sexta-feira, 22 de maio de 2015

Crítica: "O AVIADOR" (2004) - ★★★★★


O Aviador é uma obra simplesmente imperdível. Já se passaram onze anos do imperdoável de bom O Aviador, gigantesca película de Scorsese que retrata de modo ficcional a vida de Howard Hughes, celebridade nata da Hollywood da década de 20/30, e mesmo assim, passados tantos outros filmes dentro da filmografia de Martin desde lá, tais como A Invenção de Hugo Cabret O Lobo de Wall Street, O Aviador continua intacto, permanecendo como uma das maiores obras já feitas por Scorsese. Arrisco: uma das mais importantes e essenciais.

Indicado a 11 Oscars em 2005, entre eles Melhor Filme (Graham King, Michael Mann), Direção (Scorsese), Ator Principal (DiCaprio), Atriz Coadjuvante (Cate Blanchett) e Roteiro Original (John Logan), tendo vencido cinco estatuetas, por Melhor Fotografia (Robert Richardson), Melhor Figurino (Sandy Powell), Melhor Direção de Arte (Dante Ferretti, Francesca LoSchiavo), Melhor Edição (Thelma Schooonmaker) e Atriz Coadjuvante para Blanchett, acredito que bem mais do que Os Infiltrados, filme que, dois anos depois ganhou o Oscar de Melhor Filme e deu a estatueta de direção (a única até hoje) para Martin Scorsese, ovacionado por todos na platéia no Oscar 2007, O Aviador merecia e deveria ter ganhado Melhor Filme, Direção, Ator, Roteiro e tudo o mais o que lhe estivesse à altura no Oscar 2005, se não fosse pelo fato dele estar competindo com grandes e talentosas obras como Menina de Ouro e Sideways - Entre Umas e Outras, os "queridinhos" daquela edição, idolatrados pelos sindicatos e os mais favoráveis a prêmios maiores nas categorias principais.

Num período de aproximadamente vinte anos, O Aviador reconstrói ambas carreira cinematográfica e aviadora de Howard Hughes, diretor de Hell's Angels e produtor de Scarface - A Vergonha de uma Nação. Mas a reconstrução da vida de Hughes conta não só com fatos, mas também com extraordinárias adições fictícias, que dão sabor e luz à história de maneira peculiar e suntuosamente bonita. O Aviador, em resumo, é um filme abusivo em luxo, beleza e cor. Exageradamente abusivo. O mais exageradamente abusivo possível. Mas, de um lado, esse exagero é bom, por que o filme no final é tremendamente equilibrado. A história não apresenta falhas ao longo de seu percurso quando nela é acrescentado esse demasiado exagero. E é isso que encanta em O Aviador, minha gente. É uma obra que, com sutileza e sensibilidade, consegue ser exagerado na melhor maneira que um filme poderia ser. O exagero respeita o clima da trama. 

Ao mesmo tempo em que é um filme tremendamente colorido e vivo, O Aviador possui um elenco que oferece brilho e calor às necessidades que a vivacidade do filme apresenta. Tudo é meticulosamente interligado, em favor de que o filme funcione perfeitamente, à altura de uma obra. Leonardo DiCaprio, na segunda das atuais cinco colaborações com Scorsese, faz um dos papéis de maior significância de sua carreira. Totalmente "doado" à interpretação de Howard Hughes, é desoladora a transformação de Leonardo no fanático e obsessivo Howard. Cate Blanchett atua na pele da belíssima Katherine Hepburn, com quem Hughes teve um caso em meados da década de 30. Merecem destaque, também, no elenco Alan Alda (Senador Owen Brewster), John C. Reilly (Noah Dietrich) e a lindíssima Kate Beckinsale (Ava Gardner). 

E, no contexto geral, torna-se mais um filme de Scorsese. Uma análise da vida de um ambicioso homem que quer tudo e tudo mais, sem medir limites, e que no final de tudo não se vê apto a sobreviver à medida na qual a força das circunstâncias recai sobre ele. Um típico personagem scorsesiano. Howard Hughes torna-se mais um, dentre Henry Hill, Bill Cutting, Jordan Belfort, Travis Bickle. Não há quase nada inusual em O Aviador. É um filme sobre a ambição, a fúria e o medo, em termos resolutivos.


E ainda para contribuir mais ao sucesso retumbante de O Aviador e oferecer à cinebiografia um quê digno de retrato épico, temos em jogo uma equipe técnica deslumbrante de talentosa e empenhada. Robert Richardson, como sempre, é insubstituível na autoria da confortável direção de fotografia, que oferece um amplo e belo visual à obra. Os figurinos de Sandy Powell caracterizam e imortalizam a época narrada no filme, tal como a brilhante direção de arte de Dante Ferretti e Francesca LoSchiavo, que, como sempre, realizam um formidável trabalho recriando cenários e objetos icônicos. A trilha sonora de Howard Shore é triunfal.

E tal como seu personagem principal, Howard Hughes, que possui uma incessante obsessão de perfeccionismo pela produção de seus filmes (no início do filme, Hughes pede emprestado duas câmeras à produtora MGM para fazer a filmagem de algumas cenas, mais tarde afirmando ter vinte e quatro modelos da câmera consigo), O Aviador possui essa obsessão, pois é impossível notar irregularidades na confecção do retrato. É tudo detalhado com extrema cautela e perfeição. Puxa... com tudo isso, é impossível, seriamente, deixar de reconhecer a importância e a magnitude de O Aviador dentre as produções épicas cinematográficas, talvez, da história do cinema. Muito bom filme!

O Aviador (The Aviator)
dir. Martin Scorsese - 

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