domingo, 9 de outubro de 2016

Crítica: "APENAS UM BEIJO" (2004) - ★★★★


A carreira do cineasta Ken Loach é bastante sólida. O homem, que é conhecido por filmes focados em críticas à sociedade britânica e temas de cunho socialista e trabalhista, vez ou outra (e muito raramente, digamos) foge dessa cartilha adentrando outros caminhos, mas ainda com um pé na vértice socialista que tanto demarca o seu estilo independente e simplista de fazer cinema.

É o caso de Apenas um Beijo, que é uma comédia romântica centrada em um casal de apaixonados: um paquistanês e uma irlandesa. O filme é perfeitamente sagaz na representação desse contraste cuja simbologia faz referência às diferenças culturais e como isso afeta a relação amorosa dos personagens principais, ainda mais quando o rapaz está comprometido com uma outra mulher, escolhida pela sua família tradicionalista. 

O interessante de Apenas um Beijo é que Ken consegue fazer com que o espectador compreenda e se sensibilize tanto com o casal quanto com a família do cara paquistanês, sem fazer muito esforço. O filme em si consegue traçar um impasse, provocando o público e o desafiando a interpretar a situação, a aceitar a ausência de julgamentos para o que acontece.

Se por um lado o filme consegue elaborar uma trama repleta de riqueza narrativa e caracterização genuína como ninguém mais consegue além de Loach, do outro o filme corre o risco de cansar o espectador repetidas vezes com a enfatização e reconstrução dos detalhes mais pífios. A conclusão irregular também pode causar estranhamento a quem não está familiarizado com o estilo de Ken Loach.

A narrativa disseca duas perspectivas, dois olhares totalmente diferentes e os engloba em um só – talvez essa seja a definição conclusiva mais propícia do filme, mas também vale considerar que o final aberto é uma mera questão de respeito e compreensão ao que ambos os lados estão defendendo, ou até mesmo apenas a representação de que não existe uma resolução ideal ou justificada para essa trama tão difusa – para nos fazer entender os pontos de vista e seus propósitos distintos.

Ken Loach e seu estilo cinematográfico dotado de inerência sempre centrado em riquíssimos retratos ideológicos, que por vezes representam não só o que acontece dentro do Reino Unido ou da Irlanda, mas que também acabam por se universalizar. Seus filmes retratam histórias cabíveis, construções humanistas de contrastes ideológicos e padronistas seja de épocas passadas (Ventos da Liberdade, Jimmy’s Hall, Terra e Liberdade) ou do presente (Pão e Rosas, Mundo Livre, A Parte dos Anjos) que, de uma forma ou de outra, fazem-se necessários, essenciais, importantes para refletir sobre a sociedade.

Ademais, a relevância de Apenas um Beijo, que até agora é seu melhor filme para mim, é inestimável. Ken Loach é um dos maiores cineastas. Seu cinema é a arma da reflexão, do conhecimento e da representação. 

Apenas um Beijo (Ae Fond Kiss.../Just a Kiss...)
dir. Ken Loach - 

2 comentários:

  1. Esse filme eu peguei em um tracker fechado, mas há torrents e legendas disponíveis na web. O DVDRip pode ser encontrado no site The Pirate Bay (só pesquisar o nome do filme em inglês lá) e a legenda aqui: https://www.opensubtitles.org/pt/subtitles/3443278/ae-fond-kiss-pb

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