Todas as produções indicadas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano, com a exceção de Relatos Selvagens (Argentina), são europeias. E dentre estas produções, Tangerines é um destaque primordial. Com pouquíssimos recursos utilizados em seu fraco financiamento, o filme demonstrou-se avançado se comparado ao que nele foi colocado. Pelo contrário do que alguns pensaram sobre, Tangerines não está retratando a crise que empurrou a Europa para um chão desmoronado da economia, e sim, analisa de uma forma peculiar e inteligente um outro capítulo pouco mostrado no cinema, e que aqui funcionou lindamente: a Guerra da Abecásia, um conflito instalado durante 1992 até 1993 entre as autoridades georgianas e abecásias.
Enquanto a maioria das pessoas fugiram de suas moradias na região onde a guerra se instalou, uma pequena população continuou a viver lá. Ivo é um deles. Ivo trabalha numa plantação de tangerinas em uma fazenda ao lado de Marcus, um fiel ajudante. Num certo dia, um embate entre alguns soldados georgianos com outros chechenos acaba na morte de vários integrantes de ambos os grupos. Apenas dois, de lados separados, sobrevivem, e cabe á Ivo e Marcus, ao lado de outro médico cujo nome não me vêm à cabeça, cuidar desses sobreviventes inoportunos, que dentro da pacata casinha rural do fazendeiro, travam uma rivalidade limitada pelo pacífico plantador.
Como visto, a proposta da história é bem aberta, o que possibilita mais oportunidades e saídas rentáveis, algo que na película é indispensável. Não se preocupe com a duração, pois para o diretor/escritor Zaza Urushadze, oitenta minutos foram o suficiente para reunir todo o essencial da jornada (isso pode ser visto como um desempenho fenomenal).
Tangerines, mesmo que esteja atrás de Ida e Leviatã, os concorrentes mais prováveis á vitória no Oscar, ainda sim tem uma considerável grande chance de levar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro para a Estônia, logo na primeira indicação do país. A categoria em questão é a mais incerta de todas (excluindo curta-metragem e documentário). Talvez por que a eleição dentro dela envolva uma massa de votantes estrangeiros maior do que nas outras, ou seja, a votação é mais "universalizada". Por isso que há tanta divergência nessa mesma categoria em outras premiações, como o Globo de Ouro, BAFTA, etc...
Na minha opinião, Tangerines é um espetáculo. Através de uma moral bem resolvida e sem muito exagero, o drama apresenta observações qualificadíssimas quanto á guerra em geral, não só a específica tratada diretamente na trama, mas o significado das ações por trás dela. Filmes de guerra sempre tendem a ser interessantes, e sinceramente, se você procura um novo e bom filme sobre o assunto que lhe reserve uma reflexão adequada, entre os aconselháveis estará, com certeza, Tangerines. Tocante e valiosa, a obra garante uma experiência cinematográfica profunda e memorável, e além de tudo, humana.
Tangerines (Tangerines/Mandariinid)
dir. Zaza Urushadze - ★★★
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