SHIRKERS: O FILME PERDIDO (2018)
O filme é maravilhoso e autêntico a maior parte do tempo, até que, no mesmo momento em que começa a expor o que acontece depois que o "Shirkers" é concluído, algumas coisas começam a se embaralhar, até porque se passa um tempo falando de uma figura que está alheia ao documentário e é, ao mesmo tempo, o ponto de conflito da narrativa. Se o doc sai um pouco do encanto sensacional da história do filme perdido para entrar em méritos que o levam em direções mais confusas, tirando isso, é um trabalho bastante agradável e plausível, com momentos genuínos de nostalgia, paixão pela arte e um sentimento de recordação e reconstrução. Talvez se a história tivesse sido contada de outra maneira (embora essa talvez seja a maneira mais recorrente de contá-la "tradicionalmente") daria pra fazer um documentário suficientemente original e ainda mais bem costurado do que ele já é. Assim, a primeira parte do filme é essencialmente necessária, com todos os sentimentos capturados, e a sua conclusão irregular, embora não menos bela quando acompanha intenções que já vinham sendo desenhadas desde o começo. Shirkers se sai muito bem no registro das lembranças, na preservação de muitas liberdades, os gestos de olhar para trás e recontar, de falar do próprio cinema e da arte em si. Já acho um documentário genial por essa proposta. ★★★½
Shirkers, dir. Sandi Tan, E.U.A.
CUSTÓDIA (2017)
Incrível como um dos filmes mais tensos e impactantes feitos recentemente (no sentido de deixar o espectador vidrado, desnorteado, se sentindo na pele dos personagens) não é nenhum filme de ação não, mas sim um drama bem intenso sobre relações tóxicas marcadas pelo abuso e pela violência. No começo, o filme de Xavier Legrand não deixa muito claro porque o personagem do marido é tão obcecado ou porque ele age daquela forma tão intimidadora com o filho e a mulher. Tudo o que sabemos é que o sujeito tem um temperamento bem desequilibrado, autor de abusos e episódios de agressão contra a mulher e os filhos. A distância e o intimidamento são registrados com tamanha força que até o menor contato entre os personagens dá origem a uma tensão latente, que vai se intensificando, em especial quando passamos a observar a frenesi daquele comportamento de descontrole. Legrand, em seu filme de estreia, prova pelo menos três grandes méritos: a construção dos personagens (com uma trama arquitetada de forma irreparável), a direção dos atores (temos pelo menos quatro performances excelentes dentro de um filme de 90 minutos) e o domínio narrativo (o controle dramático de cada cena, a tensão absurda, o trabalho com os enquadramentos e a montagem, a condução impecável). ★★★★
Jusqu'à la garde, dir. Xavier Legrand, França
TULLY (2018)
Charlize Theron gigante. Um filme que fica maravilhoso lá pela metade, e tem um desfecho que, além de surpreendente, também acaba se distanciando um pouco daquela metade tão vigorosa, mas sem perder a força: abre portas tanto quanto fecha outras. Como um todo, o filme é sensível e tocante demais pra ser ignorado, com uma valorização honesta dos dramas de seus personagens, bem como da resolução deles. Um filme sobre crescer, ser adulto, amadurecer. Reitman de volta à boa forma, com um filme melhor que sua média recente, mais próximo de Juno do que do fraco Homens, Mulheres e Filhos. ★★★½
dir. Jason Reitman, E.U.A.
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