quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Crítica: "TOM NA FAZENDA" (2013) - ★★★


Extremamente curiosa essa safra de jovens diretores que a nova geração está parindo. Um dos maiores e últimos destaques desse vasto grupo é o canadense Xavier Dolan, dono de alguns títulos aclamados internacionalmente e que, em pouco tempo, ganharam a confiança do espectador e também da crítica, muito embora aqui no Brasil sua filmografia ainda seja considerada controversa e tenha dividido muito as opiniões, isso mencionando sua mais recente produção, o espetacular drama Mommy, abraçado por uma tenebrosa onda de negativismo quando de sua estreia nacional, ano passado. Polêmico e sensível ao mesmo tempo, os trabalhos de Dolan isentam-se da porca mesmice que seu estilo pop abriga e carregam consigo uma inovação quase que revolucionária, até por que mesmo não sendo tão surpreendente, ele, com muita facilidade, sabe controlar os exageros da sua abordagem, quase sempre virada para uma dramatização que simboliza a transição do jovem para o adulto, abusando com vontade da homossexualidade, assunto-chave da grande parte de seus longas.

Muito embora Mommy, seu filme mais famoso, não seja diretamente ligado ao clima gay presente, por exemplo, em Amores Imaginários, é possível denotar a sua forte presença dentro de outros, como Laurence Anyways e o pouquíssimo visto (que nem chegar ao Brasil chegou) Tom na Fazenda, suspense que enquadra a visita de um jovem homossexual à fazenda da família de seu falecido amante, morto em decorrer de um acidente. Tal visita o leva a boas e más recordações de seu romance, e ao cortinado passado que traz à tona a interminável depressão da mãe, a instabilidade do irmão e a confusão de um passageiro affair. Num clima totalmente diferente do colorido universo de seus outros filmes, a primeira sessão de Tom na Fazenda é uma cintilante faísca na escuridão, sem coragem o suficiente para se propagar. Talvez se visto pela segunda vez, melhor compreendido será. 

Tom na Fazenda resulta na mal-explicada divisão da história, que contrasta em um pesado drama e um suspense fatal, cruel e fermentado por um episódio que consulta o passado para fabricar um presente. O pior é que, mesmo que essa divisão esteja nítida, é bem difícil captá-la, ainda mais quando as incompreensíveis sacadas finais contrariam ambiguamente essa relação entre drama e thriller, que vão se descosturando até acabarem num melancólico plano que retarda a ação e prioriza diálogos fervescentes, mas infelizmente pouco interessantes. Tom na Fazenda se afoga na sua própria imensidão, um vazio que parece se multiplicar em mais vazio, no intuito de então incorporar o vazio dos personagens, o vazio da história e o vazio do contato humano aqui analisados, ainda que com, no mínimo, bravo esforço. 

Talvez Xavier Dolan tenha feito mesmo o filme não na intenção de exercer mirabolantes técnicas de roteiro, melhor falando as típicas reviravoltas mind-blowing, mas sim de deixá-lo perecer numa textura incompreensível, premeditadamente sem sentido. Afinal, é o que torna a sucessão dos eventos mais atormentadora e palpável. Em Tom na Fazenda, Dolan visa atingir o interesse, isso ausentando compreender ou não sua viagem, rendendo isso um público chutando a poltrona do cinema por insatisfação, quando na verdade ele deveria se sentir invadido por ter chegado até ali por nada, isso a um outro ver. 

Porém, o irresistível forte em Tom na Fazenda, como já não é desconhecido vindo especificamente dos filmes da Xavier, é a sua fotografia lindíssima, que consegue planar com perfeição o ritmo parado e deprê do longa, como se ele se passasse num único momento, sob um céu coberto de nuvens cinzas e um cenário onde habita o obscuro. Duvido muito que o filme, caso filmado em ângulo s estrategicamente diferentes, efetuaria tamanho impacto. A fotografia é simplesmente insubstituível, e com certeza o melhor de Tom na Fazenda. O nome do gênio por trás desse espetáculo técnico? André Turpin, o mesmo de Incêndios e Mommy. Vão vendo. Enquanto já pensam num terceiro Oscar para Emmanuel Lubezki, tem muito diretor de fotografia por aí desvalorizado, e que possuem um talento tão grande quanto o do mexicano, isso sem falar necessariamente do André, mas sim de, só pra constar, Darius Khondji, Bruno Delbonnel, Harry Savides (não mais presente), Peter Deming, Rodrigo Prieto, Matthew Libatique, Christian Berger, Christopher Doyle e uma porrada de gente que custa o mesmo preço (e se formos ver, um até maior). TV a cabo é tudo de bom. Durante uma hora e meia, não houve sequer uma única pausa enquanto eu assistia ao filme, no canal MAX. Sem falar na ótima qualidade da cópia. E, o melhor de tudo: legendada!

Tom na Fazenda (Tom à la ferme)
dir. Xavier Dolan - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário