sábado, 30 de maio de 2015

Crítica: "NA MIRA DO CHEFE" (2008) - ★★★★★


Que obra! Que obra! Na Mira do Chefe é uma sensacional, extremamente imperdível, inusual e encantadora comédia de humor negro que fascina sublimemente e deixa sem palavras a quem assiste em praticamente todos os sentidos. Suspense, drama, humor negro, romance... Na Mira do Chefe, sob todos os aspectos que o compõe, trata-se de um dos retratos mais impecáveis do crime organizado feitos ultimamente além de uma das tramas mais engenhosas que eu já vi em toda minha vida cinéfila. Não há decerto palavras suficientes para descrever o quão maravilhosa e primorosa é essa obra.

Dois matadores de aluguel, Ray e Ken, são enviados à Bruges, Bélgica, depois de um fatídico trabalho realizado em Londres. Esperando por instruções, os dois tentam se acomodar, às suas maneiras, ao clima turístico de Bruges. Enquanto Ken fica totalmente apaixonado pela beleza, calmaria e romantismos transmitidos pelo local, Ray, com seu mal humor, comporta-se de maneira terrível e totalmente contrária à de Ken em sua estadia em Bruges. Um destino inesperado, aterrorizador e perplexamente cômico os aguarda.

Metade comédia metade drama, Na Mira do Chefe (contrariando o título em inglês In Bruges) explora de maneira sangrenta e viciosa a jornada destas duas personalidades e o desfecho de suas escolhas dentro da história. Martin McDonagh, que anteriormente havia vencido o Oscar de Melhor Curta-Metragem em Live-Action por Six Shooter em 2006, e foi indicado ao prêmio em 2009 por este filme em Melhor Roteiro Original, realiza um trabalho magnífico tanto ao assumir a direção e o roteiro (tendo sido o último mil vezes melhor conduzido do que o primeiro). Nada ruim para um primeiro filme. 

O primeiro acerto de Na Mira do Chefe é justamente essa capacidade do roteiro de conseguir equilibrar perfeitamente o drama e a comédia, algo que, frequentemente visto, é um típico erro entre os longas do gênero. Outro acerto de Na Mira do Chefe é, então, conseguir equilibrar essa característica ao suspense, novamente erro comum entre as produções do gênero. Antes de citar todas as qualidades adjacentes ao filme, essas duas vem primeiro com muito prioridade. O estilo de filmagem é decentemente vigoroso. A técnica assumida é fantástica.

Também, como não gostar de um filme que tem um elenco excelente de competente? Começando os elogios, logicamente, com Colin Farell, numa interpretação deveras autêntica e espetacularmente criminosa. Não me é tão desconhecido esse rosto de Ray feito por Colin. É uma peça já vista, não só no cinema, mas na vida real. Talvez seja por isso que tão concretamente acredito que, sem Farell, o personagem Ray não teria tanta graça, já que essencialmente é necessário talento para encarnar um assassino perturbado consigo mesmo por seus atos e terrivelmente confuso em relação à sua vida. Digo o mesmo em relação ao colega de Farell/Ray: Brendan Gleeson/Ken, em outra performance digna de aplausos pela extrema cautela e precisão com a qual foi concebida. Não me estranha Na Mira do Chefe ter recebido da mais calorosa glória e vitória. Ralph Fiennes aparece timidamente no final, mas com força, sempre impondo, num papel miseravelmente simpático e excêntrico de vilão: Henry Waters, o comandante de tarefas de Ken e Ray. 

Mas também há humanidade em Na Mira do Chefe. Nem tudo é sangue, carnificina e Bruges. Há um pouco de simpatia e gentileza na estupendamente criminal trama que abraça os personagens do filme. Por isso que se é muito preciso dizer que é uma comédia dramático, justo a fim de colocar a par o público que a história também abriga um drama muito pesado. Creio que terá muitas lágrimas rolando na cena (spoiler à frente), onde Ray realiza de maneira desconfortável e primitiva seu primeiro trabalho como assassino de aluguel, matando a tiros um padre e, durante o ato, errando uma bala e acertando uma inocente criança que estava rezando. Aquele momento é de matar, sinceramente. Drama maior, creio, poderá não ser visto no filme (creio que a cena na qual o Ken... Vou parar de dar spoilers, vejam a película!).

A edição é absolutamente desconcertante, assim como a fotografia de Eigil Bryld que, no final e nas cenas de turismo protagonizadas por Ken e Ray, tanto mantém o espectador maravilhado. A trilha sonora de Carter Burwell também é satisfatoriamente ótima. E o mais "humor negro", irônico de Na Mira do Chefe é que, sendo um filme independente que tinha tudo para ser no máximo amador, extrapola na qualidade (no bom sentido) e torna-se o mais profissional possível. E o melhor é que, de uma história tão tentadora e criminosa como essa, nasce uma belíssima obra que se caracteriza principalmente por sua instantânea humanidade (apesar de ter um final nada humano, envolvendo justo a questão do humor nengro) e sua beleza estonteante, que tanto irrita nosso personagem principal, o triste e perturbado de bom coração Raymond: "Fucking Bruges!

Na Mira do Chefe (In Bruges)
dir. Martin McDonagh - 

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