terça-feira, 24 de maio de 2016

Crítica: "A GAROTA IDEAL" (2007) - ★★★★


Da primeira vez que vi, em 2014, tinha ficado um pouco em dúvida no que diz respeito à qualidade e aos valores fílmicos de A Garota Ideal, talvez por ter encarado o filme exageradamente como uma comédia, o que me fez deixar de lado a seriedade da proposta e da história que o filme aborda. Pra falar a verdade, interpretei o filme de forma diferente da primeira vez que vi, e creio que isso teve influência direta na minha compreensão e digestão do longa. Especialmente o final. Na primeira vez, o final ficou muito esquisito, sem sentido pra mim e muito bobinho. Desde então, vinha sentido essa necessidade de rever o filme, com muito interesse, embora me faltasse "coragem" ou disposição para fazê-lo. Aproveitei o frio e decidi revê-lo há algumas semanas. E gostei pra caramba, até mais do que da primeira vez. Mas vale lembrar que eu era um cinéfilo completamente diferente do cinéfilo que sou hoje há dois anos... Tinha uma outra cabeça pras coisas, uma visão completamente distinta da que possuo atualmente, principalmente em relação aos filmes. 

Mas, vejam se eu tenho culpa de ter interpretado errado o filme, com base em sua sinopse: um rapaz adulto, solitário e muito tímido chamado Lars arruma uma namorada. E, para a "surpresa" de todos, a namorada do homem é uma boneca inflável chamada Bianca. E o legal do filme está justamente na maneira que você interpreta essa história, e a proposta que o filme entrega. De uma forma ou de outra, não dá pra não ficar minimamente curioso com um filme desses e com uma sinopse tão singular, inédita, digamos. 

Ryan Gosling, um ator que eu gosto bastante, ainda que não tenha visto muitos filmes estrelados por ele, na melhor atuação de toda a sua carreira. Bem estranho a Academia ter deixado ele de fora dos indicados a Melhor Ator em 2008 por um filme tão oscarizável como A Garota Ideal, que até faz o estilo do Oscar e por tamanha performance, tão exímia. A única indicação do filme ao prêmio, no entanto, foi na categoria de Melhor Roteiro Original, indicação mais que justa, levando em conta a potência e a importância do roteiro de Nancy Oliver para o longa. É basicamente a essência de A Garota Ideal. Emily Mortimer, atriz de ouro, atua como a cunhada gestante de Lars, que vive insistindo para que ele tome café ou simplesmente faça uma visita a ela e seu irmão, praticamente vizinhos dele, embora o rapaz sempre ignore os convites dela, por timidez. Aliás, o desempenho dela no filme é excelente. Esse foi o primeiro filme que vi com ela, muito embora tenha sido ao ver Match Point que instantaneamente virei fã da moça. Não creio que a atuação dela aqui seja lá algo do tipo Oscar ou grande performance, mas a presença dela agrada bastante, até porque a Emily é uma figura demasiadamente simpática, não importa em qual filme esteja.

Quem merecia uma indicação na verdade era a sempre excepcional Patricia Clarkson, na pele da psicóloga/médica de Lars. Também sempre gostei muito da Patricia e acho que ela é uma intérprete digna de nota, realmente fenomenal. Pra completar, a participação desses três atores em A Garota Ideal, atores que eu adoro de coração, já é uma coisa bem especial de se ver, totalmente maravilhoso. Ah sim, antes que eu esqueça, outra participação notável é a da graciosa Kelli Garner, que faz uma colega de trabalho de Lars que tem uma queda por ele. Me lembro que fiquei apaixonado pela beleza enfeitiçante dela em O Aviador, no papel de Faith Domergue, ainda que ela só tenha duas ou três cenas no filme todo, uma delas tentadoramente sensual,

Acho que é um filme que merecia mais atenção, mais compensação do que recebeu. Até porque se trata de um filme, lá no fundo, bem importante. Até dentro do gênero, já que renova o estilo comédia romântica com uma abordagem distinta e complexa para o que o gênero está acostumado a abrigar. E o lado cômico de A Garota Ideal paira justamente sobre a grande ironia que a trama manipula, um cara namorar uma boneca inflável a fim de fugir de relacionamentos incompletos e irregulares, a emular a "relação perfeita", a "ilusão" do relacionamento ideal que a sociedade espera de um casal nos dias de hoje. Afinal, não há um relacionamento perfeito. Essa ótica tanto critica os relacionamentos e os ideais de uma relação perfeita quanto analisa a superficialidade e a instabilidade da vida amorosa das pessoas nos tempos modernos e da dificuldade humana em se relacionar. É essa ótica que serve de base e fortalece A Garota Ideal, e o firma como um filme esteticamente essencial, e que em tantas coisas reflete no mundo dos relacionamentos e na maneira que as pessoas encaram relacionamentos e se relacionam nos dias de hoje. Muito bom. 

A Garota Ideal (Lars and the Real Girl)
dir. Craig Gillespie - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário