quinta-feira, 6 de abril de 2017

PATERSON (2016)


O que a gente encontra em Paterson é um dos filmes mais delicados e refinados de um diretor sempre disposto, em sua filmografia, a traduzir as emoções humanas em imagens e histórias focadas na alternação cotidiana da vida de seus personagens, seja na trama de um homem que recebe uma misteriosa carta dizendo que tem um filho, de um casal de vampiros na Detroit em ruínas ou de um motorista de ônibus que também atua como poeta. História cabíveis a qualquer um, em qualquer lugar, mas que, na ótica deste mestre, ganham um sentido totalmente próprio, repleto de singularidade e uma precisão cinematográfica absurda.

A beleza de Paterson está justamente na poesia que ele aponta, e que às vezes passa despercebida a olho nu: a poesia do cotidiano, das nossas rotinas, lentas e cruas, orgânicas e por vezes monótonas, até cansativas. Mas o elogio, a ode desse diretor tão celebrado à rotina que nos cerca está na beleza que esta nos provoca, nos detalhes que são minuciosamente evocados por seus aspectos mais inevitáveis e, portanto, constantes. Encontrar a beleza em meio ao seco devaneio das nossas rotinas é uma tarefa pouco crível, e que neste filme ganha um espectro de riqueza narrativa e poesia, enquanto nos deliciamos em acompanhar a trajetória dos dias calmos, passivos de Paterson, interpretado brilhantemente por Adam Driver.

Jarmusch trabalha sua estética de forma quase contemplativa, a dar um valor diferente a esta sua pequena e singela obra de arte. Alguns interpretam como pretensiosa a proposta dele em estabelecer contextos e simbolismos contradizentes, o que, por evidência, é a arquitetação de um trabalho cinematográfico esforçado que enaltece um naturalismo arrastado.

Também está fenomenal a atriz iraniana Golshifteh Farahani, que já trabalhou com muitos diretores importantes, como Asghar Farhadi, Ridley Scott, Marjane Satrapi, Abbas Kiarostami, Roland Joffé e está presente no elenco do novo filme da franquia "Piratas do Caribe", sendo ela uma das intérpretes iranianas mais influentes em atividade. Em Paterson, ela interpreta a esposa do personagem de Driver, que também é uma artista. 

Enfim, Paterson é um filme delicioso. Eu gostei bastante. A maneira como o filme se desenrola, seu andamento vagaroso, o estudo sereno dos personagens, passional e dedilhado, simplesmente poético. Jarmusch está de volta com um seus trabalhos mais bonitos e austeros, não dá pra ignorar. 

Paterson estreia dia 20 desse mês no Brasil. 

Paterson
dir. Jim Jarmusch
★★★★

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