quinta-feira, 1 de agosto de 2019

PSICOSE (1998)


É até meio divertido ver Gus Van Sant se arriscar a fazer um remake shot-for-shot de um dos filmes mais inimitáveis já feitos, seja em relação a seu status no ranque dos maiores, seja no que diz respeito a seus primores cinematográficos. Mais do que essa tentativa de ser uma cópia (quase) fiel, Psicose é o resultado do flerte de Van Sant com o suspense hitchockiano, penso eu que a intenção não era contrapor um ao outro, mas criar uma versão distorcida do original, para reimaginar/reforçar/re-estilizar, enfim, depende da interpretação de quem vê. Os quilos de referências encontradas nessa adaptação impossivelmente remeterão a outra coisa a não ser a obra de Hitchcock, e fica difícil estabelecer parâmetros quando existe essa simbiose tão inevitável entre os dois.

Praticamente é o mesmo filme, mas a trilha, a fotografia e a re-concepção de outros detalhes em relação ao original, Psicose estabelece um jogo de imitação e recriação, sem exatamente pretender consertar erros ou adicionar outros objetivos ao filme que foi refeito, como acontece com muitos remakes, até porque, falando de Psicose, não há praticamente nada a ser complementado ou alterado. 

À parte dos exageros, das cenas icônicas recriadas e picotadas risivelmente, e essa fotografia curiosa, Psicose de Van Sant funciona melhor sem a comparação, mas ela é fundamental pra certos aspectos do filme, que foi lido por muitos como uma tentativa ofensiva de reimaginar um grande clássico. Mas também é possível eleger a pretensão cinéfila de Van Sant em compreender Hitchcock nos seus detalhes e, literalmente, na execução de seu estilo único. É um caso singular no cinema, em que temos dois cineastas distintos tendo seus estilos fundidos num mesmo filme. Por mais irregular e pecável que seja, Psicose é uma anomalia inusitada, uma provocação cinéfila que deve intrigar os admiradores de ambos Hitchcock e Van Sant. Uma reverência, um insulto? De todo modo, se o remake de um grande filme não se faz mesmo necessário, pelo menos gera uns debates impressionantes.

Psicose
Psycho
dir. Gus Van Sant
★★★

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