quinta-feira, 6 de abril de 2017

LOGAN (2017)


Demorei um pouco para escrever a respeito de Logan (na verdade faz aproximadamente um mês que eu o conferi no cinema) porque ultimamente ando bastante sem tempo pra atualizar o blog e me faltava coragem, digamos, pra escrever sobre um filme tão bom e importante como esse (tarefas assim sempre exigem bastante da gente, mas eu realmente não sabia que palavras escolher para falar sobre este filme). Por esses motivos, creio que acabei atrasando a minha resenha acerca deste filme fantástico, mas aqui está. Uma coisa eu lhes digo: a Marvel acertou em cheio dessa vez.

Hugh Jackman retorna às telas com o último filme do Wolverine, um filme capaz de abrir o apetite de qualquer cinéfilo, amante do cinema ou que acompanha os trabalhos da Marvel, que ultimamente tem evoluído bastante. Considerando que eu sou (praticamente) um leigo em relação aos filmes da produtora, sendo que até hoje vi um número modesto dos filmes deles, Logan é o melhor destes, arrisco. 

Ano passado eu já tinha gostado pra caramba de Doutor Estranho, tanto para ter certeza de que era o filme máximo da Marvel, mas então tal certeza fragmentou-se com a sessão de Logan, uma das mais emocionantes sessões do ano, pra mim muito especial. Nunca vi um filme tão Marvel que fosse tão obrigatório, em relação à sua realização primorosa, seu significado esotérico e suas metáforas brilhantes. Ressalto: não há um roteiro da Marvel que tenha sido tão bem escrito e projetado, ao meu ver, que tenha um cuidado em desenhar os personagens e as situações em que eles estão envolvidos.

Em Logan, a trama gira em torno de um personagem outrora heroico, ganhando a vida como chofer, para sustentar e bancar os remédios de seu adorado mestre. Rejeitado, vivendo às escondidas, para não ser descoberto. A face escondida de Wolverine, um ser cujos poderes o transformam em uma criatura sobrenatural, temida, monstruosamente perigosa, mas de coração bom. E é justamente esse lado que James Mangold opta filmar, o lado humano de Wolverine. Mas não necessariamente por problematizá-lo o filme o faz, mas por conferir um certo senso de humanidade à forma como ele lida com a sua própria "face escondida" e os problemas que o acompanham em seu encalço. 

Seu caráter autodestrutivo, um homem vivendo com seus pesadelos amargos e tendo de arcar com seus pesarosos fracassos, por ter machucado tanta gente, sua angústia, e sua forma de viver perigosamente, reflexos de quem está machucado por dentro, dilacerado, aos pedaços, mas prefere ainda lutar enquanto lhe resta uma centelha de vida. É nesse estudo minucioso do lado humano de Wolverine. 

Logan, o filme, não se envergonha de ser sentimentalista, e por vezes até melodramático, tendo de optar por um desfecho sentido, humanamente coerente e muito, muito emocionante. A expectativa não é de ir às lagrimas assistindo a um filme de super-herói, mas o caso aqui é justamente esse. Mangold vai direto ao ponto e lida com o que a Marvel, talvez, estivesse com receio de explorar: o melodrama contido de Wolverine e seu caráter humanista. 

Na história de uma garotinha mexicana (interpretada com ferocidade pela promissora Dafne Keen) de dez anos, a filha do Wolverine, uma x-men de garra e que não se afronta, de modo algum, frente aos sangrentos conflitos com os quem surge em seu caminho, se aliando ao pai para desmascarar um sistema podre que abusa de crianças sobrenaturais por razões meramente políticas e militares, o cerne de uma trama matura e riquíssima em elementos que podem ser interpretados tanto como uma metáfora da indústria bélica e do sistema americano em si como também dos laços familiares rompidos de um homem e de sua filha que nunca se encontraram antes, e à frente deles, uma longa jornada repleta de cenas viscerais, costuradas com quilos de violência e um peso dramático desafiador. Jorra-se sangue tanto quanto se jorraria em um filme com a direção de Quentin Tarantino. 

Vingança, represália, oposição, valores éticos e morais de uma sociedade fragmentada, corrompida pelo poder. Logan faz-se um filme importante. A Marvel está de parabéns por uma produção de tamanho significado como este, cujas dimensões ultrapassam as expectativas esperáveis, ainda que estas fossem das melhores. A complexidade de um personagem negando a si mesmo para assumir uma responsabilidade ainda maior sobre suas escolhas no passado e sobre quem ele é. E se muita gente está chocada porque são muitas as sequências em que vemos uma garotinha "inofensiva" mutilar e massacrar vários peso-pesados, aí é que está o reflexo de tempos estereotipados e excessivamente conservadores, algo que o filme em si, ironicamente, incrimina. A violência: uma resposta? Ou uma questão?

O elenco está primoroso. Hugh Jackman merece um Oscar. A performance de uma carreira, que fecha com chave de ouro a jornada do personagem que o fez famoso no mundo inteiro. Não falo do Jackman cantor, dançarino, multi-tarefas, hiper carismático e gente boa. Falo do Jackman e do homem de coração de ouro que ele interpreta em Logan. Uma maravilha. Isso que Logan é. Um filme brilhante em todos os aspectos, monumental. A experiência de vê-lo na telona é única. Qualidade é o que não falta neste western-like moderno inspiradamente conduzido por James Mangold (e este seja talvez seu melhor trabalho) sobre o humano e o x-men em cada um de nós. E a redenção de um herói e seu coração despedaçado.

Logan
dir. James Mangold
★★★★

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