terça-feira, 3 de novembro de 2015

Crítica: "BEIRA-MAR" (2015) - ★★★


Só sei de uma coisa. Queria ter visto mais filmes na mostra. Só tive, infelizmente, a oportunidade de conferir pouquíssimos títulos dos presentes na gigantesca lista da seleção, sem falar que perdi os que eu mais esperava como Dheepan, Sabor da Vida, Zoom, Son of Saul, a trilogia As Mil e Uma Noites, Mistress America, Sob Nuvens Elétricas, Boi Neon, Chronic e Desde Allá, filmes que estrearão em breve dentro do circuito nacional, e farei questão de tentar vê-los. Se eu pudesse usufruir de um pacote completo, que é caríssimo, sem falar no dinheiro da condução e o tempo requerido para a atividade... Um ano ainda poderei fazer isso, com certeza absoluta. Quase lá. A mostra se encerra só amanhã, mas pra mim hoje foi o último dia, uma vez que estou bastante atarefado nesta quarta. Outro filme que quase integrou a lista dos "para ver nos cinemas" foi o nacional Beira-Mar, que teve a sua última sessão dentro da programação hoje, e substituiu, na Caixa Belas Artes, a apresentação de Verão Seco.

Minha prima estava doida para ver Beira-Mar, justamente por que já tinha comunicado à ela sobre o longa e que ele estaria passando na mostra desse ano. Eu, inicialmente, não tinha muito interesse em ver, mas ela ficou bem animada. Pensando que não, ela veio me avisar que tinha conseguido reservar uma parte do salário para ver o filme. E lá fui eu. Ela disse, no final, que gostou, mas que achou que gostaria mais. Eu já pensei de outra forma. Contrariando a tormenta de críticas que detonaram o filme, terminei a sessão achando Beira-Mar uma graça. Tá legal que a trama é bem desconexa e, vá lá, mal organizada, e, de todo, nem é aquilo que tanto diziam quando estreou lá em Berlim, ainda nesse ano, mas é certamente uma surpresa, sob determinados aspectos. 

Não vejo muito sentido na comparação de Beira-Mar com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, até porque são dois filmes bem diferentes, quanto à abordagem da relação homossexual entre dois determinadas personagens e a incorporação dessa relação na história. Embora o cabelo azul que o Tomaz ganha na festinha lembre a fisionomia da Emma de Azul é a Cor Mais Quente, não há um filme completamente comparável a Beira-Mar. Ele, creio, domina um estilo próprio, já que a narração vai se desenrolando na prescindidão de rodeios, o que a torna menos complicada e chata, como o filme é contado de maneira bem lenta, melancólica, blue mesmo, ainda que não seja tão detalhada a ponto de ser meticulosa. 

O que talvez implica no desentendimento e imprecisão é a demora, e ao mesmo tempo rapidez, considerando a proximidade com o final, com que a relação gay entre o Tomaz e o Martin é selada. Tudo acontece do nada. Dá a entender que os diretores, com essa ágil fusão, tomaram como objetivo demonstrar a avalanche de sentimentos e dúvidas dentro do personagem de Martin desmoronando num só plano, e ele então revelando o conforto pelo fiel amigo e, naquele momento, único companheiro. É interessante ver como a tensão e o conflito da juventude é centrado em pequenos detalhes quase inúteis e alguns momentos à toa, sem serem, tecnicamente, intensos, já que Martin vê nos problemas da família um terrível problema, mais grave do que normalmente é explicitado, ou então como um episódio traumático da infância pode simbolizar uma conta a ser paga, ou um temor inexplicável. Boa observação essa. A expansão dos mínimos defeitos usuais e a sua consequência, um peso inerte. 

[39ª mostra internacional de cinema de SP]
Beira-Mar
dir. Felipe Matzembacher, Marcio Reolon - 

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