Irônica a minha relação com os filmes de
Jonathan Glazer. Sexy Beast, seu
primeiro longa-metragem, é o último que vi dos três trabalhos dele até a data,
enquanto Sob a Pele, seu filme mais
recente, foi o primeiro que vi. Mas o meu favorito é o do meio, Reencarnação. Sexy Beast, este aclamado thriller que lançou Glazer no cinema (antes
ele era mais conhecido como diretor de clipes musicais) é um filme ótimo,
bastante interessante, mas é o que eu menos curti dentre os outros dois já
citados da filmografia dele.
Entretanto, o filme tem sua importância.
Provavelmente é a mais “compreensível” das três produções de Glazer. Sexy Beast segue uma linha narrativa
estrutural e abrange recursos mais usuais, convencionais, óbvios e, quanto a
esse ponto, não é tão complicado de se entender caso comparado a Reencarnação ou Sob a Pele, seus dois filmes seguintes, que apresentam um certo
grau de complexidade em suas narrativas (em especial o último, que chega a ser,
em certos momentos, até surrealista e metafísico). O curioso é que esses dois
trabalhos são justamente superiores a Sexy
Beast.
É claro, o que esses três filmes têm em
comum? A direção excepcional e exótica de Jonathan Glazer. Aliás, uma certa sequência
de Sexy Beast, uma bem perto do fim,
que intercala uma cena brutal de assassinato com uma outra cena um pouco
estranha em uma sauna em Londres é tão bem editada e dirigida que a gente fica
paralizado, chocado. Talvez seja a melhor cena do filme todo.
Ben Kingsley está fenomenal. Uma das
performances mais notórias e excelentes da carreira do ator. Em Sexy Beast, Ben interpreta um cara da
máfia que vai fazer visita para um mafioso aposentado na Espanha, a convite de
um novo “trabalhinho sujo”. Por outro lado, o homem aposentado (interpretado
eximiamente por Ray Winstone) não quer mais saber desses trabalhos, e quer
definitivamente estar livre de tudo relacionado ao seu passado na máfia – o que,
logicamente, enerva o personagem instável e explosivo de Kingsley – embora o
desfecho aponte para uma outra direção;
Achei que gostaria mais de Sexy Beast. É um filme com várias cenas
ótimas, mas que frequentemente me cansou e fadigou, embora tenha uma duração
apressada de um pouco menos de 90 minutos (evidente surpresa para um filme de
ação/máfia). Entre os méritos técnicos do longa, estão a edição preciosíssima,
a fotografia saturada e energética e a trilha sonora imprescindível de Roque
Baños.
Sexy Beast
dir. Jonathan Glazer - ★★★★
Muito boa crítica.
ResponderExcluirObrigado, Ana.
ExcluirO ponto principal do filme é a interpretação de Ben Kingsley.
ResponderExcluirExiste uma história de que ele se baseou em seu próprio avô para criar o personagem. Se isto for verdade é provável que até hoje ele tenha pesadelos com o sujeito.
Abraço
Então, Hugo, eu li algo sobre essa inspiração na figura do avô dele no IMDB, mas achei que fosse um boato. Depois que vi o filme, fui atrás dessa história e, do jeito que o personagem é sinistrão em tela, imagine na realidade?
ExcluirKingsley é um ator fenomenal. Ele raramente desaponta. Mesmo em filmes menores como Learning to Drive (2014) ou Fatal (2008), ambos da diretora espanhola Isabel Coixet, ele está fabuloso.
Abraço, Hugo!