Pensei que ia ter um ataque cardíaco.
Ainda estou em dúvida se tal sensação foi ocasionada ou pela bombástica energia
de 007 Contra Spectre ou
pela sala equipada com IMAX na qual o vi. É claro, não dá pra discordar nem de
longe da qualidade de ambos, mas creio que a surpresa foi por conta do próprio
filme mesmo, embora o IMAX, a cada projeção, tenha cada vez ganhado mais a minha
confiança. Enquanto o filme remete ao antiquado estilo de filmes da franquia,
também tem conexão com essa nova linhagem que surgiu juntinho da fase Daniel
Craig, que supostamente estaria abandonando o 007, mesmo que tenha mais no
contrato mais um filme para fazer (das duas mais "polêmicas"
declarações de Craig à respeito desse assunto, estão a de que ele só voltaria a
encarnar Bond por dinheiro e que preferia se enforcar a filmar mais um). Sendo
uma despedida (que fica muito bonito tratando-se desse filme) ou não, o
importante é que Daniel Craig mantém seu posto de um dos melhores intérpretes
do James Bond, em um filme que por si só é bastante comovente e
entretedor.
Embora não seja um ponto final definitivo
na trama dessa nova fase, 007
Contra Spectre é bem importante para ela, tanto por desvendar a
ligação entre os três últimos desfechos da saga e o responsável por toda a
tragédia que se instalou não só dentro dessas histórias mas que também abalou a
vida pessoal do James Bond, com o ressurgimento de fantasmas desse macabro
passado. A sequência pré-créditos do filme já pode ser anotada como uma das
melhores que já abriram um filme da série em toda a sua história. Na Cidade do
México, durante a festa do Día de los Muertos, Bond, fantasiado, caminha entre
uma usual aglomeração de Catrinas e caveiras. É um cenário estonteante e ao
mesmo tempo culminado pelo clima de suspense geral, centralmente proporcionado
pela trilha sonora de Thomas Newman, pela segunda vez a assumindo.
Após
acompanhar uma sexy Catrina até um quarto num prédio, ele deixa o local e
simplesmente começa a caminhar por cima das construções. Nessa mesma sequência,
a explosão de um apartamento e a automática demolição desse mesmo é de tirar o
fôlego. Mas o fragmento do helicóptero é o melhor. Incrível. Não tenho mais
palavras para descrever a intensidade do embate entre o Bond e o misterioso
homem de branco dentro de um helicóptero cambaleante. Muito embora seja uma
abertura gigantesca, os créditos poderiam ter sido melhor. Só acho isso. Até a
Ana mencionou isso: "Parece abertura de novela da Globo". E o pior é
que não dá pra discordar disso.
Afastado indeterminadamente pelo M depois
do caos no México, Bond, monitorado pelo Q, tem apenas 48 horas para descobrir
a identidade de um homem mencionado por Sciarra. Transitando entre Itália e
Áustria, esse tempo é marcado pelo sensual, mas muito rápido pro meu gosto,
encontro de Bond com a viúva de Sciarra. O mais inaceitável é terem
desperdiçado à toa a Monica Bellucci, aqui desnorteante, ainda que aos
(inacreditáveis) 50. A italiana revela-se muito bem conservada, com um rostinho
e um corpo que nem gente de 20, hoje em dia, atiça. Não é por acaso que ela é a
mais velha bond girl. E
falando em bond girl, a
Léa Seydoux, que mulher sensacional. Obra divina. No papel de Madeleine Swann,
Léa encanta e excita. Certamente a francesa está melhor do que nunca, numa
atuação forte.
Inicialmente repulsa à Bond, Swann,
abalada pela difícil relação com o pai, caçado pela SPECTRE, sendo
ex-integrante da organização, mantém-se afastada do 007, apesar de seu instinto
ir, aos poucos, socializando com a personalidade do agente, e não demora daí
pra frente pra uma cena quente rolar. O bom é o clímax não falha ou morre em
nenhum segundo. Até mesmo dentro de um trem, a ação se propaga com facilidade e
ganha proporções absolutamente imprescindíveis, com a cena da luta entre o Bond
e o Mr. Hinx, cena que também gera um eletrizante ataque, e confirma a química
de James e Madeleine, como um trabalho duplo. É claro que tal sequência,
tecnicamente vislumbrante, não escapa do clichê.
Ainda que esteja aquém de 007 - Operação Skyfall, 007
Contra Spectre, embora não reproduza com a mesma excelência a competência
dos segmentos de ação, obteve um investimento bem maior que Skyfall, sendo a nona produção
mais cara da história segundo atuais registros, com um financiamento de 245-300
milhões de dólares. É até estranho ver que comparado ao anterior, Spectre é inferior quanto
à utilização desse mar de dinheiro. Sem querer falar que é um dinheiro jogado
fora. Muito pelo contrário. Só acho que, com menos, Skyfall rendeu e foi
melhor. O filme, quase atingindo a terceira semana nos circuitos
cinematográficos de todo o mundo, obteve 314 milhões na bilheteria. Mas é um
pouco cedo pra dizer que o filme fracassou, até por que atingir a média (ficar
na frente ou no mesmo nível que o do financiamento) Spectre já atingiu. 007 Contra Spectre é
dominado pela ambição. Dá pra se satisfazer, ainda que seria melhor a qualidade
do filme então alinhar-se com essa faminta ambição.
O trio Logan, Purvis e Wade toma liderança
de um roteiro que funciona na ação, mas falha diante de determinados pretextos
que podem incomodar o espectador que procura algo mais racional e complexo
dentro de um filme de ação. Mas, fazer o quê? Acho que os produtores, que
praticamente manipulam toda a equipe a fim de seguir o tradicionalismo da
franquia, também tem participação nisso. Isso sem querer manchar o espírito do
007 e sua ligação com o tradicionalismo da série de filmes, e que é algo que
respeita os padrões da lendária criação de Ian Fleming.
Bom ver o Bond mais relaxado, a certo
modo, quanto à esses embates do passado e à constante pressão das tragédias
dentro de seu imaginário, contestado firmemente pelo retorno cômico dele em
piadinhas que acrescentam à nossa face impressionada um sorrisinho bobo. Não é
o melhor do senso de humor do personagem, que foi explorado muito bem em 007 - Cassino Royale, mas certamente
passa o recado, em sacadas como ele, num hotel no Tânger, perguntando à um
rato: "Para quem você trabalha?", e coisas do tipo. Bom ver que a
atmosfera trágica que se instala sobre a relação dele com a dra. Swann perdura
até o resto do filme, como se Bond fosse culpado, quando ele não é. Antes da
agônica sequência onde Bond é torturado por Franz, sequência que eu
"carinhosamente" apelidei de "sala branca" (e que lembra
uma cena de 007 Contra
Goldfinger, onde Bond está preso à uma suspensão de ferro, deitado, e Auric
Goldfinger posiciona um fatal laser próximo
da região íntima do agente), é possível ver a Madeleine chocada com o vídeo do
pai se suicidando, captado por uma câmera de segurança instalada na casa do Mr.
White na Áustria, é onde Bond mostra seu lado sensível e humano, pouco exibido
nos outros clássicos filmes do personagem, e que só veio a aparecer agora, com
o surgimento desses intensos últimos dramas da fase Daniel Craig.
Os trinta minutos finais, falando nisso,
são estremedores e merecem menção em relação às melhores cenas do filme.
Destaco a da bomba demolidora instalada na antiga sede do MI6. Imagino o preço
daquela cena, e até agora me arrepio com as lembranças do tenebroso cenário
arquitetado pelo vilanesco Oberhauser (Christoph Waltz prova o ótimo e carrasco
intérprete que é de vilões, somado aos impecavelmente feitos Bastardos Inglórios e Grandes Olhos). Um ótimo final
encerra esses últimos minutos, exímios. A fotografia de Hoyte Van Hoytema é bem
obscura, especialmente nos planos filmados na Áustria, mas é certamente um
deleite. O contraste é bem executado, por mais que tenha feito meus olhos
lacrimejarem. 007 Contra
Spectre é adrenalina
garantida, e também marca mais um sucesso, crítico e parcialmente comercial, da franquia 007, da qual sou
orgulhosa e assumidamente fã.
007 Contra Spectre (Spectre)
dir. Sam Mendes - ★★★★
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