sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Crítica: "007 CONTRA SPECTRE" (2015) - ★★★★


Pensei que ia ter um ataque cardíaco. Ainda estou em dúvida se tal sensação foi ocasionada ou pela bombástica energia de 007 Contra Spectre ou pela sala equipada com IMAX na qual o vi. É claro, não dá pra discordar nem de longe da qualidade de ambos, mas creio que a surpresa foi por conta do próprio filme mesmo, embora o IMAX, a cada projeção, tenha cada vez ganhado mais a minha confiança. Enquanto o filme remete ao antiquado estilo de filmes da franquia, também tem conexão com essa nova linhagem que surgiu juntinho da fase Daniel Craig, que supostamente estaria abandonando o 007, mesmo que tenha mais no contrato mais um filme para fazer (das duas mais "polêmicas" declarações de Craig à respeito desse assunto, estão a de que ele só voltaria a encarnar Bond por dinheiro e que preferia se enforcar a filmar mais um). Sendo uma despedida (que fica muito bonito tratando-se desse filme) ou não, o importante é que Daniel Craig mantém seu posto de um dos melhores intérpretes do James Bond, em um filme que por si só é bastante comovente e entretedor. 

Embora não seja um ponto final definitivo na trama dessa nova fase, 007 Contra Spectre é bem importante para ela, tanto por desvendar a ligação entre os três últimos desfechos da saga e o responsável por toda a tragédia que se instalou não só dentro dessas histórias mas que também abalou a vida pessoal do James Bond, com o ressurgimento de fantasmas desse macabro passado. A sequência pré-créditos do filme já pode ser anotada como uma das melhores que já abriram um filme da série em toda a sua história. Na Cidade do México, durante a festa do Día de los Muertos, Bond, fantasiado, caminha entre uma usual aglomeração de Catrinas e caveiras. É um cenário estonteante e ao mesmo tempo culminado pelo clima de suspense geral, centralmente proporcionado pela trilha sonora de Thomas Newman, pela segunda vez a assumindo. 

Após acompanhar uma sexy Catrina até um quarto num prédio, ele deixa o local e simplesmente começa a caminhar por cima das construções. Nessa mesma sequência, a explosão de um apartamento e a automática demolição desse mesmo é de tirar o fôlego. Mas o fragmento do helicóptero é o melhor. Incrível. Não tenho mais palavras para descrever a intensidade do embate entre o Bond e o misterioso homem de branco dentro de um helicóptero cambaleante. Muito embora seja uma abertura gigantesca, os créditos poderiam ter sido melhor. Só acho isso. Até a Ana mencionou isso: "Parece abertura de novela da Globo". E o pior é que não dá pra discordar disso. 

Afastado indeterminadamente pelo M depois do caos no México, Bond, monitorado pelo Q, tem apenas 48 horas para descobrir a identidade de um homem mencionado por Sciarra. Transitando entre Itália e Áustria, esse tempo é marcado pelo sensual, mas muito rápido pro meu gosto, encontro de Bond com a viúva de Sciarra. O mais inaceitável é terem desperdiçado à toa a Monica Bellucci, aqui desnorteante, ainda que aos (inacreditáveis) 50. A italiana revela-se muito bem conservada, com um rostinho e um corpo que nem gente de 20, hoje em dia, atiça. Não é por acaso que ela é a mais velha bond girl. E falando em bond girl, a Léa Seydoux, que mulher sensacional. Obra divina. No papel de Madeleine Swann, Léa encanta e excita. Certamente a francesa está melhor do que nunca, numa atuação forte. 

Inicialmente repulsa à Bond, Swann, abalada pela difícil relação com o pai, caçado pela SPECTRE, sendo ex-integrante da organização, mantém-se afastada do 007, apesar de seu instinto ir, aos poucos, socializando com a personalidade do agente, e não demora daí pra frente pra uma cena quente rolar. O bom é o clímax não falha ou morre em nenhum segundo. Até mesmo dentro de um trem, a ação se propaga com facilidade e ganha proporções absolutamente imprescindíveis, com a cena da luta entre o Bond e o Mr. Hinx, cena que também gera um eletrizante ataque, e confirma a química de James e Madeleine, como um trabalho duplo. É claro que tal sequência, tecnicamente vislumbrante, não escapa do clichê.

Ainda que esteja aquém de 007 - Operação Skyfall, 007 Contra Spectre, embora não reproduza com a mesma excelência a competência dos segmentos de ação, obteve um investimento bem maior que Skyfall, sendo a nona produção mais cara da história segundo atuais registros, com um financiamento de 245-300 milhões de dólares. É até estranho ver que comparado ao anterior, Spectre é inferior quanto à utilização desse mar de dinheiro. Sem querer falar que é um dinheiro jogado fora. Muito pelo contrário. Só acho que, com menos, Skyfall rendeu e foi melhor. O filme, quase atingindo a terceira semana nos circuitos cinematográficos de todo o mundo, obteve 314 milhões na bilheteria. Mas é um pouco cedo pra dizer que o filme fracassou, até por que atingir a média (ficar na frente ou no mesmo nível que o do financiamento) Spectre já atingiu. 007 Contra Spectre é dominado pela ambição. Dá pra se satisfazer, ainda que seria melhor a qualidade do filme então alinhar-se com essa faminta ambição.

O trio Logan, Purvis e Wade toma liderança de um roteiro que funciona na ação, mas falha diante de determinados pretextos que podem incomodar o espectador que procura algo mais racional e complexo dentro de um filme de ação. Mas, fazer o quê? Acho que os produtores, que praticamente manipulam toda a equipe a fim de seguir o tradicionalismo da franquia, também tem participação nisso. Isso sem querer manchar o espírito do 007 e sua ligação com o tradicionalismo da série de filmes, e que é algo que respeita os padrões da lendária criação de Ian Fleming.

Bom ver o Bond mais relaxado, a certo modo, quanto à esses embates do passado e à constante pressão das tragédias dentro de seu imaginário, contestado firmemente pelo retorno cômico dele em piadinhas que acrescentam à nossa face impressionada um sorrisinho bobo. Não é o melhor do senso de humor do personagem, que foi explorado muito bem em 007 - Cassino Royale, mas certamente passa o recado, em sacadas como ele, num hotel no Tânger, perguntando à um rato: "Para quem você trabalha?", e coisas do tipo. Bom ver que a atmosfera trágica que se instala sobre a relação dele com a dra. Swann perdura até o resto do filme, como se Bond fosse culpado, quando ele não é. Antes da agônica sequência onde Bond é torturado por Franz, sequência que eu "carinhosamente" apelidei de "sala branca" (e que lembra uma cena de 007 Contra Goldfinger, onde Bond está preso à uma suspensão de ferro, deitado, e Auric Goldfinger posiciona um fatal laser próximo da região íntima do agente), é possível ver a Madeleine chocada com o vídeo do pai se suicidando, captado por uma câmera de segurança instalada na casa do Mr. White na Áustria, é onde Bond mostra seu lado sensível e humano, pouco exibido nos outros clássicos filmes do personagem, e que só veio a aparecer agora, com o surgimento desses intensos últimos dramas da fase Daniel Craig.

Os trinta minutos finais, falando nisso, são estremedores e merecem menção em relação às melhores cenas do filme. Destaco a da bomba demolidora instalada na antiga sede do MI6. Imagino o preço daquela cena, e até agora me arrepio com as lembranças do tenebroso cenário arquitetado pelo vilanesco Oberhauser (Christoph Waltz prova o ótimo e carrasco intérprete que é de vilões, somado aos impecavelmente feitos Bastardos Inglórios e Grandes Olhos). Um ótimo final encerra esses últimos minutos, exímios. A fotografia de Hoyte Van Hoytema é bem obscura, especialmente nos planos filmados na Áustria, mas é certamente um deleite. O contraste é bem executado, por mais que tenha feito meus olhos lacrimejarem. 007 Contra Spectre é adrenalina garantida, e também marca mais um sucesso, crítico e parcialmente comercial, da franquia 007, da qual sou orgulhosa e assumidamente fã.

007 Contra Spectre (Spectre)
dir. Sam Mendes - 

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