Acho que nunca tinha me decepcionado antes com um filme de François Ozon. Foi a primeira vez. O Amante Duplo é o mais novo trabalho do francês, competiu pela Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes, recebeu o prestígio da crítica (quase não vi ninguém falando mal, aliás). Trata-se de um filme tentador, é até interessante no começo, mas o filme passa de interessante para quase insuportável numa rapidez absurda.
Existem três ou quatro momentos realmente dignos de nota, e ainda sim dizer isso é um tanto exagerado. A execução destrambelhada e a constante evocação de uma atmosfera artificial estão entre os mais gritantes deslizes do thriller, para não mencionar que existe muito humor involuntário entre um escorregão e outro. No máximo mesmo, o destaque aqui é a curta participação de uma enigmática Jacqueline Bisset (coisa que dura questão de poucas cenas), uma grande atriz que está sendo subvalorizada em suas aparições mais recentes no cinema (uma lástima) e que até mesmo numa ponta como essas consegue evocar um mínimo de atenção.
Marine Vacth interpreta uma jovem mulher que procura a assistência de um psicólogo para tratar de dores que sofre e que crê serem psicológicas. Logo, no que aparenta ser a cura da mulher, ela e o psicólogo se aproximam e iniciam uma relação juntos. Só que ela acaba descobrindo que o homem tem um irmão gêmeo (também psicólogo) que é o completo inverso dele, um sujeito arrogante, que a maltrata e despreza, enquanto ao mesmo tempo nutre um desejo irascível, carnal por ela.
Ozon imprime nas cenas de sexo o expressivo ardor que já é comunal aos seus filmes, mas falta algo que o torne realmente o que ele quer apenas com o que é posto aqui, e não dá conta dessa expectativa. Por mais bem filmado, fotografado, editado... O Amante Duplo é falho. São percebíveis as influências de De Palma e Cronenberg tanto no suspense quanto na estética, mas isso também tem sua parcela de desacertos, de incômodos. Tanto se cria, tanto se investe no erotismo cru do filme, e se extrai muito pouco de toda essa ação circunstancial, de uma história que se preocupa demais com essa constante emulação, em fazê-la funcionar, e acaba por não concluir isso.
Há um quê de erótico sim, há cenas impressionantes, como eu já disse. Mas aqui isso não se sustenta por muito tempo. Talvez seja um filme para ser visto no cinema, onde há valorização de fotografia, de elementos visuais e a estrutura distorcida, mas não sei se a experiência decepcionante sofreria mudanças, ou seria diferente do que foi. Realmente não sei dizer.
O Amante Duplo (L'Amant Double)
dir. François Ozon
★★
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