Olha, pra falar a verdade, eu até que gostei um pouco de Dois Caras Legais, viu? A princípio, pelo que eu estava vendo do que o povo estava achando do filme, minha impressão era a de que fosse uma comédia bem babaca. Muito pelo contrário. Dois Caras Legais chega a ser até divertido, de certa maneira. Não chega a ser um grande filme, mas é engraçado, bem-feito, tecnicamente caprichado. Ou seja, não tem como falar que é um filme ruim, mesmo com falhas. Talvez, se eu não fosse tão enjoado com humor negro, teria gostado mais.
Ryan Gosling e Russell Crowe revelam-se uma dupla extraordinariamente talentosa, dona de uma química genuína. As atuações deles são excelentes, memoráveis, brilhantes. Gosling e seu jeitão maluco beleza e Russell Crowe, ator com quem eu não sou muito familiarizado e na maioria das vezes não possuo empatia, me surpreende com um personagem durão e ao mesmo tempo bonachão. Em Dois Caras Legais, Gosling e Crowe interpretam dois detetives no rastro de uma garota chamada Amélia. Inicialmente, um estava procurando ela (Gosling) e o outro havia sido contratado pela moça para manter o cara que estava a perseguindo longe (Crowe).
Shane Black, mais famoso pela sua carreira de roteirista, se aventura, pela terceira vez, na direção de um longa-metragem com Dois Caras Legais. Seus filmes anteriores foram Homem de Ferro 3, que eu tive a chance de conferir no cinema há alguns anos quando estreou, e Beijos e Tiros, que estreou no Festival de Cannes 2005. Aliás, Dois Caras Legais também estreou esse ano fora da competição na Croisette, onde foi tanto elogiado quanto massacrado pelos críticos.
Como eu disse, eu achei o filme bastante divertido. E nada mais que isso. Poderia ser melhor? É claro. Mas eu acho que está de bom tamanho. A direção de Shane Black é dedilhada, competente, irreparável. Em Homem de Ferro 3 a direção dele era um ponto alto. Pode-se dizer a mesma coisa quanto a Dois Caras Legais. O roteiro é potencialmente bem estruturado. A narrativa parte de uma premissa curiosa, audaciosa, perspicaz. A trama é inteligente, muito bem escrita, com um desfecho maravilhoso e sacadas sensacionais. O humor negro, escrachado e sem-vergonha, é recorrente.
Destaque para a fotografia estilosa de Phillipe Rousselot, que consegue recriar com perfeição a agitação e o astral dos anos 70 sem se prender a clichês visuais, dispensando exagerados contrastes de cor ou ângulos contumazes e pouco criativos, certas vezes demasiadamente desnecessários para a arquitetação de uma fotografia sadia, dependendo do tipo de filme. Manipulando artifícios inovativos, recursos requintados e posicionamentos ousados, Phillipe elabora um campo visual astuto, equilibrado e elegante.
Dois Caras Legais carrega a aparência de um filme de ação policial dos anos 70 misturado com o clima e o charme de um pastelão despojado, com um toque a mais de suspense comichão. É, ao mesmo tempo, a tardia revelação de Shane Black como um diretor sob controle e a manifestação de um elenco de astros e iniciantes excepcionalmente sagaz e inspirado, com especial atenção à genial dupla de protagonistas em ótima forma.
Dois Caras Legais (The Nice Guys)
dir. Shane Black - ★★★
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