segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

ROMA (2018)


Escrever sobre Roma é uma tarefa complicada, porque se trata de um daqueles filmes, e eu realmente quero dizer isso, que a gente não consegue colocar nas palavras, se é que vocês me entendem. Cuarón fez algo muito belo aqui, algo que não se encontra todos os dias, daí o motivo dele estar conquistando tanto prestígio por parte dos críticos e atenção nas premiações. É um registro bem particular de um momento da infância do cineasta através do olhar de Cleo (personagem que foi inspirada na babá do diretor) numa época em que o México se encontrava em um estado politicamente crítico. É dentro da proximidade entre a empregada humilde e a família de classe média alta que Cuarón contorna seu mosaico de lembranças da infância, misturado com um retrato tenso, ácido e agitado das divergências dentro daquela sociedade. O que surpreende é o quanto o filme consegue bastante equilibrado ao andar nessa corda bamba entre registro e retrato, sem deixar de ser humano o suficiente para fazer jus às memórias que ali estão impressas, com aquela humanidade que apenas diretores como o Alfonso Cuarón conseguem evocar. A história está na pele de Cleo, um anjo no meio daquele caos todo, a mulher que está presente mesmo quando não está à vista e que participa, involuntariamente, da vida daquela família, da desordem que contamina as relações e da emoção que contagia cada personagem. Quando eu digo que Roma é um filme belo, eu não quero dizer apenas ou principalmente de aspectos estéticos, embora ele seja bastante especial nisso também, com um trabalho de câmera e fotografia não poucas vezes desnorteante, o scope preto-e-branco maravilhoso, um cuidado a mais com a imagem que valoriza muito mais suas intenções nostálgicas; além disso, há também uma beleza maior, que vai do gesto de reconstruir e de esculpir lembranças (que é do que o cinema é feito) até a compaixão e ternura de sua essência, que é inevitavelmente mais lindo do que qualquer coisa. Repleto de afeto, costurado com um amor que, contidamente, vai se abrindo aos poucos a cada cena, quebrando ou enchendo os corações de quem assiste, até a sequência da praia, que é de uma comoção enorme (catalisando a força do filme todo), e que confirma aquilo que Roma é: um carrossel de emoções, memórias e sentimentos, de um tempo, uma família, uma infância, da vida. 

Roma
dir. Alfonso Cuarón
★★★★★

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