sexta-feira, 28 de julho de 2017

BARBARA (2012)


Entre os recentes assistidos, está Barbara, mais um filme que eu vejo pela minha lenta peregrinação pela filmografia de Christian Petzold, um dos maiores diretores do cinema alemão contemporâneo, e que dirigiu recentemente o belíssimo Phoenix (ainda preciso falar desse) também estrelado por Nina Hoss, atriz que é recorrente aos trabalhos dele e que inclusive ganhou o Urso de Prata em Berlim em 2007 por Yella.

Barbara é um desses filmes cuja beleza está no que não é dito, naquilo que apenas é enxergado com a harmonia do espectador com as imagens e o que nos é mostrado dentro do filme, assim como nossa relação se dá com os personagens e as relações entre eles. A personagem-título é uma mulher que aparenta estar na casa dos 30 e que acabou de deixar a prisão e está retornando à sociedade, com isso ela começa a trabalhar como enfermeira num hospital, onde conhece um médico, André Raiser, com quem faz amizade.

A preocupação de Petzold está centrada na imagem, na forma como ele dispõe os atores em cena e também o trabalho magnífico de jogo de luz, sobretudo na fotografia que, dependendo da cena, pode originar impressões extasiantes acerca os personagens e estabelecer um clima muito verdadeiro e longe de ser artificial. Se Petzold está tão dedicado a manter uma funcionalidade dentro da estética do filme, há também um cuidado enorme com as personagens, em especial a título, uma mulher da qual parecemos acompanhar com mistério e ao mesmo tempo fascínio, identificação.

Com a suavidade e a delicadeza que essa obra é construída, passamos a observar a nova rotina de Barbara, o tratamento das pessoas com ela, e a relação desta personagem com as pessoas que frequentam o seu cotidiano, entre elas uma paciente, Stella, uma jovem que está grávida, e que tem muita consideração por Barbara.

Aliás, o que ajuda muito a personagem, além desses cuidados, é a performance extraordinária de Nina Hoss, que vem provando que é uma das melhores intérpretes do cinema europeu recente, e que já nos premiou com uma atuação pra lá de maravilhosa em Phoenix, já mencionado filme seguinte de Petzold em que ela interpreta uma cantora desfigurada à procura do marido (ela faz par com o mesmo ator que interpreta Raiser, o Ronald Zehrfeld.

O filme namora com o melodrama, mas ao mesmo tempo para estar muito determinado a construir um drama bem particular, focado mais nas emoções dos personagens do que no que eles dizem ou fazem durante o filme. Aliás, é uma dessas coisas que torna a filmografia de Petzold tão digna de uma comparação com Fassbinder, a de dar um novo olhar e entregar uma percepção honesta às minorias, os que são vistos com outros olhos pela sociedade alemã por conta de seus atos, seus posicionamentos políticos, suas nacionalidades, enfim, as suas passagens, mas nunca são julgados pelas suas emoções.

Como raros diretores nos dias de hoje, trabalhando dentro de terreno tão íngreme (o drama), Petzold obtém uma enorme e inquietante consistência dramática partindo da fragilidade (ou de uma noção muito particular de corrupção moralista) que subexiste na relação entre os personagens, neste caso um homem e uma mulher. A ex-condenada política de Nina Hoss (espetacular) e o médico isolado de Ronald Zehfeld, duas figuras emergindo das cinzas da catarse política. O caos calmo que surge do contato entre os dois é relatado de maneira seca e relativamente abrasiva, como quem busca uma tranquilidade em meio a um furacão. Ambas a cena do beijo e a sequência final são de uma expressividade impressionante, bem como a utilização da canção At Last I'm Free, que pode até passar batido, mas é o par perfeito para Barbara (o filme e a personagem também). Petzold filma o desolamento como ninguém.

Entre os muitos momentos belos de Barbara, estão o da personagem lendo um livro para Stella no hospital, e também uma cena em que a Stella canta uma musiquinha para Barbara, ou também a cena em que Stella e Reiser se beijam (perto do final) capaz de evocar sentimentos contraditórios, embora seja embebida de um romantismo único. E também a sequência final, acompanhada pelos créditos com a música "At Last I'm Free", do Chic (e que combina muito com o que o filme aborda, aliás). É a questão de uma liberdade, seja ela política, biológica ou fundamentalista – é a liberdade que tanto almejamos, ou mais do que a liberdade em conceito o que realmente queremos é o sentimento de ser livre. Mas, afinal, adianta a liberdade se não estamos livres daquilo que parece nos impregnar com a maior facilidade do mundo: o amor?

Barbara
dir. Christian Petzold
★★★

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