Neste filme, Michel Franco vai mais fundo ao limite do seu cinema de raízes hanekianas com uma história (real) extremamente provocadora e desconcertante, com momentos de tensão muito bem articulados e uma construção minuciosa de personagens, o foco é a relação de dois irmãos, Daniel e Ana Torres, antes e depois que eles são sequestrados e forçados a fazer sexo diante de uma câmera, vídeo esse que seria vendido através da indústria pornô. A cena em questão é desoladora, tão inquietante quanto claustrofóbica, e a observação da reação dos atores torna-se uma tarefa chocante, embriagada pela perversidade, é um momento seco e impactante, em que não sabemos muito bem o que esperar, embora tenhamos a consciência de que, de uma forma ou de outra, a vida desses dois irmãos sofrerá um forte abalo. Os laços afetivos são inexistentes, apenas restam olhares frios e embaraçosos daquilo que um dia foi uma relação entre irmão e irmã, expostos a um trauma maior. Franco filma tudo isso, o devaneio sexual, a distância, a falta de sentimentos com uma dimensão eloquente e assustadora. Os momentos finais são silenciosamente devastadores, vemos ruir aquela relação e o calmo desespero do irmão por um irmã agora vista com outros olhos, com um sentimento de confusão ou inexplicabilidade. A tonalidade áspera ajuda a compor um clima sinistro, bizarro, evocando o inesperado em uma trama ainda imprevisível.
Daniel & Ana
dir. Michel Franco
★★★
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