domingo, 2 de julho de 2017

DE CANÇÃO EM CANÇÃO (2017)


Uma experiência sensorial de Terrence Malick, que está aquém aos trabalhos anteriores do diretor mas que nem por isso fica atrás. Anula a narrativa convencional e afirma o senso experimental da imagem, de uma harmonia quase poética, que a câmera de Lubezki, divagando entre personagens traduzidas com a serenidade do sentimento e a adrenalina da emoção, deslocados, movidos por uma energia hermética, e paisagens deslumbrantes sejam elas urbanas ou naturais, capta com a alma, a contemplação e a euforia.

A incomensurável êxtase do ser livre nasce dessa aspiração humana pelo sentimento de liberdade que parte do amor, da verdade dos sentimentos, do extremo dos sentidos, do espírito que transborda em elevação. Cada olhar é um ato de força e sedução, cada toque é uma onda que percorre as ínfimas terminações nervosas em um gesto de arrebatamento, tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo, tentando ultrapassar a barreira física, e atingir a alma.

De canção em canção, de acorde em acorde, Malick constrói o seu movimento de poesia e cinema, de rebeldia e de transformação, com uma classe experimental que parece estar muito à vontade com a descontração e espontaneidade das performances de um grupo de atores em ótima forma, cujas reproduções estão mais próximas de suas figuras humanas, e isso é muito bonito. Não seria exagero afirmar que a cada frame nasce um monumento.

Mais curioso ainda é ver como o diretor procura reinventar os próprios maneirismos que seu imaginário evoca, sem precisar de uma certa lógica pra funcionar, usufruindo de um material mais surreal, e dele acaba surgindo essa dinâmica metafísica que é muito fascinante.

Pra quem viu pelo menos os quatro filmes anteriores de ficção de Malick não há muita surpresa com a abordagem poética deste novo filme do cineasta, a impressão que fica é a de que justamente trata-se de uma experiência muito mais perceptual do que narrativa conceitualmente dita, entretanto é possível denotar a força imagética que a fotografia de Emmanuel Lubezki carrega, gerando uma coleção de pequenas obras de arte que emergem a cada sequência. É a catarse do cinema que se afirma como poesia e corpo condutor de um estímulo sobrenatural, irreal, que só a sétima arte poderia trazer à vida e refletir na transcendência da dimensão sensorial.

De Canção em Canção (Song to Song)
dir. Terrence Malick
★★★

Um comentário:

  1. Certamente não é um filme fácil! Terrence Malick é um daqueles diretores que ou se ama ou se odeia. Sua estética apurada, de linguagem rebuscada e muito existencialismo conquista o público com a mesma intensidade que o afasta, e um exemplo dessa relação de amor e ódio é seu novo trabalho DE CANÇÃO EM CANÇÃO, que novamente traz um elenco estelar com Michael Fassbender, Ronney Mara, Ryan Gosling (Do óptimo Novo Filme Blade Runner 2049 ), Natalie Portman e ainda conta com várias outras participações mais do que especiais, que falaremos mais a frente. DE CANÇÃO EM CANÇÃO é a prova de que o talento contemplativo e filosófico de Malick pode abordar vários temas e tomar várias formas, afinal, não importa o que façamos ou como vivamos – a reflexão sempre será necessária. Nossa existência depende disso, pois assim como disse o filósofo francês René Descartes no livro O Discurso do Método de 1637: “Desde que eu duvide, eu penso; porque eu penso, eu existo”.

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