quarta-feira, 21 de junho de 2017

NA VERTICAL (2016)


Alain Guiraudie já tinha provado, com Um Estranho no Lago, ser um dos mais promissores cineastas da França, e ele volta a provar a força de seu cinema tido como promissor há alguns anos em seu mais novo trabalho, um pouco menos instigante e tenso do que o anterior, mas que volta a trabalhar com temáticas semelhantes seguindo à risca um estilo bastante próprio de filmar, e as marcas do diretor, seu trabalho com um linha espinhosa, temas de difícil abordagem e personagens em situações pouco convencionais, até fantásticas, como chegam a ser algumas das sequências deste filme que beiram a fantasia, fora da lucidez, embora seus personagens sejam pessoas comuns, do cotidiano.

A provocação é uma constante no cinema de Guiraudie, e ele volta a trabalhá-la de maneira excepcional neste Na Vertical, com traços parecidíssimos ao de Um Estranho no Lago, seu thriller hitchcockiano/homoerótico que já era um primor. Aqui, há um cuidado bem maior nesta questão da provocação, embora o resultado não seja necessariamente tão satisfatório e magnífico como o do anterior. São dois filmes que se encontram em perspectivas semelhantes, e o erotismo homoerótico passa a ser uma espécie de marca registrada na filmografia deste diretor.

Se no suspense de 2013 o diretor ousava inserindo uma tensão sexual bastante explícita, até mesmo na imaginação dos personagens que permeiam uma praia nudista frequentada assiduamente por homossexuais, com direito a muita nudez, neste aqui Alain vai além, inserindo ao menos duas sequências ainda mais ousadas e provocativas que certamente ficarão gravadas na memória do espectador: a cena do parto e a cena de sexo gay, pra mim duas sequências extremamente bem concebidas e realizadas, que estão entre as melhores do filme, que por si só já é bastante memorável por uma série de fatores. 

A lástima é o filme ter tido uma recepção tão breve e pouco calorosa após sua estreia em Cannes, onde foi tido como controverso e polêmico, mas depois do festival quase não se comentou sobre o filme e nem chegou a ter, digamos, uma recepção internacional tão famigerada, ainda que tenha aparecido na conceituada lista de fim de ano da revista Cahiers du Cinema. Por isso, a estreia deste filme tão provocador e único aqui no Brasil já é de uma grandeza única. 

As performances de Damien Bonnard (excelente), India Hair e Raphael Thierry merecem ser relevadas. O filme dialoga com temáticas bastante interessantes, inclusive na questão da paternidade, que parece ser o cerne da trama, e também da tensão sexual que é evocada em diversas cenas, de forma direta (ou indireta). O que importa é que o filme, em todo o seu significado e sua austeridade, utiliza toda uma cultura erótica a seu favor, e na construção de temáticas e conclusões que, mesmo nem tão tangíveis, estão bastante próximas da subjetividade. Alain Guiraudie é definitivamente um diretor a ser acompanhado, um dos nomes de peso do cinema francês recente.

Na Vertical (Rester Vertical)
dir. Alain Guiraudie
★★★★

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