sábado, 28 de fevereiro de 2015

Crítica: "RELATOS SELVAGENS" (2014) - ★★★★


Esplêndido! Não me estranha Pedro Almodóvar ter colocado dinheiro numa obra tão excelente como esta. Crítica social, crítica econômica, sátira, comédia dramática, antes de tudo isso, Relatos Selvagens primeiramente é um filme moderno. Apesar de não ser tão complexo, o que pode ter desapontado quem esperava isso no final, Relatos Selvagens é delicioso. Engraçado e dramático em alguns pontos, mas sempre com o foco em seu padrão. 

Assustador, brevemente. A cada segmento, há suspense. Há humor, há desastre, há sátira. É bizarro, por isso, é tão louco. Logo no primeiro episódio, pessoas dentro de um avião descobrem algo em comum: todas conhecem Gabriel Pasternak. O mistério se precede até quando descobre-se que Pasternak é um doente psiquiátrico e sua vingança é esta: matar a todos que atrapalharam sua vida, inclusive ele mesmo, num acidente de avião. O mais curto (precede os créditos, como uma "introdução"), mas o mais simbólico.

O filme foca-se em vingança. Tudo se resolve com a vingança. E aí segue. Desse sentimento nasceu todo o furioso talento em impactar de Relatos Selvagens. Seus personagens querem sangue. São movidos a sangue. Vidas cinzas em busca de um vermelho entonado. Traição, ódio, repulsa, vivacidade, personalidade.

É bem lógico. O espectador pode ter desconsiderado a falta de procedimento das histórias. É como se não houvesse final. Pode ser feita uma pequena observação: a cada episódio, com a exceção do terceiro, o diretor "corta" o final, deixando um clima de ambiguidade no ar. Peculiar, mas legal. Funcionou, é o que nos importa. Quem não imaginou Pedro Almodóvar dirigindo Relatos Selvagens? O filme é a cara dele. Pode não ser aquele clássico Almodovariano, cheio de brega e cores quentes, mas o estilo é familiar, por que é todo dele. Inspira.

Meu episódio favorito foi o final, mesmo que eu ainda tenha gostado muito do terceiro, por ter mais humor ou, sei lá, o desafio de ausentar a sensibilidade. O último me agradou muito. Tem tudo, ou melhor, ele resume toda a ambição do filme de Szifrón. É o mais irônico e ousado. Empolgante e revoltado. Alegre e triste. Cinza e vermelho. Almodóvar. Merecedor de aplausos também é o nervoso segundo, que pode ter deixado muitos à flor da pele. Ricardo Darín e Erica Rivas dão as melhores performances do filme.

O filme mostra o ridículo mundo em que vivemos, cheio de interesse, desordem, incapacidade, crime e pecado. Aborda a impaciência do ser humano em tudo, nos grandes e pequenos fatos: uma briga de trânsito, uma cadente traição, um insurgente reencontro. Mudar já não é mais possível. O jeito é perder o controle. Temos que aprender a perder o controle para sobreviver neste mundo. Senão, não teremos transformação. Não teremos clímax. Não teremos a liberdade.

Relatos Selvagens (Relatos Salvajes)
dir. Damián Szifrón - ★★★★

Um comentário:

  1. Tales selvagens é um filme com um bom enredo e acima de tudo muito interessante. O que eu mais gostei é a interpretação de Leonardo Sbaraglia , quem está fazendo atualmente O Hipnotizador uma série de televisão na HBO

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