quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Crítica: "A VISITA" (2015) - ★★★★


Com o excepcional A Visita, M. Night Shyamalan - depois de um escasso intervalo de sete anos - regressa ao gênero que o imortalizou como um dos diretores mais versáteis e íntegros dessa geração, numa obra tenebrosa e bem feita que simboliza tanto a re-ascensão deste que é possivelmente o mestre do terror alternativo contemporâneo, cujos últimos trabalhos foram recebidos com certa repulsa e dureza pela crítica americana e internacional, quanto reestruturação do estilo, convertido a um pseudo documentário, fórmula que remete ao recente A Forca, em conjunto de A Bruxa de Blair, e, dado o sucesso que experiência gerou a Shyamalan, promete desembocar, no futuro, em uma maior expansão e produtividade, ainda que a estética desse estilo provindo da indústria independente seja intensamente contestada e pouco apoiada. 

Confesso que me surpreendi quando fiquei à par da informação de que o filme tinha sido financiado com apenas cinco milhões, orçamento que, apesar de não proliferado, teve como reação a distribuição da Universal Pictures (que de uns tempos pra cá passou a oferecer suporte para produções de baixo custo), contribuindo para a sua chegada à outros países ao redor do mundo, isso contando com o cedo lançamento dele em nosso circuito, que sempre teve muito carinho pela filmografia do diretor, sem que nenhum longa seu jamais tenha sido lançado com atraso no Brasil, tendo apenas Corpo Fechado sido recebido com frieza nos cinemas nacionais. 

É excelente ver que diante de condições mais limitadas ele soube conduzir com criatividade seu projeto, reinventando o gênero sem que isso alterasse o diagnóstico do filme em si, quando a maioria dos diretores enfrentam uma decaída assim que expostos a orçamentos apertados. Se isso tem uma porrada de pontos positivos, os pontos negativos se instalam justamente nesse quesito da recepção comercial internacional, que, felizmente, não é o caso de A Visita

O filme começa com uma garota filmando um documentário, onde a mãe é entrevistada e revela detalhes de seu relacionamento com um professor, mais velho, na escola, homem que é pai dessa garota e de seu irmão mais novo, que são enviados pela mãe, à pedido dos avós, com quem ela nunca teve uma relação saudável, para a pequena cidade de campo onde ela cresceu no interior da Pensilvânia. As crianças são bem recepcionadas, mas não demora para que estranhos eventos agitem essa visita, que vem seguida de uma perturbadora avalanche de conflitos familiares e emocionais, que aterrorizam os dois adolescentes de diferentes maneiras. Mas o que primitivamente já indica a presença do peculiar nessa acomodação é a regra que dita que eles não devem se deitar às 21:30, como é, para os avós, de costume, regra que ativa incômodo em qualquer jovem nos dias de hoje. Movidos pela curiosidade em saber o porque daquela regra "habitual", ainda mais depois que a avó, Doris, começa a aparentar uma doença mental frágil e grave, assim como o próprio avô, que também tem seus episódios de demência, como começar a brigar com desconhecidos na rua ou temer a imagem de um vulto branco de olhos amarelos. 

Se você aguarda mais um daqueles finais mindblowing, pode vir preparado para sair do cinema vidrado, porque aqui esse "elixir" pode ser visto em bom grado. Não é nada comparado a O Sexto Sentido e A Vila, mas representa com grandeza o talento primordial de M. Night Shyamalan para seus finais, marca registrada de suas tramas embaralhadas e minuciosas, e bem pode sim ser comparado, em menor potência, aos grandes finais citados. Shyamalan prioriza o contato entre suspense, drama e comédia, todos bem colocados na medida certa, sem pecar no exagero. Prova suficiente de competência. 

A desenfreada busca por redenção, perdão, reaproximação, identidade, libertação e revolta, tão almejados pelos personagens deste filme, tempera o núcleo protagonista, formado pelos irmãos Rebecca e Tyler, que vão aos poucos perdendo o controle de suas aversões quando a situação degringola. Tyler, o imaturo irmão atravessando a identidade vê, na sua inocência, um fracasso numa partida de futebol americano como agente danificador da sua relação com o pai. A irmã, Rebecca, crescida, não possui vaidades e por isso na sua ausência liga isso a uma ocultação com ao pai; A mãe, no entanto, é a que mais sofre. Tem de aturar a pressão vinda de todos os cantos, com os "pais" a culpando pela distância, o ex-parceiro a maldizendo, e o trauma nas crianças. Diante do medo, da ameaça do mal e do corrosivo, a união é selada, o passado é perdoado e contas são pagas.

Embora tenha vaiado nos Estados Unidos, com uma aprovação crítica morna, A Visita é sublime, interessante, o retorno impecável de um visionário. E as expectativas para o próximo projeto do cineasta, estrelado pelo Joaquin Phoenix, só cresce. Bem escrito, bem dirigido, bem fotografado (pela esplêndida Maryse Alberti - virei fã), bem atuado... É um baita filme. É uma pena que a crítica "especializada" esteja tão enferrujada e mal frequentada a ponto de estar direcionando A Visita ao fracasso. Que fracasso? Eu, hein. Bem, o importante é prestigiar o trabalho, a qualidade da volta, seus detalhes e seu efeito. 

A Visita (The Visit)
dir. M. Night Shyamalan - 

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