Comentarei sobre os três filmes da maravilhosa trilogia do cineasta Miguel Gomes As Mil e uma Noites.
Por incrível que pareça, o primeiro filme (ainda que seja o melhor dos três) demorou um pouco pra me pegar, confesso que no começo ainda tive um certo receio de não "embarcar na viagem", mas esse sentimento foi passageiro. É o mais delicioso e relevante dos filmes da trilogia, Miguel Gomes também está participando, que é bem mais denso, tem uma ótima síntese de construção narrativa e o trabalho com a câmera é destaque. Pra quem não estiver no pique, pode ser um pouco difícil seguir a linha desse aqui, entretanto é um trabalho mais que encantador. Ali naquele olhar crítico pra crise em Portugal (que é o tema central dos três longas), o Gomes encontra brechas pra fazer comentários ainda mais desconcertantes e inserir ordens que parecem não estar muito conectadas às principais atenções do filme, e que gradativamente vão se fazendo importantes e essenciais. O elenco está em ótima forma, não tem do que reclamar, certas cenas de diálogos são deveras exímias e nestas os atores estão impecáveis.
As Mil e uma Noites: Volume I, O Inquieto
★★★★
A cena genial do julgamento já diz muito sobre o que este filme vem a abordar, e está entre as sequências mais importantes e hilárias desta trilogia (se não for a mais). Aliás, humor aqui neste filme recebe um tratamento bastante diferenciado, talvez porque esteja mais explícito do que no primeiro, e ainda sim nesse aqui um senso de comédia impressionante se apropria do formato crítico do filme, mas de forma alguma o drama é desvalorizado, até acho que existem certas passagens que encontram uma ótima expressão dramática. Notáveis presenças de atores já recorrentes à filmografia do Gomes (inclusive de Tabu) e do filme anterior. Por vezes é vertiginoso, a presença da comédia primeiramente se torna um aliado desse comentário do diretor e segundamente é a ferramenta pela qual o elenco acaba acessando uma certa liberdade e rigor excepcionais, e os diálogos ficam ainda mais interessantes com essa inserção. O segmento do cachorrinho também merece menção. Este é, sem dúvida, o mais original dos três filmes, destaque pela abordagem inventiva que já se denotava no primeiro.
As Mil e uma Noites: Volume II, O Desolado
★★★½
Este filme, embora apontado como o menos relevante, tem a cena mais linda entre os três trabalhos, que é da Crista Alfaiate (cujas performances ao longo da trilogia são excelentes) cantando "Perfidia", me emocionou profundamente. Há de se perceber que, no que diz respeito ao filme, esse deve ser mesmo o menos impressionante e nem por isso é ruim. Foi falado que há muita irrelevância no conto dos passarinheiros, que pra mim tem ótimos momentos, mas é fato que isso pode deixar muita gente impaciente. Há cenas memoráveis, como o senhorzinho que acaba caindo na armadilha de um passarinheiro (hilária) e entre outras, a cena do encontro de Sherazade e de um homem na praia com seus filhos. Trata-se de um segmento desolador, não menos tocante, ainda que cometa certos deslizes sim, especialmente na estrutura.
As Mil e uma Noites: Volume III, O Encantado
★★★½
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