que nos deixa pensando por um tempão, nas inúmeras possibilidades oferecidas pelo mesmo. Verdades e segredos transbordando numa onda assassina, misteriosa e erótica.
Swimming Pool - À Beira da Piscina (Swimming Pool)
dir. François Ozon - ★★★★
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