quinta-feira, 5 de maio de 2016

Crítica: "DE CABEÇA ERGUIDA" (2015) - ★★★★


Um dos filmes mais celebrados do cinema francês no ano passado, De Cabeça Erguida, longa que abriu o Festival de Cannes ano passado, dirigido pela cineasta e também atriz Emmanuelle Bercot, é um exemplar nato da superioridade do cinema francês nos dias de hoje e o filme em si é exclusivamente importante na sua abordagem e temática, o que o torna tão obrigatório e especial. Eu simplesmente não consigo entender como as pessoas odiaram tanto esse filme. Ele não é o que podemos chamar de obra-prima, mas está definitivamente bem longe de ser um filme do qual eu não gostaria -- muito longe, de fato. Nem sei como, de alguma forma, eu poderia desaprovar De Cabeça Erguida.

De Cabeça Erguida trata da história de um jovem delinquente (Rod Paradot) de comportamento explosivo, e sua relação com o mundo em que vive, a justiça, e ele mesmo. Dentro de um período de dez anos, o rapaz passa por altos e baixos enquanto é encaminhado para diversas instituições (reformatórios, prisões...), atravessando vários conflitos.

O rapaz é um criminoso quase compulsivo, irrepreensível, sem atitude, sem nada, perdido no mundo. Do início do filme, a gente acha que o resto vai ser muito previsível. Há quem diga que simplesmente não dá pra prever que o destino daquele garoto marginal irá mudar. A gente logo o encara como um caso perdido (seria um spoiler?).

A primeira cena do filme é explosivamente chocante. A jovem mãe de Malony (Sara Forestier), no escritório da juíza Florence Blaque (Catherine Deneuve), inicia um bate-boca com a juíza enquanto maldiz o garoto, ainda criança. A moça, por fim, acaba abandonando a criança no escritório. Numa cena não tão distante, os mesmos personagens se reencontram, anos depois, Malony já crescido e sua mãe desbocada, em um debate frívolo com a juíza.

Há quem encontre semelhanças com títulos como Os Incompreendidos e O Garoto da Bicicleta, mas De Cabeça Erguida, falando em estética e conceito, é um filme completamente original. Emmanuelle Bercot, que na direção tem outros quatro filmes anteriores (Ela Vai, 2013, Os Infiéis, 2012, Backstage, 2005 e Clément, 2001), revela-se uma cineasta empenhada e talentosíssima.

O elenco é impecável. A melhor performance acaba sendo a do jovem protagonista Rod Paradot, na pele de Malony. Que atuação, rapaz! Rod entrega um desempenho autêntico e, a cada cena, chocante e extremamente vibrante. Difícil não ficar impressionado com esse promissor artista, que lembra um pouco a performance de Antoine Olivier Pilon em Mommy. Em sequência, vem a performance de Benoît Magimel, tremendamente versátil. Também são destaques a Sara Forestier e a Catherine Deneuve, excepcionais.

Diversas cenas do filme são inesquecíveis e gloriosas, mas eu destaco três sequências que me deixaram arrasado e que acabam sendo as melhores do longa: a em que Malony ataca uma mulher grávida no reformatório e sua mãe quase o quebra na pancada (é a cena mais tensa do filme todo). A cena de sexo de Malony e Tess no reformatório, também um pouco tensa (quando Malony encontra o amor -- é o amor que, no final das contas, acaba salvando ele), e a sequência final (impossível não conter o sorriso). Ah, a sequência final é suspirante. Que coisa boa ver o resultado satisfatório do trabalho da juíza... Cá entre nós, na realidade as coisas (geralmente) não são bem assim, mas é bom ver um final feliz só pra lembrar que ainda existe esperança. Consagrado, De Cabeça Erguida é um filme memorável, bem-feito, atores excelentes, e uma diretora/roteirista competentíssima. Um filme importante, necessário e que faz a gente pensar e questionar sobre diversos quesitos que fazem-se presentes nos tempos atuais.

P.S.: Que título mais engraçado esse em francês, hein? rsrs

De Cabeça Erguida (La tête haute)
dir. Emmanuelle Bercot - 

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