quinta-feira, 29 de agosto de 2019

ZAMA (2017)


Depois de ter legado ao cinema argentino os excelentes O Pântano, A Menina Santa e A Mulher Sem Cabeça, Martel esperou e, após um hiato de quase uma década, regressou com Zama, seu amargo retrato do pesadelo colonial na América do Sul, recriando personagens enclausurados pelo ambiente escurecido pela colonização, nos seus limites. Através do personagem-título, Diego de Zama, uma das mais prolíficas cineastas do nosso continente investiga a tensão febril do colonialismo e tece um registro selvagem das rupturas da civilização como quem pinta um quadro com exata compreensão do que está retratando, de todos os detalhes e de todos os sentimentos que eles estão representando. 

Nesse intervalo entre um filme e outro, observamos as diferenças que culminaram neste novo trabalho e o que permanece no estilo da diretora. Zama se distancia um pouco do terreno dos outros três filmes anteriores, mas acentua o olhar que a Martel tem para desconstruir a história da forma mais dilacerante. Tenso, estranho e selvagem, Zama é preenchido pelas cenas mais inesperadas, talvez até para um filme histórico, e como resultado temos um filme que não pretende ser decifrado, mas que carrega dentro de si um peso histórico enorme, e a Martel, na sua primeira levada épica, soube costurar com precisão cada parte desse filme quase assombroso pelo seu rigor. Cria uma atmosfera de não-pertencimento que é por si só estremecedora, e que afeta todos os personagens. 

Zama é um marco na carreira de uma grande cineasta como Martel, e um exercício épico dos mais vertiginosos e cativantes no cinema recente. É um retorno mais que bem-vindo de uma diretora que sempre mostou muita maturidade e firmeza em fazer cinema, e aqui não foi diferente nesse quesito. Ela dá passos mais largos em direção a um cinema inesperado, inventivo, único. 

Zama
dir. Lucrecia Martel
★★★

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