terça-feira, 5 de julho de 2016

Crítica: "MARIA" (2005) - ★★★★★


Abel Ferrara é um diretor subestimado. Se tem algo de que estou certo neste mundo é de que Abel Ferrara é um cineasta rejeitado, embora seja dono de grandes pérolas do cinema, como este Maria, o perspicaz Pasolini, visto ano passado, o subestimadíssimo Bem-Vindo a Nova York, com Gerard Depardieu, Go Go Tales, O Rei de Nova York, Vício Frenético e outros mais. É um nome que deveria ser tratado com mais carinho e atenção. Maria, que é seu melhor filme (dentre os que eu vi até o momento) prova que ele tem todas as qualidades e o talento de um verdadeiro mestre do cinema. Posso estar exagerando, mas eu não arriscaria dizer que estou exagerando. Afinal, há de se concordar: Abel Ferrara é um diretor fenomenal. Maria é um exemplo disso, e ainda vai além.

Abel também prova que é capaz de mexer com a gente de maneira tão singular que é quase inexplicável. É dele também a maestria em dirigir espetacularmente um elenco estelar, que traz dos intérpretes mais talentosos e competentes do nosso tempo, como a inegavelmente triunfal Juliette Binoche, brilhando no papel de uma atriz que decide deixar a profissão de lado e conhecer mais de perto o universo religioso; Forrest Whitaker, numa performance excepcional, como um apresentador de TV arrependido pelos seus erros e tentando buscar a redenção; Matthew Modine como um diretor de cinema que só pensa em auto-promoção; sem falar nas participações das lindas Marion Cotillard e Heather Graham. 

Maria é sobre nossas dúvidas, nossos questionamentos, o vazio que nos consome, a falta de esperança no mundo e a salvação através da crença, o poder da fé em transformar e reestruturar a nossa esperança num amanhã melhor, a transformação, a incerteza diante da mudança e da tentação. Por outro lado, é (indiretamente) sobre a força e o poder da sétima arte (pensem nisso!). Maria nos faz redescobrir e refletir sobre o mundo que nos cerca, os medos que nos prendem, o desejo que nos engrandece e engana. Achei interessante a proposta do diretor em "globalizar" o nome Maria em diversos sentidos, sendo o título do filme em inglês "Mary", o nome da personagem da Juliette "Marie Palesi", e a tradução para o título nacional "Maria", e por aí vai. Seria esta uma proposta subliminar, ou ele apenas quis metaforizar a globalização, como acontece em outros certos momentos do filme?

Pretendo rever o filme em breve. Aliás, acreditem ou não, demorei 3 dias para assistir esse filme inteiro, que tem uma duração de mais ou menos 1 hora e 20 minutos. E a questão não é nem impaciência. Como eu sou uma pessoa muito sonolenta e preguiçosa (até demais da conta), ficar deitado é sempre um convite ao sono. E, nos dias em que o sono me pega de jeito, se bobear até sentado eu durmo. Por isso, quando fui ver sexta, passados os 20 minutos do filme, não resisti a tentação e acabei dormindo. Mas, fiquem calmos, não é porque o filme dá sono ou coisa do tipo que eu acabei dormindo, mas é que isso acontece comigo com qualquer coisa mesmo. Se eu estiver vendo um filme do 007 (quem me conhece sabe que sou fã das aventuras do agente um bocado e que não paro pra nada quando eu estou assistindo um filme da saga), à noite e debaixo dos cobertores é bem provável que eu vá dormir. Sábado vi só um pedacinho, até porque fiquei o dia inteiro fora e também fui conferir outro filme no cinema. A sessão só foi terminar domingo -- à noite -- já que eu passei também o dia inteiro fora no apartamento do meu irmão. Maria não é o tipo de filme que dá sono, e sim o exato contrário disso. Maria é interessantíssimo. Provoca, ousa, instiga, questiona, maravilha e fascina.

Depois de Maria, eu fiquei até mais curioso em conhecer os outros longas da filmografia de Ferrara, já que são poucos os filmes que vi dele. Talvez alguns não sejam tão tocantes ou profundos como Maria, mas sempre há um tesouro perdido tão tocantes ou profundos da mesma forma de Maria, mas é muito provável que o sr. Ferrara tenha mais acertos e tesouros escondidos em sua gigantesca filmografia. Só sei que Maria foi uma experiência magnífica. Já baixei meu próximo filme do cineasta, Go Go Tales, com Willem Dafoe e Asia Argento, que verei muito em breve.

Maria (Mary)
dir. Abel Ferrara - 

2 comentários:

  1. A carreira de Abel Ferrara é irregular, mesmo sendo um diretor original.

    No início de carreira ele chegou a ser comparado com Scorsese por causa do estilo visceral e por filmar em Nova York, mas sua carreira passa longe na comparação.

    Este "Maria" eu ainda não assisti. Na minha opinião, seus melhores filmes são "Vício Frenético", "O Rei de Nova York" e "Cidade do Medo" que ele dirigiu no início dos anos oitenta.

    Estou linkando seu blog nos meus favoritos.

    Abraço

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  2. Poxa, valeu, Hugo! Depois vou dar uma passadinha lá no seu blog!

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