Eis um belo filme que eu vi pouca gente comentando e provavelmente vai continuar esquecido na awards season, trata-se de The Lovers, um romance muito bem conduzido com a direção e roteiro de Azazel Jacobs, sobre um casal de meia-idade com problemas conjugais que buscam o amor e o prazer em outras pessoas, e acabam se traindo simultaneamente. Com a visita do filho e sua esposa, o casal terá que fingir que está tudo bem, mesmo que a relação esteja a um passo do desastre, só que, ironicamente, a situação acaba se saindo "melhor" do que o previsto. É um filme que sabe preservar muito bem seus melhores momentos e acentua as performances extraordinárias de um elenco primoroso como há muito não se via assim no cinema americano (o retorno de Debra Winger, fantástica, Tracy Letts, Melora Walters e Aidan Gillen excelentes).
A utilização da música clássica costura no filme uma atmosfera bastante genuína e original, talvez é isso o que realmente falta aos filmes de hoje tratando dos problemas matrimoniais e do divórcio, temas que geralmente sucumbem a um apelo dramático mais forte. Jacobs sabe que seu roteiro possui uma boa dose dramática e trabalha isso formidavelmente com os atores. A fotografia tem seus momentos mais inspirados justamente no enquadramento dos personagens em cena, em especial quando há o casal em cena, e depois os amantes, é impecável o tratamento visual que cada partícula dessa narrativa recebe.
The Lovers oferece uma nova perspectiva sobre o amor visto de um ponto de vista conjugal: quando ele é posto em teste, quando ele é reafirmado e, depois, questionado. Jacobs passa por cada estágio do que o amor tem de mais doce e de mais infeliz na vida matrimonial, mas com uma delicadeza que raramente se viu exercida com tanto capricho.
Quando vemos que, às vezes, a melhor solução é fugir dos nossos problemas, e depois somos obrigados a encará-los, face a face, e redescobrir aquele amor que pensávamos ter se perdido no tempo, nos olhares vazios, nos desencontros, nas ausências. Algumas coisas precisam morrer para voltar à vida, para serem redescobertas com um outro olhar, e a história amorosa de Azazel Jacobs trata justamente da ressurreição: dos sentimentos, das relações, dos contatos, de duas vidas que não mais pareciam estar conectadas. Toda a desesperança é filtrada nessa nova jornada, que, é claro, como tudo na vida, tem dois lados. E Jacobs respeita essa dualidade com uma gentileza enorme.
É bom saber que ainda existem diretores que prezam por uma narrativa que parece se concentrar justamente em temas batidos que sempre escondem algo a mais e que, só numa ótima nova, ganham novos contrastes, novas percepções: é como se algumas frestas escondidas fossem visualizadas só através desses certos olhares, elementos que já estavam em um ambiente no qual já estivemos várias e várias vezes só passam a ser vistos nessa ótica. Porque o cinema também é sobre redescobrir e renovar.
The Lovers (Os Amantes) ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
The Lovers
dir. Azazel Jacobs
★★★½
Somente pessoas complicadas adoram um filme que propõe como melhor saída a atrapalhação da traição. Diretor totalmente atrapalhado em seu roteiro pessimista. Existem saídas mais maduras para a rotina.
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