Eu ainda tô um pouco desnorteado, mas com a certeza de que acabei de ver tanto o filme mais lindo e mais cruel de 2017 (até agora).
É uma história de amor que explora este em todos os seus aspectos mais minuciosos e como este afeta suas personagens, na sua presença, na ausência, na procura, na criação e na destruição. O filme parece estar bastante seguro do que quer passar, e sobretudo expor, neste retrato que consegue transitar entre o lúdico e o sombrio, o humor e a tragédia, o sentimentalismo e a indiferença.
Interessante observar a satirização de algumas personagens secundárias que surgem na trama, a estranhíssima businesswoman de Swinton (em ambas as suas versões) é obcecada pelo monopólio da indústria alimentícia: o consumismo representa a materialização biológica da capitalização.
O megalomaníaco "amante dos animais" de Jake Gyllenhaal é o exato oposto daquilo que aparenta ser: um monstro transtornado que em sua simpatia e descontração nos momentos iniciais do filme aparenta ser tão inofensivo, digamos, é ele que catalisa a obsessão egomaníaca e o desejo de posse e decorrentemente no longa se torna o mais vil e mentalmente desestabilizado neste arco.
Bong Joon-Ho se esforça em estabelecer uma atmosfera em constante subversão de expectativas e elementos narrativos, pode-se dizer que há um certo sucesso nisso, à medida em que ele vai conduzindo seu público a uma conclusão dura, mas que em sua denúncia desesperançosa e cruel abre portas para um novo ciclo de esperança, vemos um claro contraste e a metalinguagem que ele substancializa ganha novas camadas, é ao mesmo tempo uma exposição da realidade sensível, quebradiça e de um futuro mais próximo ao ideal de reconstrução, equilíbrio, estabilização.
A beleza e a inocência da relação entre uma garota e seu mascote rivaliza com a crueldade de um mundo cada vez mais destruído, fodido mesmo. Um dos grandes pontos do filme está justamente nesta exposição de perspectivas e lados opostos, contrastes, sem ser maniqueísta.
A fotografia de Darius Khondji, de volta à boa forma, é preenchida por sequências extremamente lindas, a câmera parece envolver e se adequar às sequências e seus maneirismos de forma quase imersiva. A noção de espaço, que parece se modificar em determinadas cenas do filme, é outro quesito genialmente bem feito.
Talvez seja o primeiro grande filme deste ano, so far, nunca pensaria que choraria num longa sobre superporcos geneticamente modificados, mas sempre tem uma primeira vez pra tudo. Me deixou desarmado em sua completa melancolia e ternura. Eu amei, muita gente vai dizer que é "filme pra fazer Tony Ramos virar vegetariano" ou coisas do tipo (misurderstood) mas eu acho que é, além de tudo, uma história de amor, um conto que preza pela beleza e pelo afeto humano de uma simplicidade infantil que surge dessa relação de laços tão fortes entre Okja e Mija. Podem me chamar de crianção, mas esse filme me deixou assim, com um aperto no coração, mas ao mesmo tempo nas nuvens.
Okja
dir. Bong Joon-Ho
★★★★½
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