quinta-feira, 23 de março de 2017

EU, DANIEL BLAKE (2016)


Eu, Daniel Blake era o filme que ninguém esperava que iria conquistar a Palma de Ouro no prestigiado Festival de Cannes ano passado, e o feito foi tamanha surpresa que muita gente ainda contesta a atitude do júri em ignorar outros trabalhos mais potentes do que este, embora não seja errado afirmar que Eu, Daniel Blake é uma obra de Ken Loach, veterano do cinema britânico independente, e o ato em entregar a Palma ao filme tenha sido consumado em virtude da importância que este carrega, seu impacto e a força que o cinema de Loach administra, como denúncia do sistema e dos malefícios da sociedade capitalista. E o ato de premiar um filme desse porte em meio a tantos outros candidatos mais articulados é meramente nobre, embora irregular, caso formos comparar a produção a outros títulos de mais peso.

Neste filme, acompanhamos a jornada de um carpinteiro que sofre de problemas cardíacos e que está tendo problemas com a previdência social, enquanto conhece uma mãe solteira de duas crianças enfrentando a pobreza e a dificuldade de se encontrar um emprego. É um filme que trata de maneira realista a situação das classes sociais menores no Reino Unido atualmente e o impacto dos conflitos socio-econômicos enfrentados na região e a pobreza. Como sempre, Loach traz uma história cuja importância está centrada na urgência de seu contexto, uma crítica feroz ao capitalismo selvagem, uma denúncia viva, como quase todos os filmes de Ken Loach, um cineasta que dirige filmes em prol da comunidade trabalhista, das minorias e dos afetados pela pobreza em um país tão desenvolvido e rico.

O espectador consegue simpatizar com a figura de Daniel Blake, o protagonista desse filme, um senhor que leva uma vida modesta, mas que tem de lidar, além dos seus problemas pessoais, com problemas sociais que dificultam sua vida e também das pessoas ao seu redor. Loach introduz um contexto humanista, sólido, a uma história tão verdadeira e infelizmente cruel. Provavelmente é a obra-prima de Loach, parece que ele finalmente encontrou o tom neste drama tão pontual e que consegue ser sentimentalista sem ser piegas. Dentre muitos outros ótimos filmes de sua longa filmografia, parece que ele sempre tentou, e de certa forma conseguiu (e muito) retratar as injustiças e as crueldades enfrentadas pelas minorias, mas nunca fez antes um filme capaz de emocionar tanto com um grupo de personagens tão verdadeiros e tão bem explorados. Na sua mera simplicidade, com personagens tão modestos e ainda sim grandiosos, e uma trama poderosíssima, Eu, Daniel Blake faz-se importante em tempos tão difíceis e conturbados. Trata-se de um filme verdadeiramente humano, sobre a humanidade de um homem e a sua clemência, seu apelo por um mundo melhor em um lugar tão desumano.

Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake)
dir. Ken Loach
★★★★★

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