terça-feira, 28 de maio de 2019

LUNCHBOX (2013)


Uma das coisas que eu mais gosto em relação aos filmes é a capacidade que eles tem de nos conectar, de expor as ligações que as pessoas compartilham entre elas, e de evidenciá-las na linguagem cinematográfica, sem depender exatamente de traduções ou explicações para deixar claras suas intenções. O cinema me fascina pela universalidade, pelas nuances da arte e da maneira como ela modela e aprimora os sentimentos que são impressos na tela. E, é claro, releva seu lado mais humano, seu poder incrível de expressão e identificação. 

Diretamente da Índia, vem um filme belíssimo sobre a inesperada relação entre uma mulher que descobre que, incidentalmente, o almoço que ela prepara para seu marido todos os dias (e que é transportado através de um infalível sistema de entregas de "lunchbox") está indo parar no endereço errado, nas mãos de um homem viúvo prestes a se aposentar da empresa onde trabalha. O homem fica deliciado com a comida que a mulher o prepara. Ao saberem desse engano, eles dois passam a trocar mensagens, e criam um vínculo muito forte: uma paixão. A mulher está frustrada no casamento, com um marido que não tem tempo pra ela, enquanto o homem encontra na relação com aquela mulher uma chance de se reencontrar e de amar de novo. Os dois tornam-se confidentes e se aproximam sem nem sequer terem se conhecido pessoalmente.

O resultado é de um frescor maravilhoso. Lunchbox abraça um sentimentalismo quieto, sem perder seu ritmo ao entrar num terreno mais dramático. Pelo contrário, isso ajuda ainda mais a criar uma história de amor belíssima em que acompanhamos deliciados a entrega de cartas e a intimidade que cresce bem na nossa frente, e que nos leva a torcer pela felicidade daquele casal tão singelo. Este filme romântico se equilibra entre as doçuras do amor e a observação da rotina daqueles dois personagens, às vezes carregadas de sentimentos de frustração e insatisfação. Em nenhum momento deixa de ser um retrato gracioso, cheio de pontos altos, e que conquista pela honestidade com que acompanha a curiosa relação entre seus protagonistas, sendo fiel aos seus sentimentos e às emoções que permeiam um romance tão majestoso, que mesmo tratando de pessoas comuns consegue ser extremamente particular nos gestos.

Lunchbox lida com a busca de seus personagens, com suas vidas simples, mas é no romantismo que a simplicidade se transforma radicalmente em algo maior. O amor surge das coisas pequenas, e é justamente nos momentos mais sutis e despretensiosos que ele parece ganhar força descomunal, de uma beleza admirável. Vai tocar o coração de quem já se apaixonou e teve que passar por todos os sentimentos que isso é capaz de fazer emergir, desde a tranquilidade de saber que se ama alguém, até a tensão de estar distante e não saber o que irá acontecer. Lunchbox compreende o amor porque compreende suas alegrias e dores. Seus personagens completam-se, mas também sofrem. O amor é um acontecimento precioso, e aqui ele é captado com a ternura e sutileza necessárias para fazer jus à sua incontível riqueza. Irffan Khan e Nimrat Kaur estão majestosos. Gostei demais desse filme. Muito bonito mesmo.

Lunchbox
Dabba
dir. Ritesh Batra
★★★★

2 comentários:

  1. É um ótimo drama sobre pessoas comuns, com um história contada com leveza, mesmo mostrando tristezas e frustrações.

    Abraço

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  2. Gostei de tudo isso e mais. É um filme muito bonito mesmo. E com excelentes atuações.

    Abraço, Hugo!

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