domingo, 5 de maio de 2019

SE A RUA BEALE FALASSE (2018)


Se Moonlight era também sobre, de certa forma, o amor como forma de libertar-se de um mundo que te aprisiona, Se a Rua Beale Falasse inverte o jogo e retrata viver o amor diante dos cerceamentos do mundo, através de suas barreiras. Nesses filmes de Barry Jenkins, somos moldados pelos sentimentos ao mundo que nos cerca, pelas suas prisões, dores e aflições, para depois sermos resgatados pela graça, completude e maravilha do amor. É o que reafirma esse novo filme, que traz uma visão lírica e dolorosa da relação entre uma moça de 19 anos grávida de um rapaz que está preso, acusado de um crime que não cometeu.

Há todo um charme, uma dinâmica na paleta de cores, uma sutileza sublime nos enquadramentos e nos close-ups, magníficos. Obra de James Laxton, a fotografia não desaponta sequer um momento, continua evocando quem inspirou Jenkins (Kar-Wai, Denis) ao mesmo tempo em que cria para esse diretor sua estética própria, com cores que exprimem delicadamente os desdobramentos da trama, as sensações dos retratados e que também se conecta a quem está atrás da tela.

Diferentemente de Moonlight, esse aqui não tem o foco em apenas um personagem para depois conectá-lo ao elenco, mas divide sua atenção entre a Tish e o Fonny, e com os outros personagens, criando uma ponte entre os sentimentos de injustiça, glória e compaixão compartilhado por eles.

Num elenco inspirado, para as melhores atuações ficaram com a responsabilidade Regina King (excelente mesmo em poucas cenas), Stephan James e Kiki Layne, e até mesmo quem tem atuações menores, como Brian Tyree Henry, Aunjanue Ellis e Colman Domingo, conseguem se destacar.

A trilha de Nicholas Britell é desconcertante, tão desconcertante quanto a de Moonlight. Ajudando a compor a atmosfera romântica do filme, e com a sensibilidade de Barry Jenkins, esses detalhes ajudam a enriquecer a adaptação do romance de James Baldwin com um senso de ternura, paixão e força bastante precisos. O filme sabe da força que carrega e canaliza ela para o que ele tem de mais particular: sua compreensão tocante do amor. Com um retrato densamente pungente do negro na sociedade americana e das barreiras que a ele são impostas, Se a Rua Beale Falasse entende com a tristeza de um blues a marginalização, o aprisionamento, mas prefere costurar as vidas de seus personagens com o que de mais belo poderia acontecer a elas. É essa beleza, essa força incontida que, afinal de contas, permite que a esperança respire, e a liberdade fale, e enfim viva.

Se a Rua Beale Falasse
If Beale Street Could Talk
dir. Barry Jenkins
★★★★

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