quinta-feira, 16 de maio de 2019

GAROTOS DE PROGRAMA (1991)


Garotos de Programa é Gus Van Sant antes da fama, antes de Hollywood, entregue às idiossincrasias do então cinema independente, experimentando linguagens e tentando coisas novas a cada partezinha do seu filme que fala sobre, entre outras coisas, o pertencer, o estar, as angústias de pessoas que vivem às margens, o abandono, e a todo instante, tenta-se encontrar, ou pelo menos alcançar, a beleza no meio daquela bagunça, enxergar o sublime em pessoas caóticas, perdidas.

A originalidade do estilo de Van Sant está livre, respirando sem amálgamas, ele tenta de tudo e consegue resultados espontâneos com o inconvencional. O elenco também aproveita da mesma liberdade pra moldar atuações inesquecíveis (River Phoenix, Keanu Reeves e William Richert estão brilhantes).

Num ritmo de road movie, o filme avança à medida em que descasca seus personagens, exibe suas fragilidades, expõe fraquezas, as perseguições, marcas da vida, e constrói um retrato melancólico, doloroso, de traços líricos, que projeta naquelas vidas marginais um senso de sentimento, comiseração sem forçar a barra, tudo para se alinhar com a beleza da procura que o personagem de Phoenix mantém pela mãe e que é o fio condutor da narrativa. Os caminhos dessa busca levam à contundência, com um desfecho forte, nunca exigente, mas que reflete a distorção daquelas vidas desencontradas e suas dores. Garotos de Programa provavelmente é o melhor exemplo daquilo que um drama homossexual deveria ser. Forte, mas sem apelos. E honesto, com delicadeza.

Garotos de Programa
My Own Private Idaho
dir. Gus Van Sant
★★★★½

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