segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

ANIMAIS NOTURNOS (2016)


Se o primeiro filme de Tom Ford, o mediano Direito de Amar, tinha como fortaleza sua estética singular, mas pecava na narrativa retorcida e pouco inventiva, não se pode dizer o mesmo do novo trabalho cinematográfico de um dos homens mais reconhecidos do mundo da moda. Animais Noturnos traz tanto na imaginação obscura e bem construída quanto na narrativa repleta de contextos e simbolismos um bocado de acertos, que fazem deste thriller cheio de estilo e inconvencionalidades próprias em um material fílmico realmente apreciável. A inovação é o combustível de Tom Ford ao explorar de forma escancarada e pouco crível sua narrativa desalinhada enquanto traça uma história que apresenta personagens entrecruzados e um plot desconcertante. Se os excessos às vezes falam mais alto, Ford consegue equilibrar os maneirismos desnecessários de sua trama absurda à mise-en-scene avassaladora. 

Em Animais Noturnos, é um pouco difícil compreender os rumos que sua trama inusual e instigante toma. Entre sequências magistrais (como a da perseguição de carro) e outros momentos nem tão cativantes, pedaços desconexos de uma narrativa repicada vão se alinhando, mas vale lembrar que Animais Noturnos é um filme que não vai ter a sua compreensão tão fácil, e por isso mesmo é um filme mais difícil de se entender. Os adereços e as minimalidades que Ford insere a cada cena servem de porta para x interpretações. 

A personagem de Amy Adams (em uma performance estonteante, ainda que por vezes fria demais para transparecer as sensações de sua personagem já complicada na questão de ser pouco palatável, ao meu ver) é Susan, a dona de uma galeria de arte conceituada da alta sociedade que é tomada de surpresa quando recebe um livro de um antigo romance, o misterioso Edward Sheffield. Enquanto lê a história, a mulher é invadida pelos mais turbulentos sentimentos, enquanto relembra seu caso com o escritor.

É um filme que traz algo de interessante sim, na sua premissa conturbada e em seus desdobramentos magnificamente calculados, mesmo que soe pretensioso com sua narrativa ambiciosamente complexa e retalhada que nem sempre faz sentido. Mas trata-se de um grande passo na filmografia de Tom Ford, e pode ser visto como um avanço caso comparado a Direito de Amar, que era um filme mais relaxado no quesito da narrativa.

A trilha sonora consegue compor uma atmosfera bastante densa e impactante em Animais Noturnos. A montagem também é brilhante, com momentos tão inspirados quanto atordoantes que chegam a nos causar uma certa comoção, tamanha é a sua importância neste filme tão fragmentado e que vai se montando aos poucos (ou não, depende do ponto de vista). A fotografia de Seamus McGarvey é radiante, e toma conta das cenas tornando-as provocantes, exuberantes e profundas em muitos aspectos. O filme em si depende bastante do visual (e da direção de arte também) para a sua contextualização metafórica/simbólica.

O elenco é um trunfo, Michael Shannon e Aaron-Taylor Johnson são destaques de peso. Jake Gyllenhaal, subestimado, também está ótimo. Laura Linney, que aparece (quase irreconhecível) em outras cenas também merece menção. Por se tratar de um filme de estilista, Animais Noturnos é um filme com um requinte, uma arquitetura mais moderna, sofisticada, contemplável. A paleta de cores, os figurinos despojados e que falam bastante sobre as personagens que os vestem, os cenários, e a organização das sequências... Tudo conta em Animais Noturnos. Até mesmo o que não deveria ser contado. Plástico demais para ser levado a sério como cinema, distinto e provocador como o cinema deve ser.

Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
dir. Tom Ford
★★★½

2 comentários:

  1. Amy Adams sempre tem bons filmes que vale a pena. Uma atriz que tem muito bons projetos, sempre faz um excelente trabalho como atriz, ancho que A chegada 2016 é umo dos melhores filmes dela, muito bons, fez uma atuação maravilhosa. O filme tem uma grande historia e acho que o papel que ele interpreta caiu como uma luva, sem dúvida vou ver este filme novamente.

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    1. Sem dúvida ela é uma atriz excelente, e gosto muito dos trabalhos dela tanto neste filme aqui quanto no "A Chegada".

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