sábado, 20 de abril de 2019

GRASS (2018)


Essa fase de Sang-Soo tem gerado resultados interessantemente diferentes de outros filmes da sua filmografia. Mantém-se os hábitos, mas trocam-se os discos. O autor coreano deixa de lado o humor e a graça pelo joie-de-vivre para tratar de temas não exatamente mais sérios do que outros já trabalhados, porém obscuros, amargos, com lirismo e delicadeza intocados, mas voltados para visões e dramas bem mais localizados e aprofundados, que são filtrados pelo mesmo ritmo poético de fazer filmes, planos meticulosos como meditações que se arrastam para costurar resultados firmes, tramas que eventualmente acabam se alinhando.

A leveza que era constantemente associada ao estilo desse diretor dá lugar à contemplação de diálogos repletos dos sentimentos pesados de personagens amargurados, que tem algo a descarregar naquelas mesas de café. O filme vai se estabelecendo como uma peça, se molda em poucos cenários e constrói neles suas direções. Funciona bem porque os personagens é que embasam o desfecho, pura e simplesmente. Observamos suas conversas e gestos como a quem pinta um quadro. Dramas que se interligam, pessoas que parecem procurar coisas parecidas.

Para mais ou menos uma hora de filme, o elenco se sai incrivelmente bem, com atuações que se não tomam muito tempo em tela, pelo menos conseguem dizer o suficiente. Hong deixa as coisas fluírem e seus atores sabem o que fazer.

Num café ou num beco, geralmente duas pessoas desabafam, colocam seus sentimentos pra fora, conversam, recuam, escondem, e finalmente desmascaram suas verdades, liberam a tensão. A personagem de Kim Min-Hee diz que não é escritora, mas registra o desabafo, parece estar conectada com aquilo de alguma forma, embora não fique claro no começo.

Com seu ritmo lento, Grass dá passos grandes para esculpir o tímido desnorteamento daquelas pessoas. Hong não é estranho ao drama, mas se em suas comédias buscava a espiritualidade do banal e se contentava com configurações simples de sentimentos mais espontâneos (com seus estados e rotinas), nessa fase há um interesse maior por um certo peso que defina os personagens, mexendo ainda mais fundo, resultados que não aparecem de primeira, mas se desenvolvem em tela. E, é claro, sempre mantendo o respeito pela naturalidade, uma marca registrada desse cinema que tem seu jeito próprio de captar a beleza por trás do sutil. Consistente e significativo.

Grass
Pul-lip-deul
dir. Hong Sang-Soo
★★★★

Nenhum comentário:

Postar um comentário